XVI

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E o que aconteceu quando o rei descobriu, você deve estar se perguntando. Ele não descobriu. Não enquanto ela estava no labirinto.
Dinny usou um truque raro, para esconder a real aparência de Sarah, assim, se o rei os estivesse observando-Coisa que fazia quase sempre- ele não saberia. Apesar de ela temer que o mesmo estivesse presente na conversa de com Dinny quando contou sobre sua gravidez.
-Acho que não, se não ele teria a matado.-dizia Dinny.
-E você acha que isto é viver?-perguntava ela com lágrimas nos olhos.
Todas as noites, eles enfrentavam criaturas monstruosas, bestas de todos os tamanhos, pesadelos que antes foram vampiros ou lobisomens, sereias malignas que se arrastavam para pegar o bebê de Sarah era o mais comum de acontecer, além de lobos de verdade , vampiros e os assombrados, criaturas altas que usavam uma capa preta, com o rosto sem olhos e a boca costurada em um sorriso, não tinham coração, tudo o que faziam era arrancar a esperança e toda a energia restante da pessoa até não sobrar nada além da casca humana, carne e osso, nada de sentimentos.
Enquanto isso, Julian aprendia a manusear espadas e era presenteado com alguns poderes pela feiticeira, ela o estava treinando para enfrentar o rei.
E a feiticeira Lanny não havia desaparecido de cena.
Ela tivera um caso com o rei, durante a elaboração do plano. Isso resultara em um bebê. O tempo no mundo dos sonhos é diferente, por isso, no quinto mês de Sarah no labirinto, nasceu o filho mais velho do rei Aurum. Um bebê forte e bonito, muito parecido com o rei, exceto nos olhos, seus olhos eram como os da mãe, olhos indecisos entre o verde e o azul. Ele se chamaria Arthur.
...
Finalmente, com Sarah no sexto mês torturante no labirinto, Julian decidiu que não poderia esperar mais, estava indo para a Capital, resgatar Sarah.
A feiticeira disse que ele ainda estava fraco, mas Julian insistiu que não poderia esperar mais nem um minuto, era como se soubesse que Sarah esperava um filho seu.
Por um mês Julian caminhou sobre o mundo dos sonhos até a sua Capital. Nesse mês, Sarah estava ficando cada vez mais fraca, e sem esperanças. Mas Dinny não havia desistido. Ele não fazia aquilo mais por ele, para se manter vivo e cumprir o que dissera ao rei. Fazia por Sarah. A primeira amiga que conhecera. Gostava dela tanto quanto um irmão mais velho gosta de sua irmã mais nova. Ele protegia ela com todas as suas forças, e sabia, que estavam cada vez mais próximos do fim. Não somente do labirinto. Mas de tudo.
Finalmente, quando estava prestes a completar o sétimo mês no labirinto, Julian chegou na Capital. Primeiro ficou fascinado com sua beleza. Depois assombrado com sua alma.
A feiticeira o acompanhara na viajem, para que ninguém notasse que era humano, e avisasse o rei. Ela contou para Julian que os dias já haviam sido melhores na Capital, e em todo o mundo dos sonhos. Eles passavam por lugares abandonados e sem vida, todas as ruas possuíam as portas e janelas de suas casas fechadas. O céu não era tão bonito como nos outros lugares, possuía nuvens cinza cujos raios brincavam livres na cidade. Julian sentia medo. Medo do que iria encontrar quando chegasse no labirinto. Medo de não ser forte o suficiente. Medo de perder tudo o que ele tinha no mundo. Mas isso logo passou, quando ele chegou perto da montanha onde se localizava o castelo de cristal. Ele percebeu que não podia ter medo, por Sarah. Ele finalmente conseguiu ver os muros no centro da cidade. A feiticeira e ele caminharam o tempo todo ao redor dela, para o rei não perceber, mas agora que estavam na frente do castelo, podiam ver aqueles muros altos, fortes e sombrios.
