Capítulo 59

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Inês
- Inês - senti alguém a abanar-me - Inês, Inês - abri definitivamente os meus olhos, ainda meio ensonada e deparei com o meu pai bastante stressado.

- Ah - disse enquanto bocejava - o que se passa? - Perguntei.

- Onde é que andaste ontem há noite? - Perguntou-me - o porteiro disse-me que te viu a chegares tarde.

- Mas o porteiro já me controla? - Perguntei incrédula com a situação - e, sim cheguei tarde. Fiquei até tarde na universidade a tratar de uma coisa por causa do Natal e como ia comer sozinha, visto que praticamente todos me abandonaram e como estava cheia de fome, fui jantar numa pizzaria.

- Assim já fico mais aliviado! - Respondeu-me.

- Que horas são? - Questionei.

- São 10:30 - ao dizê-lo levantei-me da cama o mais rápido que eu pude.

- O quê!? - Perguntei incrédula e comecei a andar de um lado para o outro - eu adormeci, eu não a acredito! Eu não posso faltar às aulas, eu não posso, eu não quero ficar prejudicava e as minhas médias abaixarem, eu tenho de continuar a ser uma boa aluna - o meu pai desatou a rir-se - se a minha média baixa eu já não vou conseguir um emprego, eu vou ficar desempregada para o resto da minha vida, oh meu deus! - O meu pai continuou a rir-se do meu drama, o drama que qualquer pessoa com uma ambição de um bom emprego, tem.

Para além das risadas que o meu pai dava, andava de um lado para o outro, deixando-me ainda mais enervada e stressada.

- Posso saber o motivo de tanta risada? - Questionei completamente irritada.

- Inês, hoje todas as escolas e universidades estão fechadas - disse-me deixando-me completamente confusa.

- Porquê? Que eu saiba não é fim-de-semana nem é feriado.

- Parece que se instalou uma tempestade no nosso continente a qual, está a caminho de Portugal. Pelo sim pelo não, a ministra da educação achou por bem, que todos os centros de ensino fossem encerrados até a tempestade parar, se bem que o meu trabalho e o da tua irmã não é da mesma opinião, ou seja, temos de ir trabalhar.

- Mas pai, isso não é normal! Esses gêneros de tempestades não acontecem em Portugal.

- Isto é tudo devido ao aquecimento global.

- Eu bem estou farta de dizer, para o ser humano alterar os seus comportamentos pois não custa nada de reciclagem, não sujarem as ruas, terem cuidado com determinadas ações que praticam, tanto que nem o partido PAN é valorizado - revirei os olhos - mas também no meio de 7 biliões de pessoas, quem é que irá me ouvir? Ninguém!

- Deixa lá querida, não te preocupes com isso - deu-me um beijo na testa - se quiseres, volta a dormir ou convida a Cláudia ou algum colega teu para teres companhia, o pai vai ter que ir trabalhar.

- Eu compreendo - sorri - mas acho, que vou aproveitar e vou estudar um bocado. Tenho imensa matéria para repôr, depois alguma coisa eu ligo à Cláudia pára vir me fazer companhia - sorriu.

- Caso precises de alguma coisa, é só me ligares, outra coisa, prepara umas velas ou algo do gênero para caso fiques sem luz.

- Está bem pai.

- Porta-te bem.

Saiu do meu quarto e eu fui ao WC fazer a minha higiene e claro, lavar principalmente a minha face para despertar. Não sei o porquê de não ter ouvido o despertador. Ou estava ferradinha a dormir ou simplesmente o meu telemóvel estava sem som. Após estar preparada para ir estudar, fui até à sala buscar um dos livros que a minha irmã me emprestou, o qual vai-me ajudar bastante para fazer as coisas extra de anatomia. Há medida que chego à estante, deparo com uma fotografia minha e do Eduardo. Isto só pode ser uma praga!
Ontem ligou-me duas vezes, pelo menos as que eu sei porque deixei até agora o telemóvel em modo vôo e agora dou de caras com esta fotografia.
Por mais que me custe, eu tenho de a mandar para o lixo. Eu tenho de esquecer o Eduardo como provavelmente ele já me esqueceu, na volta aquelas chamadas era só para me dizer "já tenho nova namorada sê feliz" aposto! Peguei na mesma, com o coração completamente em cacos e fui até ao lixo. Eu bem queria a mandar, mas não conseguia. É como se, uma parte de mim me proibisse ou não me deixasse.
Levei a mesma comigo e decidi então pô-la no quarto da minha bebé, já que a mim é apenas uma memória, para a minha filha futuramente pode ser um tudo, visto que o pai nunca irá estar presente.
Retomei ao meu quarto com uma enorme vontade de chorar, mas mesmo assim, abri as coisas que tinha para estudar e comecei.

*


Truz​, truz, truz. - Alguém tocou à campainha.

Na volta foi o meu pai que se esqueceu das chaves ou então, é a Cláudia a querer, a minha companhia.
Peguei no meu robe o prendi de forma a não fazer demasiada pressão na minha barriga, e fui em direção à minha porta do apartamento.

- Quem é? - Perguntei.

- Sou eu...o Eduardo.

Ao dizê-lo, é como se o meu coração começasse a bater mil há hora, é como se o meu corpo me fizesse abrir a porta, mas outra parte não deixasse. O medo de discutir ou levar mais uma desilusão é maior que tudo.

- Inês deixa-me falar contigo - sentei-me atrás da porta - eu preciso de falar urgentemente contigo.

Ao ouvir a forma que ele falou, apercebi-me que o assunto poderia ser bastante importante ou urgente. Levantei-me, enchi de coragem e abri a porta.

- O que se passa? - Perguntei assim que abri a porta.

- Deixa-me entrar, por favor - ao perceber que ele estava completamente molhado da chuva e cheio de frio, não hesitei e deixei o mesmo entrar. Ele pode me ter magoado, como é que posso conseguir resistir a todos os pedidos dele?

- Entra - entrou.

- Olha precisamos de falar - disse-me.

- Já é a terceira vez que me dizes tal coisa - revirei os olhos - diz de uma vez por todas o que queres dizer.

- Eu vim aqui pedir-te desculpa por todo o sofrimento que te causei.

- Está bem - disse para tentar ser forte e não cair na tentação - já pediste desculpa, agora já podes ir embora.

- Inês ouve-me, eu tenho saudades tuas - virei-me de costas para ele, para não chorar - eu nunca te esqueci, eu amo-te como nunca amei ninguém, contigo eu sou feliz e me sinto completo - tentou me abraçar por trás, até que me afastei um pouco, eu não posso cair na tentação - eu não deveria ter falado contigo como falei - disse-me.

- Porquê que foste embora sem me dizeres nada? - Perguntei enquanto tentava manter-me firme.

- Eu fui-me embora porque não queria magoar-te outra vez e sim que fosses feliz, independentemente de me tornar infeliz.

- Ao teres ido embora de Lisboa, só fizeste pior - mordi o lábio para não ceder.

Começou a andar de um lado para o outro, até que ficou de frente para mim.

- Eu sei que não devia ter ido embora, que para além de ter deixado de estar presente na tua gravidez, te magoei. Mas eu não quero perder-te - pôs as mãos na minha bochecha e ficou a olhar com os seus olhos fixados nos meus - tu és tudo o que eu tenho, és a mulher da minha vida e sem ti, eu não sou ninguém - de repente, beijou-me.

Ficámos algum tempo aos beijos. Eu bem sei as saudades que tinha de o beijar, de sentir as suas mãos na minha face, o seu corpo junto ao meu, os seus lábios suaves nos meus.
Mas eu não posso, eu não posso continuar, eu não quero iludir-me e acabei por afasta-lo.

- Porquê que me beijaste? - Perguntei - para me encheres de esperanças e depois ires embora? - Duas lágrimas caíram da minha face abaixo.

- Não Inês, eu não me vou embora - sorriu - estes dias fizeram-me perceber que eu não consigo viver sem ti. É contigo que eu quero compartilhar tudo na minha vida e ser feliz.

Ao dizê-lo, acabei por não resistir à tentação e voltei a beija-lo.
Começámos a trocar beijos intensos, transbordados de amor e saudade. Como se, precisássemos realmente um do outro e fôssemos um só. Começámos a ir andando lentamente em direção ao corredor, e fomos em direção ao meu quadro, num andar lento e acompanhado pelas nossas trocas de beijos.

O idiota do meu inimigo de infância - 1°Livro | revisão |Onde histórias criam vida. Descubra agora