III

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Todas as vezes em que Leônidas voltava de suas longas viagens, mandava uma carta para casa avisando, e Sophie o esperava sentada no sofá da primeira sala, a direita,perto da lareira. Sua mãe o esperava no da esquerda. Ele chegava sempre em uma manhã ou uma tarde ensolarada, e vinha sorrindo com presentes na mão. Então entrava e Sophie corria para seus braços enquanto Maria abria os presentes. Geralmente ,Sophie ganhava livros.
E como todas as vezes , Sophie correu em direção ao seu pai, mas sem o sentimento dominante da felicidade ao revê-lo.
Leônidas foi levado em direção ao sofá da direita pelo garoto,os dois tiraram as capas e penduraram em um cabide.
-Papai!-gritou Sophie sentando ao lado dele no sofá -Papai o que aconteceu?
-Ah, Sophie...eu estou bem, isso não é nada...-Começou a dizer Leônidas,mas ela o interrompeu:
- Joane vá chamar um médico!
A criada que estava parada assustada em um canto foi em direção as escadas.
-Não!-Cortou Lêonidas e ela parou.-Apenas pegue algo para limpar isso aqui. -disse e ela assentiu e saiu.
-Mas papai olhe só para você!
-Apenas torci a perna , e acho que bati o braço, quando estava descendo da carruagem.-disse em tom calmo olhando para o próprio braço-Essa maldita tempestade caótica!
Sophie olhou para a janela que dava para fora da casa, e viu que havia parado de chover. A tarde estava calma, o céu ainda um pouco escuro,mas ja se via um pouco de sol novamente. Ao lado da janela estava o garoto que acompanhava seu pai, de costas. Sem o casaco ela podia ver seus longos cachos loiros caindo até o fim pescoço,ele estava ensopado, assim como suas roupas. Seu terno cinza escuro longo e as calças pretas que paravam em sapatos de bico fino pretos, todos molhados. Ela podia ver ,mesmo à distância-a sala era um tanto grande-que suas mão estavam encobertas por luvas brancas, e uma delas apertava firme um cajado de um metal escuro. Sua postura era quase teatral, se não soasse tão natural.
O garoto virou-se para trás e deparou com Sophie encarando-o. Por um segundo sua expressão foi de pura surpresa. Mas depois sua face se escureceu. Sophie pode notar que tinha olhos verdes quase azuis. Mas sua sobrancelha estava inclinada em uma cara séria e quase arrogante.
-Tenho que ir agora-foi tudo que disse, com uma voz melodiosa.
Sophie estava prestes a dizer que deveria ficar e se trocar , pois estava molhado, mas então percebeu que o garoto falava com seu pai.
-Tudo bem.-disse Leônidas, mas o garoto ja estava na porta, saindo.
Sophie estava prestes a perguntar ao pai por que não havia pedido para o garoto ficar e se trocar, e principalmente, quem era o garoto, quando Joane desceu correndo as escadas com um pano molhado e uma maleta branca de primeiros socorros.
Leônidas tirou o casaco , o terno e o colete, ficando só com sua camisa branca manchada de sangue.
Joane jogou o pano sobre o corte no ombro de Leônidas, que sangrava.
Na mesma hora Maria descia as escadas com suas duas irmãs e filhas em seu encalço, e vendo a cena que se seguia em sua frente, fuzilou Sophie com o olhar .
-Mas o que está acontecendo aqui? Você não manda uma carta para avisar que está vindo, e só sei que está em casa por que uma criada me conta?!-diz Maria correndo e puxando o pano das mãos de Joane.
-Me da isso sua inútil-diz- e saia da minha frente!
Joane olha para Sophie , mas ela estava olhando para o pai preocupada. Joane deu de ombros e saiu.
-Me desculpe, querida.-disse Leônidas usando o mesmo tom calmo de antes.-Foi uma viajem de última hora.
Maria abriu a maleta de primeiros socorros e pegou ataduras.
-Olhe só isso!-disse ela.
-Acabei me machucando quando desci da carruagem, essa tempestade foi terrível!
-Caótica!-disse Elena.
-Horripilante-seguiu Marie.
Sophie revirou os olhos.
-Foi bem chatinha,mas ja passou.-disse ela, e suas primas a olharam feio.
Maria terminou o curativo e então voltou-se para Sophie.
-O que está fazendo aqui? Não pense que esqueci sua lastimável atitude agora há pouco.
Leônidas olhou para a filha.
Sophie sentiu-se corar, ela sabia que o pai iria repreende-la, por que ele nunca acreditava no que ela dizia. Ela sentiu raiva, mas apenas balançou a cabeça e a abaixou enquanto Maria contava o que acontecera na sala de estar, as irmãs concordando com palavras e gestos.
Ao final Leônidas olhou para a filha e disse:
-Vamos ao meu escritório, Sophie.
Sophie levantou e o seguiu enquanto via a expressão de triunfo na face de cada uma de suas primas e tias, e mãe.

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