Capítulo 45

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   POV ON EMMALINNE


As pessoas associam Ano Novo a vida nova mas eu não creio que haja uma ligação tão direta como dizem. Quer dizer, é uma data de reflexão, transição e mudança, mas não acho que seja a única hipótese de mudar a nossa vida. Eu acho que cada segundo é uma oportunidade de mudança. Para que esperar pelo dia 31 de Dezembro para alterar o rumo da nossa vida quando temos os outros 364 dias para fazer a diferença?
Penso no Ano Novo como um novo ciclo, uma nova etapa. Planeio, como quase toda a gente, uma lista de coisas que pretendo fazer ao longo do ano. Abro o meu implacável caderno de capa dura preta e começo a escrever enquanto observo as nuvens a passar da janela do jato privado da banda a caminho de Nova Iorque.
1. Ser feliz. É sem dúvida a minha maior preocupação todos os dias. Todos nós devemos ser felizes e ter motivos para gargalhar.
2. Ser eu própria. Nada mais gratificante do que pensarmos que somos fiéis à nossa verdadeira personalidade. Embora eu não o consiga ser sempre, faço um esforço para manter os meus valores.
3. Que eu e toda a minha família tenhamos saúde para dar e vender. Nos dias que correm, saúde não engloba apenas o bem estar físico. É o conjunto equilibrado entre o corpo, mente e em contexto social. Acredito que existam poucas pessoas 100% saudáveis e eu desejo-o para os meus entes queridos.
4. Que a época na companhia corra bem. Faltam poucos dias para a nova apresentação e eu, este ano, sinto-me pronta para dar tudo o que tenho e fazer os esforços necessários para progredir cada vez mais. Sei que era difícil, porque é sempre, mas eu sou persistente.
5. Ser aceite em Bolshoi. Acho que este é um dos meus maiores sonhos. Todos os anos sou chamada para a audição, mas nunca sou colocada e passo o resto do tempo a deprimir pelos cantos. Este ano, queria que fosse diferente, queria mesmo.
6. Que o meu irmão e a sua banda continuem a ter sucesso. Quem diria que uma simples audição no X Factor em 2010 lhes iria dar passagem para toda esta montanha russa que é a vida deles actualmente. Sinto muito orgulho em tudo o que eles alcançaram até ao momento.
7. Comprar uma mota. Não é a minha maior prioridade, nem nada que se pareça, mas gostava muito de ter uma mota. A sensação de cabelo ao vento, liberdade incondicional.
8. Conhecer alguns dos meus destinos de sonho. Viajar pelo mundo, quem não sonha com isso? Pode não ser este ano, mas pelo menos pensar em planear e por dinheiro de parte para quando quiser partir à aventura.
9. Participar em todo o tipo de campanhas de solidariedade e a favor dos direitos humanos. Porque são necessárias pessoas capazes de mentalizar o mundo das dificuldades que este está perante. E também porque eu sei o que custa ser vítima da sociedade e quero apoiar todos aqueles que ainda sofrem com ela.
10. Ver cantores e orquestras ao vivo. Música é simplesmente a minha vida. Sem ela, eu não seria a mesma. Pode parecer cliché, mas é a pura da verdade.
11. Harry. Esta palavra diz tudo.
12. Voltar a fazer uma lista destas para o ano.


- Que estás a fazer, Emma? -perguntou o Harry, que se encontrava sentado ao meu lado, em voz baixa como um sussurro. 

- Estou a escrever. -respondi-lhe sem dar muita informação, à medida que fechava o caderno com o elástico correspondente. 

Ele acenou afirmativamente e voltou a pôr o fone, que tinha anteriormente, na orelha.
Eu coloquei o caderno na mala que estava na mesa à nossa frente e olhei em volta. Todos os casais se encontravam a falar animadamente à excepção do Niall e da Jess que estavam a dormir consulados.

- Devem ter tido uma noite muito atribulada. -lembro-me de ouvir o Harry dizer quando reparou neles. 

O Liam e a Sophia estavam sentados em frente a nós e estavam a ver vídeos no telemóvel. Ela, bem vestida como sempre, pousava as suas pernas morenas sobre o colo do namorado e mantinha a cabeça encostada ao peito dele. Ele, segurava o aparelho em frente aos olhos e com a mão livre penteava o cabelo da amada.
Não me lembro da última vez que estive assim com um rapaz que não fosse o meu irmão devido à minha vida amorosa terrivelmente má. Nunca tive muita sorte com os rapares e, assim de repente, aparece-me um Harry. Não sei o que isso quer dizer, mas espero que seja bom sinal. Sinal que a minha sorte está a mudar ou algo assim.
Entretanto, enquanto eu apreciava o belo casal que se encontrava à minha frente partilhando gargalhadas, senti o rapaz dos cachos a mexer-se freneticamente na cadeira branca ao som da música rock que saía dos fones. Olhei para ele na tentativa dele abrandar os movimentos do corpo, mas ele estava demasiado ocupado a tocar, de olhos fechados, numa bateria imaginaria com os dedos a fazer de baquetas. Eu ri-me pois ele estava super concentrado na sua performance. Quando reparou que eu olhava focada para ele, parou e escondeu a cara com as mãos. 

