Inês
Continuei a correr o mais rápido possível, até que, devido ao maldito cansaço que eu mesma sentia, optei por sentar um bocado num banco de um jardim. Ainda não tenho palavras para descrever quanto ao que eu vi, ainda não acredito que, o homem que amo foi capaz de me trair, ainda por cima, com a moça que me tentou matar. Como é que eu pude ser tão estúpida, como é que eu não me tinha apercebido que o Eduardo tinha uma amante?
- Menina, está tudo bem? - Perguntou um senhor que trazia dois cobertores na sua mão, provavelmente deve ser um sem-abrigo.
- Não se precisa de preocupar comigo - disse enquanto sorria - penso, que tem mais com que se preocupar.
- Eu não tenho nada que me preocupe há uns anos - sentou-se ao meu lado - eu perdi a minha mulher e a minha filha num acidente, fiquei sobre uma depressão e devido a isso, deixei de trabalhar, de pagar as minhas contas. Para piorar a situação, me puseram na rua e todos os que julgava meus amigos, não o eram - ficou com um olhar triste - e devido a esses falsos amigos, eu não tive a quem mais pedir ajuda, e então, como não tinha para onde ir, tive que ficar na rua. Felizmente existe aí pessoas que vêm me dar comida e coisinhas que me fazem manter vivo, por isso, eu não tenho nada que me preocupe, porque tudo o que me preocupava, já não existe.
- Lamento imenso - disse - eu sei que nós não gostamos que tenham pena de nós, mas eu lhe digo, eu tenho imensa pena de vocês, porque eu olho para mim e tenho tudo, vocês não.
- Eu percebo o que você diz, mas não se preocupe - sorriu - eu sou feliz por ser um sem-abrigo.
- Porquê?
- Porque tenho o puder de ajudar qualquer moça que apareça aqui a chorar, porque eu percebo melhor que muitos o quanto a vida é difícil - suspirou - foi a rua que me acordou para a realidade e me fez ganhar forças para continuar a viver.
- Todos os sem-abrigos são assim? - Perguntei curiosa.
- Não - suspirou - nem todos são assim, tal como também, nem todos da sociedade são maus - sorriu - agora espero que você me conte o porquê de estar a chorar.
- Apanhei o meu namorado na nossa cama com outra - retomei ao choro - e o pior é que estou grávida dele.
- Ele sabe?
- Sim, foi o primeiro a saber, depois uma amiga nossa e a minha família - limpei as lágrimas - todos aceitaram exceto a minha mãe, mas estava tudo a correr bem entre nós, depois começou a ser agressivo a nível de palavras e hoje, chego ao nosso apartamento, oiço uma moça a gemer e quando entro no meu quarto, apanho-o enrolado com outra e pior, logo com a moça que tentou me matar.
- Resumindo, você se sente uma bosta neste momento e não sabe o que fazer.
- Isso eu sei, ir para casa da minha irmã, só que como o meu carro está a ser arranjado e não tinha mais ninguém que me ajudasse, optei por ir a correr.
- Mas você está grávida, não pode correr assim tanto - olhou bastante sério para mim - sabe que, quando se está no início da gravidez tem que se ter muito cuidado porque a probabilidade de perder o bebé é enorme - me disse.
- Eu sei disso.
- Porque você não apanha um táxi?
- Esqueci-me disso - limpei as lágrimas - eu só queria fugir daquela rua.
- Percebo - disse-me.
- Já estou apta, vou ter que ir para chegar o mais cedo possível a casa da minha irmã - sorri - desde já, obrigada por me ter aturado um bocado e espero que a vida sorri ainda mais para si mesmo!
- Eu sou feliz assim.
- Posso só fazer-lhe uma última questão?
- Sim.
- Como se chama?
- Zeca - disse-me com um sorriso.
- Nunca irei esquecer de si.
Peguei na Cloe e comecei a andar. Sentia que o Zeca me observava e provavelmente queria mais um bocadinho da minha companhia, mas eu tenho de ir, eu tenho de ir ter com a minha irmã e ouvir os seus conselhos.
Comecei a correr para chegar mais rápido visto que não havia sinal de nenhum táxi. Por momentos, é como se tivesse dificuldade em respirar, mas mesmo assim, eu continuava a correr que nem uma louca. Eu tinha de chegar a casa da minha irmã, comecei a abrandar com uma enorme dificuldade em respirar.
Eu tenho de chegar a casa da minha irmã, eu tenho...eu tenho...de...chegar a casa da minha irmã.
Senti o meu corpo a cair, senti o meu corpo a debater contra o passeio. Fechei os meus olhos devido à dor que sentia e falta de ar que eu tinha.
De repente, algumas imagens e recordações que eu e o Eduardo vivemos, começam a aparecer.
Eu tenho de correr, eu tenho de chegar a casa da minha irmã.
De repente, todas as minhas forças desapareçam e acabei por fechar os meus olhos definitivamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O idiota do meu inimigo de infância - 1°Livro | revisão |
RomanceInês tem 19 anos e é de Tabua que fica no conselho de Coimbra. Decidiu vir estudar para Lisboa, numa das melhores faculdades de enfermagem. Por mais que digam-lhe que é uma decisão um pouco arrojada ela não desiste. Eduardo tem 20 anos e é de Tábua...