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O horror estampado na face de uma pessoa sempre foi algo assustador. De certa forma ,em alguns casos, as pessoas conseguem espelhar as emoções mais fortes de uma outra em seu rosto. Como em um momento aterrorizante ,de tensão, se a pessoa que está ao seu lado ficar apavorada, a tendência é você ficar também, no mínimo assustado. A não ser que tenha um grande controle sobre si mesmo e suas emoções.
Não era o caso de Sophie.
A criatura a encarava com horror estampado no rosto. Seus olhos eram um buraco negro de dor. Sua boca sempre aberta em um grito silencioso, deixava a garota paralisada de medo.
Ela sentia seu coração correndo como um furacão, e o sangue correndo em suas veias. Tudo gritava "corra", mas parecia que seu cérebro não processava a informação. Seu corpo estava inteiramente paralisado, tenso e alerta.
A criatura parecia hesitar quanto a avançar em Sophie. Ela ia para frente e então voltava, como se não pudesse fazer com Sophie o que havia feito com Arthur.
Arthur. Ela olhou para o corpo do garoto no chão, e pode ver que ele estava respirando. Mas estava desacordado e sangrando.
Ela voltou o olhar para a criatura. Não era uma menina medrosa. Não era. Tinha que fazer algo.
Mas a criatura parecia estar tão apavorada, que Sophie não sabia o que fazer. Era como uma tortura ficar encarando ela.
A escuridão em seus olhos, a dor, o sofrimento, o desespero...
Foi como um raio a atingindo, e Sophie estava no chão, com a criatura em cima de si, suas garras a mantendo no chão.
Ela havia perdido a voz, mas lembrou de como gritar novamente.
E o silêncio havia desaparecido.
Sophie sentia as garras da criatura a arranhando, frias e cortantes como facas.
Ela empurrou aquela coisa para o lado e levantou.
A criatura levantou também e pulou em cima dela.
Sophie correu pelo corredor o mais rápido que pode, e só quando ia dobrar em outro, lembrou que Arthur estava no chão ainda, vivo. Ela não podia deixa-lo.
Ela parou e olhou diretamente para a criatura. Tinha que dar um jeito nela. Estava quase alcançando Sophie. Sua respiração estava acelerada. Tinha que fazer algo. A criatura pulou novamente em Sophie. O cajado! Sophie desviou no ultimo segundo, e correu para onde Arthur estava.
Como imaginou, o cajado estava lá, ao lado dele.
Sophie pôs as mãos sobre ele mas não conseguiu levanta-lo. Era como se estivesse preso ao chão. Ela puxou novamente com toda a força que conseguiu reunir. Nada.
A criatura voltava para perseguir Sophie, e parecia mais furiosa que antes.
Ela lembrou então que ele havia tirado armas do terno.
Ela abriu o terno do garoto e ficou confusa. Não havia nada.
A criatura vinha como um furacão em direção a Sophie.
Ela precisava de uma arma, qualquer coisa. Então ela tirou seus sapatos e atirou na coisa medonha que apontava suas garras para ela.
A criatura caiu de lado mas logo levantou, e se jogou em cima de Sophie.
-Sai! Sai!-gritou ela.
A criatura agarrou seu pescoço a fazendo sufocar.
Sophie achou que era o fim. Estava acabado. Nunca mais veria seus pais. Nem sua mãe e suas primas chatas, ou Joane. Nunca mais leria um livro. E tudo por que? Por que estava ali? Por que tinha que morrer assim?
Sua vista estava escurecendo, e ela via apenas a escuridão nos olhos da criatura.
Então algo atingiu a criatura na cabeça e seu pescoço virou anormalmente para o lado. Suas garras se afrouxaram, Sophie a socou e conseguiu se livrar e levantar.
Ela olhou para aquele que a havia salvo.
-Arthur!-sua voz saiu fina e engasgada e ela tossiu. Aquela coisa quase a matara.
-Sophie! Me desculpe...-ele correu até ela. Estava com uma espada na mão , arranhões no rosto e arfando.-Eu devia ter...ah Deus...eu devia...-Ele olhou para trás e viu a criatura levantando.
Ela pulou em cima dele como um trovão cai na terra em uma tempestade, e o jogou no chão.
-Arthur!- dessa vez a voz de Sophie saiu, alta e desesperada.-Arthur...não...-ela observou paralisada a criatura parada no chão sobre Arthur.
Porém, o corpo da coisa foi jogado de lado, e Sophie pode ver uma espada afincada no que seria seu coração.
Arthur parecia extremamente perturbado. Ele levantou e tirou a espada da criatura, a limpando, e guardou no terno.
O garoto e a garota se encararam por um longo tempo. O silêncio entre eles era carregado de palavras.
-Por favor, me conte a verdade.-disse Sophie afinal.
Ele voltou a ficar sério,pegou seu cajado do chão e os sapatos de Sophie que estavam jogados ao seu lado.
-O que era...isso?-perguntou a garota pegando os sapatos das mãos dele.
Arthur olhou para o corpo inumano no chão parecendo enjoado.
-Um dia foi um feiticeiro. Hoje...é um pesadelo.
Sophie estremeceu.
-Arthur. Quanto falta para sairmos desse lugar?
Ele olhou ao redor.
-Não faço idéia, Sophie.- então olhou para ela- a ultima pessoa que esteve aqui, ficou sete meses.
Sophie arregalou os olhos.
-Sete meses!
Arthur suspirou.
-Mantenha a calma minha querida.-ele se aproximou dela e tocou seu rosto, tão suavemente que ela quase não sentiu.- Eu não vou deixar nada acontecer a você. Eu prometo.
Sophie sorriu para ele. De alguma forma, Arthur lhe pareceu familiar naquele momento. Dócil e gentil.
Mas ele logo voltou a sua expressão séria de antes, e recomeçou a andar pelo corredor.
Sophie o observou. Ele havia salvo sua vida. Era de certa forma, tudo o que tinha no momento.
-Arthur.
Ele parou e olhou para ela.
-Obrigada por me salvar.
Ela viu seus olhos verdes azulados brilharem um pouco, enquanto ele abria um grande sorriso, estranhamente familiar. Ela sorriu também, ele ficava tão lindo sorrindo. Era como se tivesse luz própria.
-Vamos minha sonhadora. O caminho que temos a percorrer é longo.-disse virando-se de costas para ela.
E eles voltaram seguir seu caminho pelos corredores do labirinto dos Sonhos.

O labirinto dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora