XVII

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Ninguém jamais esqueceu aquele dia no mundo dos sonhos. Aquele dia sombrio e escuro. Aquela dor interminável e agonizante. Aquelas sombras majestosas que abraçaram a Capital.
Quem pode esquecer da morte? Quem pode esquecer do passado? A vida se baseia no que queremos ser e no que somos. Somos consequência do nosso passado, resultado de nossos atos. Queremos ser nosso futuro. Mas o futuro não existe. O futuro são os nossos sonhos e desejos. E não havia mais futuro para Sarah e Julian. Nem para o amor.
Julian correu como louco com a feiticeira Lunna atrás de si pelo labirinto. Gritava a todo momento o nome de Sarah, e tinha uma espada nas mãos.
Todos haviam ouvido as sirenes, Sarah, Dinny, e é claro o rei. Ele observava tudo com um ódio inexplicável. Olhava enquanto aquele humano que considerava desprezível corria em direção àquela que ele amava.
Sarah sabia que aquele seria o pior dia de todos, ela não tinha forças nem para andar. Sabia que o bebê estava prestes a nascer, e Dinny também.
Estavam todos desesperados.
-Eu vou morrer.-disse Sarah finalmente caindo no chão e chorando - Salve ela.
Dinny balançou a cabeça.
-Ela?
-É uma menina.-disse ela com um pequeno sorriso no rosto.-Eu sei disso.-sua voz era um sussurro.
-Vamos levante-se Sarah! Estamos quase lá!-disse Dinny em desespero ao ver o estado de sua amiga.
-Não vou. Ela vai nascer a qualquer momento Din, ela vai chegar...e não vou me entregar àquele desgraçado, tampouco entregarei ela.
Dinny balançou a cabeça e se ajoelhou diante dela.
-Sarah, você só precisa sair do labirinto, eu salvo vocês duas. Eu prometo. Quando ela nascer eu a levarei até Julian, e depois você. O rei jamais vai procura-la novamente...
-Não prometa o que não pode cumprir.-disse ela fraca. Mas então ouviu uma voz. A única voz que tanto amara.
-Julian!-gritou.
Julian apareceu no fim do corredor escuro, tinha mais alguém do seu lado ,mas ela não tinha olhos para mais nada além dele.
Sarah juntou suas últimas forças para levantar e correr em direção a ele.
Ele a abraçou e a beijou. Sarah chorou por tudo. De alegria de vê-lo, de medo do que o rei faria com ele se o encontrasse, de raiva.
-O quê você está fazendo aqui?!-gritou ela.
Ele olhou no fundo dos seus olhos.
-Eu nunca ia deixa-la.-Então olhou para ela e percebeu.-Sarah...você está...
-É uma menina.-disse ela sorrindo alegremente.
Dinny estava abraçado a feiticeira Lunna.
-Então era ele.-disse Julian.
Lunna sorriu, e olhou para Sarah.
-Você é Sarah.-disse a feiticeira com admiração.-Sou Lunna. Sou irmã de Lanny.
Sarah arregalou os olhos e seu primeiro impulso foi arrancar o pescoço da feiticeira. Julian também a encarou chocado.
-Você nunca me disse isso!
-Mantenham a calma os dois ,por favor. -Dinny interviu -Lunna não é como a irmã. Ela ajudou você não foi Julian?
Os quatro se encararam por um tempo. Sabiam que haviam se tornado amigos de certa forma. Mas não podiam sentir mais nada além do medo naquele momento.
Uma legião de monstros surgiu de todos os lados deles e Sarah desmaiou caindo nos braços de Julian.
Aí começou o caos.
Ambos os feiticeiros lutavam para sair dali, Julian carregava Sarah e a espada lutando com toda suas forças contra as bestas que pulavam nela.
Os quatro chegaram ao fim do labirinto apesar de empecilhos
Não só eles como todos.
Lanny estava lá, esperando Sarah para mata-la. O rei também.
Finalmente quando os quatro saíram do labirinto, se depararam com uma legião de soldados de frente para eles, Lanny estava escondida e somente sua irmã a notou. Sarah havia acordado e chorava.
O rei sorriu. Julian o encarou com ódio.
