Capítulo 54

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Senti a aragem fria a bater-me na cara deixando todo o meu cabelo a flutuar. Olhei em frente e lá estava ele, com uma perna dobrada, apoiando-se na porta do carro e com as mãos nos bolsos das calças de ganga. O seu cabelo cacheado estava tapado por um gorro, mas mesmo assim, eu imaginava-os a esvoaçar ao sabor do vento. Estava um dia frio, mas a minha visão para toda aquela silhueta perfeita aquecia-me e mantinha-me calma, que depois de tanta emoção, bem era preciso.
Com as duas mãos a apertar a alça do saco de ballet, desci as cinco escadas calmamente para não lhe mostrar o quão ansiosa estava por estar com ele. Infelizmente, ele não facilitou o meu trabalho, pois quando me viu, abriu os braços incentivando-me a abraça-lo. Eu mordi o lábio mas ele sorriu mostrando as covinhas e eu não pude, de maneira alguma, recusar. Andei mais rápido até ele, atirei o saco para o chão e rodeei o seu pescoço com os meus braços. Ele abraçou-me pela cintura e eu senti os meus pés a perderem o chão. Isto seria um típico sonho, mas eu sentia o seu corpo a irradiar demasiado calor, para ser só uma ilusão

- Estou super feliz por ti -ele disse depois de me pousar no chão.- Eu sabia que conseguias. -piscou-me o olho.

- Como sabias? -eu perguntei mas depois ouvi a porta da companhia fechar e o Robert a sair se lá. Como fui criada com educação, disse-lhe um "até amanhã" que o Harry não pareceu gostar muito.- É o Robert. Ele é o meu par no bailado, vai interpretar o Basílio.

- Deves estar contente. -ele voltou a por a mão nos bolsos, talvez um pouco descontente.

- Sim, ele é um ótimo bailarino, será um privilégio dançar com ele. -eu expliquei-me, pois já o estava a imaginar a ficar com uns ligeiros ciúmes, pelo menos, foi o que eu entendi a partir do seu tom de voz, e não tinha razões para isso.

- Sim, mas eu não estou a falar disso. -ele deslocou-se até à mala para eu poder colocar lá o meu peso do ombro.- Já olhaste bem para ele? Ele é...

Ele arregalou os olhos e eu sabia bem que ele estava a falar da aparência do rapaz. O Robert era alto, cabelo cor de chocolate e desgrenhado, olhar penetrante, cara de rebelde, musculado e não devia haver uma única rapariga que não o achasse sedutor e sentisse uma leve pressão no meio das pernas de cada vez que ele saltava. O contrário já era difícil de acontecer.

- Ele é todo bom, mas te garanto que, entre nós, nada vai acontecer, sem ser profissionalmente. -eu pus a mão no seu ombro de maneira a descansa-lo.

- Como me podes garantir isso? -ele perguntou indo para o lado do condutor e eu para o oposto.

- Podemos dizer que... -sentei-me no assento do Audi- ele joga na minha equipa, Harry.

- Estás a brincar, não? -ele riu e levou a testa ao volante.- Não acredito que tive ciúmes de um gay!

Eu ri-me pois ele tirava conclusões muito precipitadas das situações e eram quase sempre tontas. Só por eu ser bem-educada com o rapaz que me vai levantar a 2 metros do chão e que pode "acidentalmente" matar-me, ele ficou com ciúmes. Dei pouca importância ao assunto e perguntei onde íamos almoçar.

- Surpresa! -ele cantarolou e eu serrei o olhar - Estou a brincar, vamos a um restaurante perto de minha casa, pode ser?

Eu acenei com a cabeça só de pensar que ele me iria levar a almoçar, mas depois lembrei-me que ele não tinha conseguido ver, por isso concordei em voz alta. De repente, como um flash, lembrei-me de ligar ao meu irmão, para lhe contar a novidade.

- Bonjour. Comment ca va, mon frere?-eu saudei-os na língua do país onde eles se encontravam.

- Francês não, Kitri! -o meu irmão brincou da melhor forma possível e eu dei um guincho de felicidade.- Parabéns, amor. Estou tão orgulho de ti, nem imaginas. Tanto tempo a insistires naquela merda do ballet, finalmente recompensaram, foda-se. Mal saíam os bilhetes, eu compro logo um na filha da puta da primeira fila. Eu quero conseguir sentir o vento que tu vais fazer quando fizeres chainés ou a diagonal das piruetas. Puta de merda, eu estou tão feliz por ti!

I hate myself because I love youOnde histórias criam vida. Descubra agora