VIII

18 3 0
                                    

Arthur. Então o nome do garoto era Arthur. Sophie queria fazer muitas perguntas, mas ele não respondia a nada. Apenas permanecia andando e os guiando pelos corredores frios e sombrios daquele lugar. Não haviam encontrado nem uma criatura novamente.
Sophie estava começando a se sentir cansada. Ela gostaria de parar e descansar em algum lugar. Fechar os olhos e dormir... Não. Disse uma voz em sua cabeça. Ela estremeceu. O que estava pensando? Ja estava dormindo. Apesar de ser um sonho bem esquisito. Ela franziu o cenho. Estou mesmo? Perguntou a si mesma. Aquilo parecia muito real. Os corredores, a criatura que os atacara, Arthur, aquele céu esverdeado, o frio e a sensação ruim. Se ao menos Arthur respondesse a suas perguntas! Era o mesmo que caminhar com uma estátua ambulante. Muda, quieta e sempre com a mesma expressão.
Ela estava andando quase ao lado dele no corredor, e podia ver seus olhos atentos ao caminho que seguiam.
Ela resolveu então quebrar o silêncio.
-Arthur.-disse.
Ele continuou andando, mas ela pode ver que seus olhos a encararam por um segundo.
-Sou Sophie.-disse ela sorrindo. E só naquele momento percebeu que havia sido mal educada. Não havia se apresentado! Ele continuou andando, mas dessa vez,respondeu.
-Eu sei.-sua voz soava distante.
Ela não ficou tão surpresa com o fato de ele saber seu nome.
-Você trabalha para meu pai.- Não foi uma pergunta, mas ele assentiu mesmo assim.
-Sim.-disse.
-Hum...-Essa era uma pergunta que sempre quis fazer ao seu pai, era uma dúvida antiga, mas finalmente ela poderia ter a resposta.- O que... O que você, hum... Vocês fazem? Você e meu pai, quero dizer. Ele nunca me disse nada a respeito do trabalho sabe, mas é por falta de tempo...eu acho que se nosso tempo juntos fosse maior ele...
Arthur parou súbita e abruptamente . Por um segundo ela achou que ele fosse pular nela e gritar novamente. Mas ele permaneceu calado olhando para frente.
Sophie olhou para os lados e viu dois corredores bem a sua frente. Um deles tinha uma espécie de luz azulada tremeluzindo na parede.
Arthur andou lentamente até ele e parou na entrada.
Ele olhou para Sophie, e então para o céu. Sophie fez o mesmo, e percebeu que ele estava tomando um tom mais escuro de verde. Estava anoitecendo.
-Você está cansada?- Perguntou Arthur, e ela o encarou.
-Sim.
Ele assentiu e virou para o corredor.
-Vamos por aqui.-disse.
Eles entraram no corredor. Era mais claro que os outros pelos quais haviam passado. E era curto. Logo chegaram no final. E dessa vez não havia outro corredor para seguir, nem um beco sem saída.
-Oh!-foi tudo o que Sophie pode dizer.
Estava diante de uma espécie de jardim. No centro havia um lago de águas cristalinas brilhando, e ela entendeu da onde vinha aquela luz azulada. O lago parecia planejado, pois sua beirada era cercada de mármore. Ao redor de todo o jardim, perto dos muros, haviam árvores azuis e roxas. No fundo, havia um banco branco, com desenhos como os da roupa de Arthur, com espaço para duas pessoas. Nos dois lados do banco, havia uma árvore de folhas roxas, com o caule cercado de rosas de vários tons azul e roxo.
-Que lugar é esse?-perguntou ela em um sussurro.
Arthur andou até o lago cauteloso. Então tirou uma espécie de faca de seu bolso interno no terno e afundou toda a lamina na água. E tirou, encarando ela por um tempo, até guardar novamente.
Sophie franziu o cenho.
-O que você está fazendo?
-Checando.-disse com voz autoritária.-Você está com sede?
Ela assentiu.
Ele se abaixou e pegou um pouco de água na mão e bebeu.
Sophie foi até o lago e fez o mesmo.
-Nossa...essa é a melhor água que ja bebi.-disse. E era verdade. Tinha um gosto tão bom.
E eles ficaram ali, bebendo daquela água por um tempo.
Depois Sophie levantou-se e foi até o banco. Sentiu como se estivesse sentada em uma cama confortavelmente macia.
Arthur sentou do seu lado, pousando o cajado ao lado do banco.
Ela o encarou por um tempo, seus olhos verdes azulados estavam mais azuis que nunca. O cabelo dourado jogado para trás, cujo o último cacho estava quase no ombro. As maçãs perfeitas do rosto, e sua postura, iluminado pela suave luz vindo do lago ... Era quase angelical. Ele fechou os olhos e recostou a cabeça no banco. As mãos sobre o peito e os pés cruzados.
Sophie olhou para frente. Ele era lindo. Mas por que tinha que ser tão...misterioso e arrogante?
O banco ficava de frente para o corredor. Ela imaginou que lugar seria aquele.
Arriscou outro olhar para Arthur, e se deparou com ele a encarando. Ele desviou o olhar. Mas ela não.
-Eu estou sonhando?
Arthur a olhou novamente.
-Não.
Sophie ficou confusa.
-Então...que lugar é esse? É algum tipo de brincadeira de minhas primas...
-Não.
Ela suspirou triste.
-Não me deixe assim, por favor. Me diga a verdade.
A expressão no rosto de Arthur se suavizou.
-Sophie...é uma longa história.
-Eu gosto de histórias.
-Sim, eu sei, mas dessa você não vai gostar.
Ela virou de frente para ele.
-Eu não me importo. Me diga a verdade!-sua voz soou selvagem.
Arthur a encarou por um tempo.
-Certo.-Sua expressão arrogante havia voltado.- Você já esta bem grande para entender.
-Entender o quê?
Ele suspirou.
-Sophie. Você sempre gostou de livros, histórias e fantasia. Você acredita que pode existir outro mundo além do seu?
Sophie olhou ao redor.
-Que lugar é esse?
-Esse, minha querida sonhadora-disse ele sorrindo-é o mundo dos sonhos.
Ela o encarou.
-O livro...
-O livro era um portal.
Ela balançou a cabeça.
-Como isso é possível? Eu estou ficando louca?
-Isso é real.-respondeu Arthur sério.
Ela assentiu.
-Então eu não estou sonhando.
-Não.
-E o que é o labirinto?
-O labirinto dos sonhos... Foi criado para aprisionar uma pessoa. A única saída leva ao...-ele se interrompeu.
-Leva ao...?-perguntou ela curiosa.
Ele olhou para frente por um tempo.
-Sophie... Eu sinto muito. -disse ele finalmente levantando-se.- Nós temos que ir.
-O que? Mas acabamos de chegar...e você disse que ia me contar a verdade! Toda a verdade!
- E vou. Mas agora temos que ir.-disse ele olhando para o corredor, sério. - Não é seguro ficar aqui por muito tempo.
Ele pegou seu cajado e foi até o corredor.
Sophie bufou, mas o seguiu.
Agora que sabia que não estava sonhando, queria saber tudo sobre aquele lugar. Por quê estava lá, quem havia colocado o livro-portal no seu quarto, e o que tinha no fim do labirinto.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora