VI

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Sophie costumava lembrar da maioria de seus sonhos. Eles nunca eram tão claros, geralmente, ela não via rostos, mas sabia quem eram as pessoas em seus sonhos.
Dessa vez, ela estava em um lugar escuro, sentada em uma cadeira esperando alguém. Ela olhou em volta, era uma casa antiga, de madeira, com os móveis empoeirados. Mas o que ela estava fazendo ali? Quem estava esperando? Como em resposta, uma mulher vestida de preto surgiu andando em direção a Sophie. Como sempre Sophie não viu seu rosto, mas dessa vez, não soube quem era. Tudo o que via de seu rosto, eram olhos escuros, de um tom roxo. Sophie tentou levantar mas estava presa a cadeira. Ela sentiu a risada da mulher, quando uma nuvem negra tomou conta do lugar. Sophie se sentiu sufocar. Ela começou a tossir e caiu no chão. Tudo ficou escuro. Não havia nada nem ninguém. Sophie não estava mais sufocando. Tudo ficou em silêncio.
Abra os olhos. Ela ouviu uma voz dizer.
Então abriu.
A primeira coisa que Sophie viu foi a grama, escura e verde. Então ela percebeu que estava deitada.
Ela levantou e olhou ao redor. Estava em um lugar cercado por muros altos. O chão era a grama em que ela pisava, como se fosse uma espécie de jardim. Haviam algumas árvores na parede oposto ao lado em que ela estava, árvores de folhas azuis e roxas, mas não havia fruta nelas. Ela olhou para cima e viu que o céu era de um verde azulado, sem nuvens. No final do muro acima, ela pode ver pontas afiadas saindo do muro.
Sophie franziu o cenho. Estava sonhando? Por quê o sonho estava tão claro? Parecia tão real.
Ela sentiu um calafrio percorrer sua pele. Que lugar era aquele? Estava com uma sensação ruim. Ela olhou ao redor novamente e viu que havia um corredor do outro lado do muro. Sophie hesitou por um momento. O que estava fazendo? Ela sentia que havia algo errado com aquele lugar. Mas não havia saída, a não ser pelo corredor. Sophie seguiu até lá e olhou para dentro do corredor. Era escuro, e ela podia sentir o frio emanando dele, mas não podia ver seu fim.
Ela suspirou.
-Vamos lá.
Ela estava prestes a entrar no corredor, quando ouviu um barulho atrás de si.
Ela congelou no lugar. Aquilo não podia ser um sonho. Quando ela virou, se deparou com alguém jogado no chão perto da última arvore.
-Quem é você?-perguntou tentando esconder o medo em sua voz.
Um garoto se ergueu com a ajuda de um cajado nas mãos. Ele estava vestindo um terno cinza com desenhos azulados,como palavras em uma língua estranha , calça preta , e por baixo do terno, um colete azul escuro. Sophie reconheceu imediatamente o garoto de longos cachos dourados, postura arrogante, e lindos olhos verde azulados. Porém seu rosto estava uma mistura de raiva e cansaço. Ele arfava e tentava se manter em pé apoiado no cajado se cobre. Então Sophie percebeu que o cajado possuía desenhos como os do terno do garoto, e era como se brilhasse, sua cor estava mais viva, e não era mais o cobre apagado da última vez que o vira.
O garoto sentou, ainda arfando, em baixo da árvore de folhas azuis, e encarou Sophie.
-Sua...garota...arf...estúpida! -disse ele após um tempo, ainda arfando. Sua voz melodiosa soou severa.
Sophie ficou sem reação. Ela não sabia por que ele estava tão furioso com ela. Não sabia o que havia feito de errado. E, por que, se estava sonhando, via o rosto dele com tanta clareza.
-Do que você está falando?-perguntou ela confusa.
Ele respirou fundo, e depois de recuperar o fôlego ,levantou.
-Você é muito burra! Completamente idiota! Pôs tudo a perder com sua curiosidade infantil e idiota!
Sophie sentiu como se tivesse levado um tapa na cara.
-Você pode , por favor, me dizer do que está falando? Seu rude!
Ele ergueu uma sobrancelha.
-Você abriu o portal! Você leu o maldito livro!
-Você só pode estar maluco! Não sei do que está falando.
Sophie não sabia do que o garoto estava falando. Por que estava tendo aquele sonho?
O garoto olhou ao redor reprovando tudo o que via.
-Tudo em vão.-disse ele , mais a si mesmo.
Sophie balançou a cabeça.
-É só acordar...vamos Sophie,acorde!-ela fechou os olhos, na esperança de quando abrir, estar em seu quarto. Mas quando os abriu, um par de olhos verdes a encarava.
Ela franziu o cenho.
-Por que não acordo?
O garoto apenas a encarou por um tempo, e sua expressão se suavizou.
-Vamos.-disse, e andou até o corredor.
-Vamos? Para onde nós vamos?
Ele a encarou de volta sério.
-Para o labirinto.
Então seguiu em direção ao corredor determinado, o cajado em sua mão, mas parou novamente na frente dele.
-Se eu fosse você, não ficaria aí me encarando, e me seguiria. Não é seguro ficar no mesmo lugar por muito tempo aqui.
E dessa vez, o garoto entrou no corredor escuro, enquanto Sophie observava, seus cachos dourados e iluminados sumirem na escuridão.
Mas ela o seguiu.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora