Não sentia nada, absolutamente nada. Meu corpo parecia flutuar, entregue à imensidão, enquanto a água me envolvia completamente, abafando qualquer som, qualquer sensação que me conectasse ao mundo exterior. Era como se o tempo tivesse parado, como se tudo ao meu redor se tornasse insignificante. No meio daquela vastidão, eu era apenas uma pequena partícula perdida em um universo tão incompreensivelmente grande.
O medo que eu esperava sentir nunca veio. A dor, tão temida, não estava ali. Em vez disso, um estranho alívio tomou conta de mim, como se todo o peso que eu carregava tivesse se dissolvido. Estar vulnerável, totalmente indefesa, incapaz de me proteger ou lutar por mim mesma, não me apavorava. Pelo contrário, uma serenidade inesperada se instalou no meu peito, uma paz que não tinha explicação, que parecia transcender a lógica ou qualquer instinto de sobrevivência.
Ali, sem oxigênio nos pulmões, enquanto a consciência lentamente me escapava, meu último pensamento foi nele. Aqueles olhos azuis me invadiram como um raio em meio à escuridão, tão intensos e vivos que quase pareceram me puxar de volta. Foi uma lembrança breve, mas tão poderosa que parecia carregar tudo o que eu já tinha sentido. No entanto, logo ela também começou a desaparecer.
A escuridão me envolveu por completo. Era como se o mundo tivesse apagado suas luzes, deixando apenas o vazio absoluto. Não havia som, forma ou cor. Apenas um silêncio profundo e esmagador, como se o universo inteiro tivesse parado de existir. E, ainda assim, aquela paz permanecia, como um eco distante de algo que eu não conseguia entender.
Sentia algo pressionar meu peito com força, quase esmagando, enquanto vozes frenéticas ecoavam ao meu redor, chamando meu nome com desespero. Cada som parecia abafado, distante, como se eu ainda estivesse submersa. A pressão no meu peito era insuportável, como se estivesse sendo esmagada por algo invisível, e minha visão estava completamente embaçada, tornando impossível entender o que se passava ao meu redor. Tudo era confuso e caótico, mas, em meio àquilo, uma voz ecoava na minha mente. Era um tom carregado de medo, quase suplicante, como se implorasse por algo.
Meu coração parecia lutar contra o meu corpo, batendo tão forte que pensei que ele fosse saltar para fora ou, pior, afundar de vez. Então, como um relâmpago cortando o céu, a dor reapareceu, uma dor intensa, como se meu peito estivesse em chamas e roubasse o pouco de ar que eu ainda tinha. Aos poucos, como se um véu estivesse sendo retirado, os sentidos começaram a voltar. As vozes ao meu redor ficaram mais claras, os sons mais nítidos, e percebi que ainda estava viva.
Com um esforço desesperado, ergui minhas costas do piso amadeirado do píer, tossindo violentamente enquanto a água invadia minha garganta, tentando escapar dos meus pulmões. Cada tossida parecia um golpe, mas também trazia alívio. Era como se eu estivesse expurgando a morte que quase me havia tomado.
— Sarah... Sarah... Sarah! — a mesma voz repetia meu nome sem parar, cheia de angústia.
Minhas mãos instintivamente foram ao peito, tentando forçar o ar a entrar, aplacar a dor, recuperar algum controle. Pressionei com força, sentindo o calor das minhas próprias palmas, enquanto o caos ao meu redor começava a se dissipar. Foi então que, num instante, o alívio veio. Meu corpo cedeu, os pulmões finalmente se encheram de ar, e a sensação esmagadora foi substituída por um silêncio reconfortante.
Olhei ao redor, ainda trêmula, e vi Brandon ajoelhado ao meu lado. Suas roupas estavam completamente encharcadas, os cabelos grudados na testa, e seus olhos azuis estavam fixos nos meus, cheios de medo e preocupação. A respiração dele era pesada, quase tão irregular quanto a minha.
— Você está bem? — ele perguntou com a voz trêmula, suas mãos quentes envolvendo meu rosto com delicadeza.
Minha mente ainda estava confusa, mas consegui perceber que estávamos no píer, à beira do lago. Brandon estava perto, tão perto que podia sentir a força de sua presença, enquanto Alex estava em pé ao lado dele, com a mesma expressão de preocupação.
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Era Você
RomanceSarah e Julie sempre foram muito próximas, mas com o passar do tempo, isso mudou drasticamente, e a distância entre elas se tornou evidente. Sarah não via sua irmã há anos, até receber a notícia de que Julie iria se casar. Apesar de ser convidada pa...