IX

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A noite naquele lugar, o labirinto dos sonhos, não era nada agradável.
Era tão fria que Sophie estava surpresa por não nevar. O céu tinha passado de um tom verde escuro para o roxo quase preto. As milhares de estrelas brilhavam forte no céu, em tons de azul, vermelho, verde, e branco.
Arthur e Sophie seguiam andando pelos corredores do labirinto, em silêncio. Porém, Sophie podia jurar que ouvia vozes sussurrando em seu ouvido. Dizendo "fuja", "corra".
A única luz daquele lugar, vinha do cajado de Arthur, que brilhava levemente.
Eles dobraram em mais um corredor.
Haviam tantas perguntas a serem feitas, tantas dúvidas. Mas Sophie tinha que ir com calma, ja que Arthur parecia bastante relutante em responde-las.
-Arthur.-disse ela finalmente.
-Sophie.-Respondeu ele calmamente.
-Você disse que o livro era um portal.-Continuou ela, ele apenas assentiu, sério ao seu lado.- Ele me trouxe até aqui. Então, se outra pessoa abri-lo, também irá parar no labirinto. Certo?
-Não.-respondeu ele- Esse tipo de portal é feito para uma pessoa especifica.
Sophie franziu o cenho. Então entendeu. O portal era para ela. Somente ela poderia ir para o labirinto através do livro.
-Mas...quem iria fazer isso?
Arthur permaneceu em silêncio por um tempo. E ela pode sentir a tensão vindo dele. Era como se o ar tivesse ficado carregado. Então ele respondeu:
-Alguém que procura por você.
-Por que alguém estaria me procurando?
Ele suspirou.
-Você...já se perguntou o que seu pai faz?
Ela quase sorriu. A pergunta que sempre fizera a si mesma. E ela finalmente teria uma resposta?
-Você não faz idéia do quanto eu queria saber isso.-disse ela mantendo-se neutra.
Ele olhou para ela.
-Bom,Sophie-então olhou para frente novamente,quando viraram em outro corredor.- Digamos que...seu pai sabe sobre o mundo dos sonhos. E como em todo lugar, o mundo dos sonhos é governado por alguém. Um rei. E digamos que esse rei teve uma pequena briga com seu pai no passado.
Sophie balançou a cabeça e olhou ao redor.
-Então meu pai esteve aqui? No labirinto dos sonhos?
-Não no labirinto, mas sim, ele esteve aqui, no mundo dos sonhos.-disse ele um pouco cauteloso-Antes de você nascer.
-Antes de conhecer minha mãe?
Arthur não respondeu. Era como se tivesse uma cota de respostas, e ela estivesse acabada por hora.
Sophie porém não se estressou. Ela sabia agora que seu pai havia estado no mundo dos sonhos. Então talvez, ele os ajudasse a sair daquele lugar. Talvez os encontrasse, e tivesse mandado Arthur apenas para leva-la ao fim do labirinto. E talvez...talvez ele estivesse no fim do labirinto!
Sophie sorriu, e Arthur olhou para ela curioso.
-Qual a graça?
Ela o encarou.
-Eu sei o que há no fim do labirinto.
Os olhos de Arthur escureceram.
-O que há?
-Meu pai. Ele mandou você aqui e está me esperando no final do labirinto. E isso é um sonho! Claro! Como sou...
Ela não pode terminar. Foi empurrada contra a parede por Arthur. Ele a encarou com os olhos verdes cheios de fúria, as pupilas dilatadas, a um centímetro do seu rosto. Seu coração acelerou.
-Você acha que isso é um sonho? Ou um jogo?-ele quase gritou -Isso é real Sophie!-Ele deu um tapa na parede gelada atras de Sophie e ela estremeceu.-Pare de ser essa garotinha boba e medrosa! Isso é real!-dessa vez ele gritava.-Isso é REAL!
Ela fechou os olhos, mas ainda pode sentir ele quase colado nela, e sua fúria exalando em um olhar feroz.
