Inês
Assim que o meu pai saiu definitivamente do meu quarto, peguei no meu telemóvel e comecei a olhar pela janela fora. Eu tenho de arranjar coragem para falar com o Eduardo, eu tenho de arranjar coragem para dizer tudo aquilo que eu penso e sinto. Ele não deveria ter desistido da universidade por minha culpa, não devia!
Neste momento ele até me pode odiar, porque não tive coragem de falar com ele ou lhe dar uma oportunidade após a confirmação de que ele dizia a verdade, mas ele deveria se ter metido no meu lugar, como iria reagir ao entrar no nosso quarto e apanhar-me envolvida com outro qualquer.
Inspirei o mais fundo possível para conseguir adquirir o máximo de coragem possível, até que consegui e comecei a ligar ao Eduardo.
Provavelmente não me irá atender, aposto.- Estou? – Perguntou.
- Olá Eduardo, sou eu a Inês – disse-lhe – eu queria falar contigo.
- Ah és tu! – Ao ouvi-lo a falar assim, fiquei completamente destruída por dentro, era sinal que o Eduardo não queria falar comigo ou que, provavelmente já tinha apagado o meu número de telemóvel.
- Pois, sou eu como ambos percebemos – disse para quebrar o silêncio que se tinha instalado.
- O quê que tu queres? – Perguntou-me – é que, na última vez que falámos, tinhas-me dito, aliás pedido, para eu não falar nunca mais contigo – pôs a mão na cara.
- Eu já soube que foste para Coimbra – disse-lhe – e também, já me mostraram as provas da tua inocência.
- Ainda bem – suspirou – só tenho pena, que tenha sido necessário a confirmação de algumas pessoas para realmente acreditares em mim.
- Eu peço desculpa – suspirei – eu sei que deveria ter acreditado na tua palavra sem necessitar de comprovas ou que os outros me dissessem alguma coisa, mas também tens de compreender o meu lado
- Inês já reparaste que queres sempre, que as pessoas se ponham no teu lugar, mas nunca és capaz de fazer o mesmo?
- Não é bem assim.
- Eu não me vou chatear mais, nem discutir mais contigo – suspirou – tens mais alguma coisa a dizer-me?
- Mas porquê que me estás a falar dessa forma Eduardo? – Perguntei completamente indignada – não percebo o motivo de estares a falar assim.
- Deves ter memória curta – suspirou – tu não me deixaste aproximar-me de ti para provar como estava a dizer a verdade, tu que já compartilhavas uma vida de casal comigo, não quiseste acreditar na minha palavra, até chegaste a dizer que me odiavas e que nunca mais iria me deixar ver o nosso bebé, como é que tu, após isso tudo, queres que eu fale a bem contigo?
- Eu sei que errei Eduardo, eu sei que não deveria ter dito tal coisa, mas tenta compreender, foi a raiva desse momento e tu sabes que quando alguém está com raiva, não tem a noção da gravidade das palavras, para além, devias-me ter contado logo ao início que a Anastácia estava a chantagear-te, porque assim estaríamos neste momento bem e sobretudo, nada disto teria acontecido – disse enquanto deixava uma lágrima cair da minha face abaixo.
- Inês as coisas não são assim tão fáceis como parecem. Infelizmente a vida não é como nas novelas, que acontece algo de mal e com um estalar de dedos fica tudo resolvido sem qualquer explicação.
- Eu não disse que a vida era como nas novelas, porque eu bem sei, que o que acontece nas novelas não tem qualquer sentido, fogem bastante à lei e à realidade, mas mesmo assim, deverias me ter dito a verdade, desde que tudo começou.
- Inês se eu não te contei, é porque tive medo! Tive medo que te inervasses e perdesses o bebé ou que perdesses o controlo e fizesses algo que viesses a arrepender-te – comecei a chorar – eu só quis te proteger e à nossa bebé, porque eu vos amo incondicionalmente.
- Está bem – respondi.
- Eu acho…eu acho que é melhor pormos definitivamente um ponto final.
- O quê, que estás a querer dizer com isso? – Perguntei meio confusa.
- Eu quero acabar tudo entre nós Inês, eu quero ter um final feliz, não um final infeliz, para além, a nossa relação tornou-se uma maré negra, porque nós passamos o tempo a discutir.
- Então e os nossos bons momentos? As nossas aventuras, foram assim tão amargas? – Perguntei enquanto chorava cada vez mais.
- Adeus Inês – disse-me com um tom bastante frio e com alguma indiferença.
- Não, espe…– desligou-me a chamada na cara.
Joguei o meu corpo para cima da minha cama, ficando deitada. Agarrei numa das minhas almofadas e comecei a chorar, mesmo quase a perder todas as minhas forças, quase a ficar sem ar. O Eduardo não podia me ter feito isto, eu sei que já tinha dito “acabou” mas para mim, saiu da boca para fora. Eu o amo, como nunca amei ninguém e já não consigo sem ele ao meu lado. Ele é tudo o que eu tenho nesta vida, é a minha razão de tudo, foi ele que me ajudou a ser eu mesma e não a menina com medo dos jornalistas. Sem ele, sinto-me completamente perdida e incompleta.
- Querida – disse o meu pai enquanto abria a porta do meu quarto – eu ouvi-te a chorares, o que se passa?- Para além do Eduardo ter posto um ponto final entre nós, desligou-me o telemóvel na cara.
- Mas disseste alguma coisa de mal, para ele ter reagido dessa forma? – Perguntou o meu pai.
- Que eu saiba não, ele começou a falar num tom bastante frio e eu confrontei-o do porquê de estar a falar naquele tom, depois começou armado em parvo comigo e me disse que acabou tudo entre nós e que queria ser feliz e não infeliz, e também, que se instalou uma maré negra entre nós, trazendo só discussões.
- Eu não compreendo esse moço – disse o meu pai – eu não deveria ter-te incentivado a ligares para ele.
- Deixa lá pai, ao menos tentei.
- É verdade, mas acabaste por ficar pior e isso me deixa triste.
- Pai, não te preocupes! Eu vou ficar bem, vou superar isto tudo – limpei as lágrimas – agora vamos mudar de assunto.
- Filha, não é preciso tentares fazer-te de forte, quando na verdade estás a sofrer por dentro.
- Deixa lá pai – disse com um sorriso – o importante é a minha gravidez e os estudos e, o passado lá vai como se costuma dizer.
- Se o dizes, eu fico feliz.
- Bem pai, agora se não te importares, eu vou tentar descansar. Hoje o dia foi desgastante, fiz diversos trabalhos, fora os extras e mesmo assim não consegui os concluir, mas amanhã, eu irei aproveitar caso não tenha mais trabalhos – sorri – preciso mesmo de descansar.
- Está bem querida – deu-me um beijo na testa e pôs a mão na minha barriga – e tu dorme bem nina do avô – sorri – amanhã falamos melhor e descansa querida.
Levantei-me da minha cama após o meu pai ter saído do quarto. Fiz a minha higiene e vesti uma das minhas novas camisas de dormir. Abri a cama, pôs as almofadas como eu gosto, deitei-me na cama e tentei adormecer. Eu tenho de ser forte e não posso me ir abaixo. Se o Eduardo consegue viver sem mim, eu também irei conseguir, pelo menos, assim espero.
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O idiota do meu inimigo de infância - 1°Livro | revisão |
RomanceInês tem 19 anos e é de Tabua que fica no conselho de Coimbra. Decidiu vir estudar para Lisboa, numa das melhores faculdades de enfermagem. Por mais que digam-lhe que é uma decisão um pouco arrojada ela não desiste. Eduardo tem 20 anos e é de Tábua...