A vingança envenena até mesmo os corações puros.
Arthur podia sentir Sophie distante, diferente. Era noite quando terminou de contar a verdadeira história sobre ela.
Ela chorou em seus braços e depois ele a levou até um quarto no interior da casa de Dinny, onde adormeceu quase imediatamente. Estava se sentindo exausto, mas ficou ali, sentado por um bom tempo ao lado da garota, observando seu rosto comprimido em uma expressão triste. Algo nela lhe era fascinante. O modo como mexia a boca enquanto dormia, as vezes sorrindo, mas então voltando se para baixo, em uma cara de tristeza, o jeito que algumas mechas de cabelo caiam em seu rosto, inicialmente lisas e depois enrolando-se em perfeitos cachos, sua respiração, os traços delicados do seu rosto... Estava quase amanhecendo quando Arthur decidiu que ela não precisaria mais dele, e foi em direção ao antigo quarto em que ficava quando era menor, ao fugir do castelo e ir para o labirinto.
Estava do mesmo jeito que deixara. Era um pequeno cubo com móveis.
No centro havia uma cama antiga de madeira, com os lençóis perfeitamente dobrados sobre a mesma. Ao lado da cama, uma cômoda de carvalho com duas gavetas, uma vela usada pela metade em cima e um livro antigo ao lado. Na parede ao lado havia uma janela que dava para ver o jardim cultivado pelo feiticeiro. Havia uma cadeira ao lado da cama, que estava ocupada.
-Ainda lembro quando você dormia aqui garoto. Eu o observava para acreditar que não estava sozinho.
-Você fala como se isso tivesse sido há séculos atras.-respondeu Arthur sentando-se na cama.
-Eu não sou tão velho assim, mas...é o que parece.
Arthur ergueu uma sobrancelha.
-O que aconteceu com seu humor?
Dinny balançou a cabeça.
-Algo vai mudar, jovem príncipe. Eu sinto isso. Ela é o ponto final dessa história.
-Ela não deveria estar aqui.-Arthur levantou da cama e foi até a janela.-Isso foi graças a um erro meu.
-Não. Isso deveria acontecer.
O feiticeiro foi até a cômoda e abriu uma das gavetas. Ela possuía algumas adagas. Ele retirou uma de la. De ouro, com pedras preciosas no cabo. A lamina tinha uma inscrição. Arthur observou enquanto ele analisava a arma e a colocava ao lado do livro.
-Você sabe quantas vezes leu esse livro?
Arthur assentiu.
-Várias. Mas o que isso tem haver com Sophie?-perguntou confuso.
-Que história ele conta?-Dinny perguntou sorrindo.
-A de uma garota. Que lutava para vingar a morte injusta de uma pessoa que deu a vida por ela...Não.
Arthur pegou o livro e abriu novamente, sentindo a poeira subir depois de tanto tempo sem ser usado.
E la estava a foto de uma garota com uma adaga na mão. Ele lembrava daquela foto, e daquela história que lera tantas vezes. Mas não podia ser, sempre acreditou que aquilo era só uma lenda antiga.
-Então garoto? Você sabe a história toda, me diga.
-Ela...ela luta pra vingar... -Ele engoliu em seco.
-Ora pare com isso! Ela é Sophie e você sabe. Sabe que na história ela é o que define se o mundo dos sonhos permanece na escuridão ou volta a luz. Sabe que o livro acaba quando ela pega a adaga e toma sua decisão.
-Ela não decide nada! -rebateu Arthur-As ultimas páginas estão em branco...
-Esperando para serem escritas! Arthur acorde!
O garoto fecha o livro e bufa.
-Eu tenho que levar ela para casa, Dinny.
-Você não pode passar o resto da vida protegendo ela.
-Foi o que fiz até agora
-Só que uma hora ou outra ela vai voltar. -Dinny encarou Arthur com olhos sérios-É o destino dela, é o seu, o meu e o do mundo dos sonhos!
-Não!
O feiticeiro jogou as mãos para o ar e andou até a porta.
-Eu sei que você quer proteger ela garoto. Sei que ela é importante para você, apesar de você negar isso. Mas ela precisa fazer isso. E ela precisa que você a ajude.
E saiu fechando a porta.
Arthur suspirou tirando o casaco e o terno. Ele encarou o terno que Dinny o dera a anos atrás, ele crescia junto com ele, e possuía muitas armas. O cajado estava apoiado a parede ao lado. Era a arma que ele havia escolhido a anos atras, ou que havia escolhido ele.
Arthur mal podia acreditar quantas vezes tinha lido aquele livro e não havia percebido depois , que a garota era Sophie.
Ele não sabia o porquê, mas tinha uma vontade quase incontrolável de protege-la. Odiava a idéia de ela se machucar. Não podia permitir que seu pai a pegasse.
Mas e se Dinny estivesse certo? E se ela realmente devesse enfrentar aquilo, o seu destino?
Ele balançou a cabeça. Não estava pensando direito, precisava dormir.
Arthur deitou na cama e fitou a janela ao lado, no qual podia ver o céu de um roxo quase preto la fora, iluminado com as estrelas que brilhavam. Podia ouvir sussurros e urros de monstros lá fora, no labirinto, e se perguntava como Dinny conseguia viver com aquilo. E como seria um mundo dos sonhos sem a dor, o sofrimento, ou aquela névoa de escuridão que inundava tudo. Ele pegou a adaga que estava sobre a cômoda e observou sua inscrição.
A luz que apaga a escuridão, selada no ultimo batimento de um coração.
Arthur só tinha um medo.
Que esse coração fosse o de Sophie.
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O labirinto dos sonhos
FantasíaFilha de um rico empresário, Sophie é uma garota comum de 17 anos, que não tem muitos amigos e mal conhece o mundo além dos portões de sua casa. Porém, isso não dura por muito tempo. Sophie acaba indo para um lugar que nem imaginava existir, e desco...