- Vou dizer ao Josh que tu lhe queres roubar o lugar na banda. -brinquei devido ao que tinha acabado de ver.

- Desculpa lá, mas com esta música é impossível de controlar. -ele disse enquanto me punha o fone no ouvido esquerdo.

 A sobrevoar o oceano Atlântico, ouvimos Dance With The Devil dos Breaking Benjamin. Era uma música forte e pedia mesmo o acompanhamento de dedos a tocar em partos fictícios. Notava-se também, o entusiasmo do Harry quando o vocalista se preparava para cantar o refrão.

- Say goodbye
As we dance with the devil tonight.
Don't you dare look at him in the eye
As we dance with the devil tonight.

Ele fechava os olhos com força, substituía as baquetas por um microfone e fazia um playback de maneira a que as veias do pescoço dilatassem e sobressaíssem na pele parecendo mesmo real. Eu apenas pensava aquela magnifica antítese entre o diabo referido na música e o anjo sentado ao meu lado.
Ele mostrou-me mais músicas da mesma banda que eu prometi descarregar para o meu telemóvel, pois já estava a imaginar pequenas coreografias na minha cabeça. É o que acontece sempre que ouço uma música que gosto, sendo o efeito secundário de ser bailarina.
Enquanto ouvíamos música partilhando os fones brancos da Apple, observámos o casal à nossa frente que agora estava entretido a tirar fotografias. Eles são, sem dúvida, amorosos e estão perdidamente apaixonados. Faziam caretas e riam-se perante a câmara frontal do telemóvel. Eu e o Harry tínhamos um sorriso na cara ao vê-los tão felizes.

 - Tanto amor... -gozou o Harry numa voz doce.

- Tu tens é inveja! -disse o meu melhor amigo enquanto abraçava a namorada como se ela fosse um ursinho de peluche.

- Inveja? Eu tenho aqui a Emma, meu caro amigo. -ele gabou-se como se eu fosse grande coisa, enquanto me mandava um soco no ombro amigável- Para te comprovar, até tiramos fotografias como vocês, olha...

Ele disse e, com o telemóvel que tinha na mão, fazia de conta que tirávamos selfies. Eles riram-se muito e o Harry continuava a fingir até eu carregar mesmo no botão para capturar o momento. Ele olhou para mim e sorriu com metade da boca enquanto clicava de novo no ecrã do telemóvel. Fomos repetido esse ato um número consideravelmente grande de vezes enquanto mudávamos a expressão facial ou até a intenção um com o outro.
Eu confesso que não gosto de tirar fotos porque nunca me sinto bem ou bonita o suficiente. No entanto, com o Harry, tudo saiu naturalmente e eu até tive o impulso de carregar no botão primeiro. Ele, de certa forma, fazia-me agir de formas que eu nunca pensara que fosse capaz.
Após a nossa mini sessão, eu fui à casa de banho do avião e depois de me aliviar, voltei para o meu lugar. Ao sentar-me ao lado do Harry, coloquei de novo o fone no ouvido e pude notar que este estava a ver as nossas fotografias para colocar num tweet. A legenda era "Nós apenas estavamos a tentar imitar os pombinhos" e a foto escolhida foi uma em que ambos estavamos a fazer um beicinho incrivelmente fofo. Os olhos verdes do Harry eram o foco principal da fotografia assim como o meu colar que combinava por ser da mesma cor.

 - Não te importas, pois não?

 Ele perguntou já com o dedo polegar pronto para publicar e eu não pude dizer que não. Segundos após o Harry colocar a fotografia nas redes sociais através da Internet sem fios do jato maravilha, milhares de fãs começaram a comentar, retweetar e tudo mais. Sentia uma enorme adrenalina a correr-me no sangue por saber que as fãs iriam saber um pouco da minha vida e intimidade com o Harry. Tinha uma pequena ponta de curiosidade para saber o que elas andavam a especular, mas o Harry bloqueou o telemóvel e guardou-o no bolso antes que eu pudesse ler alguma das opiniões. Admiro-o por não abrir de imediato a aplicação e ler os comentários à velocidade da luz, como eu faria.

 - Emma, tudo o que aquelas pessoas dizem, não interessa e a minha opinião sobre ti não vai mudar ao ler aquilo. -eu olhei-o seriamente como a duvidar- Ok, talvez fique um pouco irritado, mas depois passa. Relaxa, sim?

Eu acenei com a cabeça e olhei em frente. O meu melhor amigo piscou-me o olho e eu senti-me ligeiramente mais calma. Isso era coisa que o Harry poucas vezes me transmitia, calma. Todo ele transpirava adrenalina e aventura. Isso era uma das coisas que me fazia gostar dele, que o fazia ser diferente dos outros, mas ao mesmo tempo, receá-lo a todo o momento. Com a minha doença, o stress dá cabo de mim, mesmo que eu me tente controlar ao máximo. Mas com aquele rapaz ao meu lado, creio que seja impossível. Ele não é o meu homem de sonho, mas é o homem com quem eu sonho.

I hate myself because I love youOnde histórias criam vida. Descubra agora