Ballet: bailarinas de puxo e de tutus a dançar o "Lago dos cisnes" e rapazes em collants. Será que é assim que somos representados na sociedade? Será que é assim que este mundo cruel nos vê?
Ser bailarino é muito mais que isso.
Ser bailarino é paixão, dedicação e afeto.
Ser bailarino é ter um refúgio a vida normal, um espaço onde podemos ser nós próprios e nos podemos expressar sem ser através da fala.
Ser bailarino é sentir a necessidade de fazer grands jetés em qualquer corredor.
Ser bailarino é adotar uma posição de mãos, pescoço, coluna e pés que mais ninguém entende.
Ser bailarino é fazer plié para apanhar algo do chão.
Ser bailarino é levantar da cama ao sábado de manhã, estalar todo o corpo, vestir as meias-calças ao contrário, tratar do cabelo no carro e ir para o ensaio cheio de sono mas pensando sempre que há outros que não têm a maravilhosa oportunidade de andar no ballet.
Ser bailarino é ouvir as críticas, mesmo que pareçam injustas e aceita-las confiando nos professores.
Ser bailarino é sorrir sempre, mesmo estando a fazer o adagio mais lento do mundo, estando a fazer mais de 200° numa espargata ou estando a sentir os pés a sangrar, ou até mesmo vendo a pessoa que menos gostamos com o solo que mais amamos.
Ser bailarino é esticar os pés até ter cãibras pensando que à noite os iremos penetrar um balde com maravilhosos cubos de gelo.
Ser bailarino é não acreditar quando dizem "Só mais uma vez."
Ser bailarino é esperar ansiosamente pela distribuição dos papéis para o espetáculo.
Ser bailarino é encolher ainda mais a barriga quando nos tiram as medidas para os figurinos, sabendo que nos podemos vir a arrepender por não conseguir respirar dentro dele.
Ser bailarino é ouvir berros e berros de "Outra vez" que fazem com que toda a gente se sinta ansiosa pelo grande dia.
Ser bailarino é penteados, maquilhagem e trocas de figurinos em segundos.
Ser bailarino é sentir que a nossa mãe nos deu à luz num palco.
Ser bailarino é dançar em frente a uma plateia e, na altura dos agradecimentos, sentir que todos aqueles aplausos são exclusivamente para nós, fazendo com que, por momentos, todas as dores, problemas e preocupações desaparecem para dar lugar à ilusão que somos os melhores bailarinos à face da Terra.
Ser bailarino é sonhar com as ponta dos pés no chão e voar enquanto saltamos.
E este ano, eu queria ser uma bailarina a sério, por isso, antes de tudo, olhando para a fachada principal do edifício, respirei bem fundo.Entrei pela porta direita, cumprimentei as senhoras da secretária e dirigi-me para o corredor dos balneários. Quanto mais me aproximava, mais o cheiro a laca, resina e suor se intensificava. Sentia o friozinho na barriga a crescer a cada passo que dava, a cada vez que inspirava, a cada vez que pestanejava. Não sabia o que se passava comigo. Era estranho eu estar tão nervosa para o primeiro dia, mas o meu instinto dizia que ia ser diferente.
- Bom dia, Emma. -as raparigas que se encontravam dispersas pela divisão cumprimentaram-me e de seguida começaram a cochichar.
- Bom dia, meninas. -eu retribui passando entre as pernas de algumas colegas que estavam sentadas no chão, até chegar ao meu lugar.
Não é que tenhamos lugares marcados ou uma placa com o nosso nome, mas há certas rotinas que todas nós seguimos e o lugar no camarim e na barra acabam por ser sempre os mesmos. O meu era no canto, colada à parede branca e rugosa, que só para me agradar mais, tinha uma ficha de electricidade onde eu punha o meu telemóvel a carregar. Tinha um espelho rectangular com as conhecidas lâmpadas de camarim, um balcão onde cabiam todas as minhas coisas necessárias antes da aula e estava a uma distância perfeita do aquecedor. Resumindo, era o local ideal e só eu é que sabia.
Tirei do meu saco todo o material que era necessário para proteger os meus dedos dos pés da crueldade que são as pontas. Tirei também as pontas dadas pelo Harry que me fizeram logo sorrir. Enquanto queimava as extremidades das fitas que estavam cozidas às pontas, alguém me abraçou por trás.
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I hate myself because I love you
Fanfiction"Destruiste o meu sonho. Aquele que eu lutei a minha vida toda. Mentiste-me e enganaste-me. Achas isso uma prova de amor? Afinal tinha razões para não gostar de ti quando te conheci... E é isso, eu odeio-me porque mesmo assim ainda te amo."