-Tudo fruto da loucura do amor.-disse ela triste.
-Não é amor. Isso não é amor.-disse Julian com uma voz feroz, que nunca havia usado antes.-É egoísmo, obsessão e ambição. Ele só a quer por quê não pode te-la. Mas ela nunca vai ser dele! Não se depender de mim.
A feiticeira o encarou por um tempo, se perguntando o que se passava em sua mente. O tempo que convivera com ele foi o suficiente para saber que sua mente jovem e seu coração eram puros e incapazes de qualquer sentimento ruim. Mas naquela hora...quase podia sentir o ódio exalando dele.
Enquanto isso no castelo, um rei torturado e louco estava em seu trono impaciente. Cansado de chamar prisioneiros para sua sala e mata-los só por prazer de descontar seu ódio. Cansado de esperar por Sarah. Ele teria que te-la e logo.
-Vossa Majestade, gostaria de informar que sentimos a presença de magia negra na cidade.-disse um soldado entrando na sala do trono.
-Feiticeira?-perguntou o rei com um tom brusco. - Pois pegue-a e traga para mim. Não há prisão para abominações como essas. Vamos acabar com todo esse sangue ruim que ainda anda sobre nossas terras.
O soldado assentiu.
-Sim senhor, Vossa majestade, excelentíssimo rei Aurum.
-Ora saia logo da minha frente seu imbecil bajulador!- brandiu o rei e o soldado correu porta afora.
Aurum bufou com nojo. Como estava cercado de covardes!
Então finalmente cansado de tudo aquilo saiu e foi para a sala dos espelhos, ver como Sarah se saía em sua jornada.
Ele sentou em sua cadeira e observou, então abriu um pequeno sorriso malicioso. Seu mau humor foi para longe. Ele podia dizer que estava quase feliz com o que via. Sarah estava quase no fim do labirinto, e com certeza era uma questão de horas para ser sua.
...
-Temos que fazer isso da maneira mais rápida possível.-disse a feiticeira a Julian quando estavam quase na entrada do labirinto, que ficava bem na entrada do castelo. Estavam escondidos atras do muro observando os guardas que iam de um lado para o outro. Julian ficou um tempo encarando tudo aquilo. A frente do castelo possuía um jardim magnifico, com arvores azuis, vermelhas e roxas. Estatuas feitas de mármore, ouro e diamante,e um gramado verde escuro com desenhos como os da roupa da feiticeira no chão. Ela havia lhe explicado que aquilo eram palavras na língua deles para feitiços ou encantamentos. Cerca de duzentos soldados caminhavam de um lado para o outro, usavam calças pretas de um tecido diferente e uma camisa como as do exercito, carregada de facas e espadas. Alguns poucos que estavam na frente gritando ordens possuíam um manto roxo com desenhos sobre si, como feiticeiros mas de um jeito diferente. E o mais impressionante é que estavam em cavalos alados cinza com asas negras.
Quando finalmente a feiticeira fez sinal param irem em direção ao labirinto, Julian hesitou.
Só naquele momento havia notado algo.
-Por que você me ajuda, Lunna?-perguntou citando o nome da mesma pela primeira vez. Ela dizia que citar nomes de feiticeiros podia chamar a atenção de quem não deveria, pois era mágico.
Lunna o encarou.
-Não fiz isso só por você. Há alguém no labirinto muito importante para mim.
Ele a fitou por alguns segundos. Então Sarah não estava só. Não inteiramente. Ele não sabia se ficava aliviado ou mais preocupado. Nem um nem outro. Mal teve tempo antes de um dos guardas que estavam na frente dos portões do labirinto os notarem.
A feiticeira e Julian correram desesperados para a entrada do labirinto. Lunna derrubou os três guardas que haviam ali e uma sirene tocou.
Mas era tarde, os dois já estavam no labirinto. Julian nunca havia se sentido mais corajoso em toda sua vida. Iria salvar Sarah nem que isso custasse sua própria vida.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora