Capítulo 71

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Encontrava-me dentro daquele estúdio à mais horas do que aquelas que conseguia contar com os meus dedos das mãos e nem podia esperar para que aqueles últimos 15 minutos passassem. Os meus pés estavam enchados e notava-se o vermelhão até por cima dos collants quase brancos de tão desgastados que estavam. O meu fato preto estava colado ao meu corpo e se não fosse estar um dia gélido, o cheio a suor seria insuportável devido à quantidade de almas que se encontravam ali a dançar sem parar. O corpo de baile estava a terminar de rever uma última vez a sua dança do segundo ato, do sonho do D. Quixote e depois iriam para casa, junto das suas famílias. Por muito improvável que fosse, eu também iria, assim que fizesse a última variação da Dulcinea. Iria para casa, onde o meu namorado e o meu irmão deveriam estar a acolher o resto da banda para um jantar e um serão bem passado. O Harry iria tratar da refeição e o Zayn das bebidas e a Perrie, juntamente com Sophia, iriam remodelar a sala de maneira a que estivéssemos o mais cómodos possível enquanto víamos um filme todos juntos. A ideia tinha sido de um dos rapazes e eu, que até nem era grande fã de convívios, tinha adorado a ideia, nem que fosse para passar mais tempo com os meus amigos. Realmente o Zayn tinha razão em relação ao que me dissera, na passada semana, e eu realmente entendi o porquê do Harry não ter ficado em minha casa nessa noite. O meu irmão tinha falado com ele para saber a sua opinião e ele, infelizmente, concordara. Era para meu bem, por isso, começamos a controlar os nossos instintos de estarmos a todo o momento juntos e aprendi a lidar com a saudade que sentia por ele e transformá-la em amor assim que saltava para os braços dele.

- Emma, que achaste da minha variação? -a minha melhor amiga pediu-me opinião muito baixo, por respeito à bailarina mais nova que estava a fazer o seu solo do Cúpido.

- Em geral, está mesmo muito bem, mas acho que já te vi a fazer os fouettés italianos melhor. -eu lembrei-me de um ensaio em que todas as pessoas começaram a bater palmas enquanto a Jessica lançava a perna para o ar, girava e ficava com essa mesma perna dobrada atrás e repetia tudo de novo.- Mas já estamos todos tão cansados que é perfeitamente normal isso acontecer, não te preocupes -eu pisquei-lhe o olho e entreguei-lhe o telemóvel.- Filmei a variação, caso querias ver.

- Muito obrigada, Em. Vá, arrasa lá com isto, num instante, para irmos para casa ter com o pessoal. - a Jess encorajou-me vendo que o pianista ia começar a tocar a minha música.

Contava até 8 repetitivamente, porque o Mestre Acosta tinha alterado os tempos do meus solo, para eu mostrar algumas posições e dar-me mais algum tempo para respirar. E, 5, 6, 7, e... 8. Suspirei junto na diagonal dos saltinhos, porque na última vez ouvira o meu joelho a estalar de uma forma não muito graciosa e isso preocupou-me ligeiramente, mas no canto oposto, já tinha passado e eu soltara um sorriso genuíno.

- Isso Emma! Sorri! Mostra que estas felicíssima... -o George deu um salto na cadeira fazendo com que alguns se assustassem de tão inesperado que fora.

Fiz uma nova diagonal e ria-me com a lembrança da voz do Harry num dia em que me viu a ensaiar no meu estúdio de casa: Porquê que andas aí a correr de um lado para o outro feita tola? Eu sorria porque o Harry via o ballet de uma maneira muito simples e pura. Ele não entendia o porquê de eu fazer ambas as diagonais do cantinho superior direito para o inferior esquerdo. Era óbvio que eu podia só dar uns passos na pontinha dos dedos e começar uma diagonal para a esquerda, mas não iria ser tão boa como a anterior. Simplesmente cada bailarino tinha um lado melhor que o outro, sendo assim alteradas as variações de acordo com a preferência dos artistas. Era uma coisa boa para pormos a lista de prós do ballet que o Harry não entendia lá muito bem.

- Foi bom, mas o que eu te vou dizer pode parecer um bocado contraditório; na segunda diagonal, a dos sissone fermeé, tenta não abanar tanto os braços, mas também não os mantenhas muito fixos porque se não, pareces um robô. -o coreógrafo aconselhou-me e eu experimentei fazer os saltos para a frente abrindo as pernas em espargata, para tentar fazer direito os braços.- Está ótimo, é mesmo isso, no meio termo. Estão todos dispensados, vemo-nos horas. Boa noite.

I hate myself because I love youOnde histórias criam vida. Descubra agora