-Venha a mim minha rainha.-disse ele triunfante.-Liberte-se desse inseto desprezível.
Sarah gritou. Um grito de dor e agonia.
Dinny entendeu imediatamente o que estava acontecendo.
-Vai nascer.
O rei olhou perplexo enquanto Lunna agachava-se com Sarah no chão, e Dinny fazia uma barreira em volta delas.
Ele se sentiu completamente enganado e traído. Ela estava grávida aquele tempo todo e ele não soubera. Grávida de um humano, de Julian.
Lanny não achou a mesma coisa. Ela foi invadida por um ódio mortal e cruel, e então surgiu das sombras, revelando-se. Achava que o bebê era filho do rei. Seu rei.
Julian percebeu a fúria no olhar dos dois e sabia o que planejavam.
Ele correu na direção de Aurum com a espada erguida e tudo depois disso foi um borrão.
O rei e Julian lutavam com suas próprias vidas movidos pelo amor a mesma mulher e o ódio que sentiam um do outro. Os soldados reconheceram Lanny e entraram em uma batalha contra ela, enquanto outros iam em direção a Sarah para pega-la. Dinny lutava com todos eles. Lunna fazia o possível para salvar duas vidas. Mas sabia que estava tudo perdido.
Aquele era um lugar de caos, desespero, ódio, dor, e tudo de ruim que se pode ter. Nuvens negras surgiam por toda a Capital, os habitantes temiam pelo futuro, e apesar de não saber o que se passava no castelo, eles sentiam tudo indo por água abaixo.
Em meio a todo esse caos e agonia nasceu a pequena garotinha, fruto do único amor são e saudável de toda essa história.
Infelizmente todos sabiam o fim de Sarah.
Ela olhou para a pequena que sorria em seus braços, calma, e se perguntou como era possível ficar em paz no meio de todo aquele caos.
Lunna a olhou triste e fraca.
-Obrigada.-sussurrou Sarah para ela.
A feiticeira assentiu e derramou uma lágrima de tristeza. A lágrima de feiticeiro tem poder. Nesse instante, fez com que Sarah se sentisse em paz.
Ela olhou para o lado, para Julian ensanguentado que desferia golpes no rei, e para o rei que mal havia se machucado e brincava com Julian. Ela tentou entender os dois, ver o lado bom do rei. Tentou sorrir uma última vez. Então olhou para a feiticeira.
- Salve-os...-disse Sarah -Pegue-a. A pequena Sophie.-Disse Sarah beijando a garotinha.
A feiticeira a tomou de seu colo, no mesmo segundo em que Sarah deu seu último suspiro. E então estava acabado.
Sarah estava morta.
Dinny que ja havia derrubado mais soldados do que podia contar olhou para o corpo de sua amiga no chão e correu em sua direção.
O rei e Julian também notaram. Julian pareceu ganhar mais forças e desferiu um golpe no estômago do rei, que caiu no chão.
Mas ambos correram para Sarah.
-Sarah! Não,não...não...Sarah...-Chorava Julian.
O rei apenas encarava ela. Com um olhar desolado. Sem derramar uma única lágrima.
O céu ficou negro, a chuva caiu em uma tempestade gritante. Tudo ficou preto e branco.
Lunna avisou Dinny que deviam tirar Sophie de lá. Ele assentiu.
Então juntando todas suas forças , aproveitaram o momento de distração do rei para transportar Sophie, Julian e o corpo de Sarah para longe dali.
O rei pulou neles mas Lanny o impediu, e eles conseguiram fugir.
Ele tentou mata-la com suas próprias mãos.
-A culpa é sua!-gritava.-Sua maldita, vou mata-la da pior maneira possível, tortura-la até esquecer seu próprio nome!
Mas ela simplesmente riu.
-Não vai. Por quê aquela era a filha de Sarah, uma menina, e filha de Julian. Não sua. Mas o meu filho, é seu filho.
Ele a encarou por um tempo com ódio mortal.
-Você sabe onde é o lugar dos mentirosos Lanny?-Perguntou entre dentes.
-Sei onde é o meu lugar.-Disse rindo como louca.-Diga olá a sua nova rainha.
Então o rei caiu, na frente de seus soldados, e nos braços de uma feiticeira.

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