Sua respiração estava acelerada. Sophie podia sentir seu coração pular loucamente, e a mente fervilhava. Então seu pai não estava no fim do labirinto. Ele estava procurando ela? Ela não era uma garotinha medrosa. Estava cansada de andar por aqueles corredores infinitos e cansada das perguntas sem respostas.
-Eu não sou uma garotinha medrosa.-disse ela ao abrir os olhos, tentando manter a calma. - E você não tem o direito de gritar quando quiser comigo! Quem pensa que é?!
-Sou aquele que te protegeu a vida toda! Que viveu anos para você!
Ela sentiu que tinha levado um tapa.
-O que?
Arthur estava arfando. Virado de costas e com a mão sobre a cabeça.
Ele suspirou, e depois de um longo tempo, virou-se novamente para ela.
-Me desculpe.-sua voz saiu quase em um sussurro. Seu rosto estava inexpressivo.
Sophie sentiu raiva. Do que ele estava falando? Viveu anos para ela? A protegeu a vida toda? Ele estava louco? Ou não...era ela que estava louca?
Sophie olhou ao redor.
-Estou duvidando de minha sanidade.-disse.
Arthur a encarou e ergueu uma sobrancelha.
-Do que está falando?
Sophie sentia-se tonta. Tudo aquilo...o mundo dos sonhos...
Ela virou-se para ele.
-Do que você está falando?-perguntou ela.-Me protegeu a vida toda?!
Ele se aproximou parecendo preocupado.
Sophie estava sentindo-se tonta, cansada e com sono.
Ele encostou-se na parede e fechou os olhos.
-Temos que ir.-disse Arthur.
Sophie permaneceu em seu lugar, e pode ouvir o garoto suspirar impaciente à sua frente.
-Sophie. Temos que ir.
Ela abriu os olhos para responder, mas viu tudo ao seu redor começar a girar.
Ela caiu e Arthur a segurou.
-Sophie!
Tudo o que ela sentia era cansaço, e sono...muito sono...
-Estou cansada,Arthur...vamos ficar por aqui...só um pouco.
Ele balançou a cabeça e a levantou.
-Sophie...acorde!
Ela olhou para ele e o viu pegar algo em no bolso interno de seu terno. Um frasco de vidro com alguma coisa dentro.
-Esse seu terno mágico tem tudo ,não é?-Disse ela sorrindo.
Mas ele estava sério quando abriu o frasco e a encarou.
-Beba isso.
-Por quê?-perguntou ela tonta.-O que você vai fazer comigo? Quer que eu esqueça o que me contou! -Sophie balançou a cabeça lentamente negando-Não,não, eu quero toda a verdade!
Ela estava prestes a fechar os olhos quando ele a fez beber todo o conteúdo do frasco.
Foi como se ela tivesse bebido cem xícaras de café, e tomado um banho ma água mais gelada do mundo.
Ela pulou dos braços de Arthur e sentiu seu coração acelerado.
-O que é isso?!
-Energium. Faz você ficar acordada.
Ela o encarou.
-O que aconteceu?
-Você estava prestes a dormir. Você não pode dormir no labirinto dos sonhos, não é seguro. Mas o labirinto faz isso a noite-disse ele guardando o frasco.
Ela olhou para baixo envergonhada. Era uma fraca. Nem ao sono podia resistir.
-Me desculpe.-Murmurou ela.
Ele assentiu sério.
-Tudo bem.-disse.-Vamos.
Eles voltaram a andar, mas não por muito tempo.
Os dois mal haviam dado um passo, quando Arthur foi arremessado para trás.
Sophie ficou sem ar.
Uma criatura de capa preta estava em cima de Arthur o segurando no chão ao seu lado. Sophie pode ver suas garras enormes sob ele, e viu o sangue escorrer no chão.
Seu coração parou.
-Arthur!
A criatura virou-se abruptamente para ela, e Sophie ficou paralisada.
Seus olhos eram completamente negros, e a boca estava aberta em um grito silencioso. Era pálido como a neve, e tinha dentes afiados e uma expressão medonha.
Sophie olhou para o corpo de Arthur,inerte no chão. Seus olhos fechados e o rosto manchado com sangue.
E tudo o que Sophie pode fazer foi gritar.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora