XVIII

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-A partir daí, você pode ter uma idéia.-Arthur encarava Sophie com um misto de preocupação e tristeza no olhar.-Seus pais e você voltaram para o mundo humano. Sua mãe foi enterrada em um cemitério perto da mansão, e Julian mudou seu nome para o nome do pai, pois assim, se o rei resolvesse procura-lo, não o encontraria pelo nome. Ele seria agora um homem diferente, Leônidas Salvatore.
"No começo ele quis cria-la sozinho. Mas depois pensou no risco que corria, um pai solteiro criando sua filha. Muito óbvio. Tudo o que ele fez desde a morte de Sarah foi por você, Sophie. Ele casou-se com Maria por você. Ela sabia que ele tinha uma filha, mas casou-se mesmo assim, pelo dinheiro. Ele só queria que você tivesse uma mãe, e explicou para ela que sua mãe havia morrido em um trágico incêndio, e que precisava que você jamais soubesse. Maria não se importou com isso, creio que ela nunca tenha de fato feito o papel de mãe.
Dinny se remexeu na cadeira que tinha posto ao lado de Sophie. Ele narrara boa parte da história com Arthur, e imagens eram mostradas como se fossem lembranças na cortina de água.
-A feiticeira usou a poção do amor para enfeitiçar o rei, e se tornou a nova rainha. Arthur o príncipe. Eu e Lunna fomos perseguidos por muito tempo, até que conseguiram me pegar. Eu sabia que um de nós dois deveria ser pego para o outro ficar em paz. Esse era o nosso destino.-Os olhos do feiticeiro estavam opacos e distantes-Então eu me entreguei para ela ser livre. Deu certo. Lanny me jogou no labirinto me condenado a morar aqui, para sempre...feiticeiros são imortais. Bom, ao menos eles nunca mais a procuraram.
-Eu não vivia a melhor vida no castelo.-Continuou Arthur-Eu nunca conheci um mundo dos sonhos que não fosse repleto de sombras, nunca conheci um mundo onde não houvesse medo. O rei estava enfeitiçado pela minha mãe, mas não por mim. Ele me odiava, batia em mim quase todas as noites...minha mãe me protegia. Me tirava de suas garras sempre que possível. Ninguém sabia da existência de um príncipe no mundo dos sonhos, pois o rei podia sentir um falso amor enquanto olhava para minha mãe, mas lembrava do que sentia de verdade quando olhava para mim. Ódio. Eu vivia trancado dentro de meu quarto. Bom, então nasceram meus irmãos. Os gêmeos. Lucian e Lindolf. Eu tinha 7 anos quando nasceram. No começo o rei foi relutante quanto a eles, mas logo percebeu que eles eram sua imagem e semelhança. Maus até o último fio de cabelo, riam quando alguém se machucava, apreciavam a morte de inocentes como se estivessem em um banquete. Tinham sede de sangue. Minha mãe ainda cuidava de mim como nunca, e eu podia sentir que não gostava tanto dos gêmeos, já que eles pareciam negar afeto. A esse ponto, o rei os adorava. Eu vivia desolado em solidão. Até que conheci o labirinto.
-Eu ainda lembro quando aqueles enormes olhos azuis esverdeados e assustados apareceram na minha porta. É claro que não haviam mais tantos monstros no labirinto quanto antes, eu matei vários quando tentaram entrar aqui. -Havia um pequeno sorriso nos lábios de Dinny.
-Eu passei a visitar Dinny todas as noites e voltar para casa ao amanhecer. Até que um dia o rei descobriu. Ele trancou o labirinto, e me castigou.-A voz de Arthur ficou grave-Estava furioso de uma forma que eu não o via a anos. Eu tinha onze anos quando minha mãe morreu. Foi duas semanas depois de meu pai descobrir que eu visitava o labirinto.
"Na noite anterior, ela me chamou em uma sala diferente. A sala , onde se encontrava o espelho de água que servia tanto como portal como para observar o labirinto. Minha mãe contou-me a história de Sarah. Disse-me que era uma jovem humana inocente que se apaixonara pelo rei, mas infelizmente havia morrido no parto da única filha. Disse que o rei estava diferente, que sentia que seu fim estava próximo, e me pediu para nunca deixar outra rainha reinar se não ela, ao lado do meu pai."
Arthur fez uma careta ao dizer 'meu pai'.
-Bom, ela podia ser completamente mau com todos, mas não comigo. Ela nunca levantou a voz para gritar comigo, nem um dedo para me bater. Ao contrário. Dessa vez não foi diferente. Ela me disse para fugir, quando o pior lhe acontecesse, e para procurar você , Sophie, e nunca deixar meu pai a encontrar. Ainda assim, eu vi tudo. Sua morte. Eles estavam dormindo em sua suíte real, quando o rei levantou com uma fúria inexplicável, e puxou uma adaga de uma gaveta, apunhalando-a pelo coração.
"Naquele momento eu sabia que estava perdido, a poção do amor não fazia mais efeito, e eu deveria fugir, mas tudo o que eu sentia era ódio. Estava prestes a entrar no quarto e matar o rei, mas a imagem da minha mãe na sala do espelho me pedindo para fugir veio a minha mente. Então eu arrumei tudo o que podia e fugi. Esse cajado foi presente de Dinny para mim quando fiz 10 anos. E aos 10 anos eu fui para o mundo humano. E a partir daí seu pai soube que o rei havia acordado e que estava atrás de você. Ele a queria, e ainda quer, pois acha que você pertence a ele. Tudo o que fizemos desde então foi despistar ele, matávamos os monstros que ele mandava para buscar você, seu pai passava meses fora por isso. Para que ele não soubesse onde você estava, afinal ele não estava procurando pela filha de Maria Salvatore. Ele nunca havia se aproximado da mansão, até aquela noite."
Sophie sentia como se o mundo estivesse desabando sobre seus pés. Seu pai não se chamava Leônidas, sua mãe não era Maria. E apesar de ela ter que ficar feliz com isso, tudo o que sentia era ódio. De todos. No fim sua vida não foi nada mais que um palco em que todos a faziam de boba.
Ela sentiu as lágrimas queimarem nos seus olhos e escorrerem sobre sua face enquanto encarava a cortina de água que minutos antes havia mostrado as imagens de sua verdadeira história. Toda a sua vida não passou de uma grande mentira. Sua verdadeira mãe estava morta. E um rei maníaco era o culpado. O culpado por tudo.
-Ele me quer?-perguntou ela com a voz tremula e cheia de raiva.-Então vai me ter.
Arthur foi para frente de Sophie e a abraçou quando ela pulou na cortina de água que mostrava a imagem do rei. Ela chorou. Depois de todos aqueles anos ela finalmente chorou de verdade. Por tudo.
-Dinny! Por favor.-Arthur ainda abraçado em Sophie olhou para o feiticeiro.
A imagem sumiu. Tudo o que restou foram sombras do passado que iluminavam a sala agora escura em um tom azulado.
Em meio aos soluços da garota, Arthur conseguiu distinguir uma frase coberta de ódio.
-Eu não vou embora daqui sem antes mata-lo.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora