O labirinto dos sonhos

XIII

E se tudo o que você soubesse sobre si fosse mentira, se estivesse vivendo como uma marionete sendo controlada sem saber, se sofresse anos por algo que nem deveria existir, se seu mundo de repente não fosse mais real?
Sophie sentia que caia em um buraco infinito, frio e escuro. Sentia como se estivesse cega todo esse tempo, dormindo profundamente, e finalmente podia ver, acordara depois de um tapa.
A história de sua vida não era sua. Tudo o que ela achou que fosse real, não passava de uma peça teatral feita para protege-la.
Ela nunca esqueceria as imagens que Dinny a mostrou naquela cortina de água. O espelho dos sonhos, era o nome. Sophie havia sentado no sofá mais confortável que ja vira na vida, para ouvir a sua verdadeira e trágica história.
Arthur havia sentado do seu lado enquanto Dinny estalava os dedos para que todas as luzes se apagassem, deixando apenas a cortina como fonte de luz.
-Sophie.-Arthur olhou direto nos olhos dela, seus olhos verdes azulados estavam escuros e sérios.-Antes de tudo, quero que saiba que, ninguém nunca pretendeu mentir para você-,seu tom de voz era suave e calmo- tudo foi para protege-la.
Ela assentiu e a história começou.
...

Era uma vez um rei. Ele era um rei ambicioso e solitário. Um rei sem esperanças de felicidade, sem sonhos. Era o rei do mundo dos sonhos. Que irônico, não? A vida é uma grande ironia. Seu nome era Aurum, como o ouro. Possuía cabelos longos e dourados, uma pele pálida e bela, mas olhos negros como a tenebrosa escuridão. Era jovem e é claro, poderoso como todo rei. Reinado esse que obteve por meios errados e maléficos.
Todos no castelo contavam a sua maneira, como o filho único e herdeiro do trono, havia assassinado seu pai a sangue frio, e tomado o poder. Ninguém tinha provas, ninguém vira nada, mas todos sabiam a verdade.
Harthus, era um rei viúvo, porém de enorme coração. Amava o filho mais do que a qualquer um, e confiava nele sua própria vida. Isso o matou. Quando príncipe , Aurum era observador, cauteloso e calculista. Fingia amar o pai e preocupar-se com o mesmo. Na verdade, ele guardava um ódio mortal nas profundezas escuras de seu coração, uma repulsa por tudo o que era bom. Ele tinha nojo das ações bondosas de seu pai, e detestava o modo como ele amava o reino. Sempre dizia que preferia ser temido a ser amado. Também dizia que o pai estava cansado de mais para ser rei. Insistia que ele deveria descansar e passar o poder adiante. Então,em um dia comum, pouco antes da luz nascer, veio a noticia de que o mundo dos sonhos tinha um novo rei. Harthus havia sido encontrado morto em seus aposentos. A face coberta por uma velhice que não lhe pertencia, morrera dormindo, segundo o empregado que o encontrou. Fora envenenado.
Aurum mal demonstrava tristeza, apenas empolgação com tudo aquilo, sendo ele o novo rei, as coisas mudariam. Sua primeira ordem, foi feita de certa forma para avisar os empregados do castelo, e para despistar de si a culpa da morte de seu pai. O rei Aurum mandou matar o copeiro que serviu o último vinho para o falecido rei Harthus. Todas as criaturas no mundo dos sonhos sabiam da fama de cruel do novo rei. Mesmo os vampiros, criaturas da noite, o temiam. As fadas se escondiam quando ele passava. Lobos, as criaturas da água, como sereias, e principalmente os feiticeiros, nunca o contrariavam. Se ele dissesse que alguém era culpado de um crime, o mesmo seria réu até o fim. Era famoso por sua sede de "justiça" e sangue. Mas o que mais fascinava o rei Aurum, eram os humanos.
Há uma sala secreta no castelo de cristal, que possui um espelho de água como este, porém, é um portal para o mundo humano.
Certo dia, o rei Aurum decidiu fazer uma visita ao mundo humano. Ele se encantou pelos humanos, mas por uma em especial.
Sarah Listen era uma jovem bela e doce, de longos cachos negros e olhos verdes como a grama. Vivia imersa em seus livros e fantasias. O rei porém, era só um homem qualquer no mundo humano, e não possuía qualquer poder. Primeiramente conquistou a amizade de sua amada. Quase todos os meses a visitava em uma biblioteca antiga da cidade onde Sarah morava, se tornando o amigo de maior confiança da mesma. Porém, nada mais que isso. Quando percebeu as reais intenções de seu amigo, Sarah quis esclarecer as coisas. Mas o jovem rei não sabia o significado da palavra 'não'. Ele insistiu, alegando que a amara desde o primeiro segundo e fora inteiramente fiel a esse amor. Sarah disse que não poderiam mais se ver dali em diante. Aurum ficou furioso por dentro, mas conhecendo aquela pela qual havia se apaixonado, apenas fingiu uma profunda mágoa.
Os pais de Sarah, eram de uma família de tradição não muito rica, mas respeitada. O pai, era um homem de negócios inteligente, mas sem sucesso profissional. Como tinha apenas uma filha, sabia que não podia contar com um herdeiro para seus negócios. Até um dia conhecer a família Salvatore. Leônidas Salvatore era um rico e importante empresário da região. De muito sucesso em todo o país. Tinha apenas um filho, que por acaso tinha a idade de Sarah. Então você pode imaginar o que aconteceu. Desde o começo, o pai de Sarah quis que a mesma se casasse com o futuro herdeiro da herança dos Salvatore. Sarah nunca se importou. Se apaixonara pelo jovem Salvatore desde a primeira vista. Felizmente, o sentimento foi reciproco. Julian Salvatore era um jovem de bom coração, sem ambições e muito corajoso. Nunca havia se interessado pelos negócios do pai, o que frustava muito Leônidas. Quando os negócios começaram a ir mal, e Leônidas adoeceu, Julian começou a se preocupar mais com o futuro da empresa. Porém, não o suficiente. Logo após a morte do sr. Salvatore, Julian ficou muito abatido, não tinha ninguém mais no mundo, ja que Leônidas era viúvo. Em consequência, a empresa faliu. Isso não impediu o pai de Sarah de aprovar o casamento dos dois. Julian ainda era rico, e o nome Salvatore tinha grande poder. Todos pareciam satisfeitos com aquela decisão. Julian se casou com Sarah cinco anos depois da morte de seu pai. Mas o cruel rei do mundo dos sonhos nunca havia deixado de fato sua amada. Ele observava de longe, com mais ódio do que jamais sentira, a relação de Julian e ela. Um mês depois do casamento dos dois, o rei Aurum quis se vingar de Sarah, e matou seus pais, queimando a casa onde viviam. Ela ficou desolada, mas ninguém nunca soube quem foi o culpado pelo ocorrido. Os vizinhos diziam que um homem estranho de capa entrara a noite na casa, mas não sabiam identifica-lo, afinal quem teria motivos para matar os Listen?O rei pretendia matar Julian por ultimo, e quando Sarah não tivesse ninguém mais no mundo, ele apareceria para salva-la da solidão. Porém, quanto mais o tempo passava, mais descontrolado ele ficava. O mundo dos sonhos se tornou um lugar sombrio. Então, em uma tarde de inverno na Capital do mundo dos sonhos, sentado em seu trono imperial, o rei finalmente decidiu que Sarah seria dele, naquela hora, naquele segundo, por que não havia nada que ele quisesse que não pudesse ter. Ele andou com toda a determinação possível, dispensando todos os criados, duques e membros da realeza de seus compromissos para o dia, querendo o castelo só para si, e entrando na sala onde havia o portal, voltou ao mundo dos humanos, confiando que se Sarah soubesse que ele era um rei muito poderoso, deixaria aquele humano com uma pequena fortuna e nem um poder real para trás. E ele não precisaria derramar mais sangue.
Era uma noite chuvosa na mansão Salvatore, onde Sarah e Julian moravam sozinhos. Os dois estavam dormindo na suíte principal da mansão, quando um barulho os acordou. Julian, corajoso como sempre, foi ver o que era. Quando saiu, uma figura surgiu na porta do quarto e imediatamente Sarah reconheceu seu amigo Aurum.
Ele estava mais velho, mais bonito, porém com um ar cruel, selvagem e frio. Ela viu que seus olhos não carregavam mais a paixão doce e suave que vira da ultima vez, mas sim um ódio, e traição. Ela ficou paralisada enquanto ele se aproximava dela, de um modo imperial, como se ela lhe pertencesse e ele só estivesse la para pegar o que era seu. Ela perguntou o que havia acontecido com ele, ele apenas encarou, perplexo a imagem daquela que tanto amara, e que seria sua futura rainha. Sarah soube o que ele iria fazer a seguir, mas não conseguiu evitar, o rei a beijou a força, e pediu que fosse com ele para casa, que fosse sua rainha. Ela achou que ele estava ficando louco. Mas o rei não era mais tão jovem assim, e possuía certo poder no mundo humano, ele pegou um espelho e mostrou para Sarah a cidade de onde falava, disse que era rei, e que ela iria ser sua rainha, de qualquer forma. Sarah nesse ponto estava com  medo daquele que um dia fora seu amigo, o acusando-o de fazer magia negra, e gritando por Julian. Quando o mesmo voltou ao quarto, encontrou sua esposa nos braços daquele homem desconhecido, desacordada. O rei encarou Julian com um ódio mortal e o atacou. Mas seu prazo no mundo humano estava esgotando, e ele estava ficando fraco. Julian o expulsou de lá, mas o rei prometeu que voltaria e levaria Sarah embora, matando Julian da maneira mais cruel possível.
Sarah passou o próximo mês amedrontada dentro de casa, não saia para nada, e temia que se Julian a deixasse, Aurum voltaria e o mataria, a levando embora.
Nesse prazo, o rei armava o plano mais inteligente e terrível que podia. Um plano infalível, que acabaria com todos eles.