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Algo pequeno, frio e macio pousou sobre os cílios de Selene, desmanchando-se em liquido e escorrendo em uma linha fina abaixo de seus olhos suavemente fechados.

          Sentiu aquilo escorrer; água gelada, pensou. Não se recordava de que antes estava chovendo. Sentia o corpo quente e encolhido, envolvidos por algo forte e musculoso. Abriu os olhos trêmulos, franzindo o cenho. Seu rosto estava encostando por essa mesma superfície quente e Selene levantou a cabeça vagarosamente, descobrindo quem a segurava – o que ela percebeu rapidamente, de fato, que estava a segurando.

          Era Maze.

          Ela vislumbrou seu rosto por um momento; sério e exaurido, ferido e com hematomas horríveis. Quando percebeu que Selene estava o observando, os olhos do Exorcista se voltaram para ela. O dourado daqueles olhos parecia completamente cansados, sem aquela brasa furiosa que mantivera momento antes.

         — Não tente se mexer, Midnight. – Sua voz saiu rouca e Selene sentiu o estomago contrair quando viu o corte nos lábios de Maze.

         Com sua teimosia, ela se remexeu nos braços dele e parou abruptamente, sentindo o corpo inteiro doer, cada entranha clamando para que ela parasse de esforçar algo sem energia.

         — Garota teimosa. – Disse Maze, balançando a cabeça – Porque acha que estou te carregando? Está completamente sem forças para poder andar.

         Selene grunhiu, aturdida. Olhou além de Maze, para o céu. Quase se esquecera que havia lutado contra um homem de cabelos cinzas, lutara para impedir que um Elemental das Trevas fosse invocado, para que o caos não caísse sobre a Terra. O céu estava cinzento como metal, as nuvens densas e neve caindo, no entanto. Neve. Não se lembrara de que estivesse nevando antes de tudo. Ah. Lembrou-se. Quando fez que aquela onda gigantesca se congelasse e se estilhaçasse, ao invés de virar cacos afiados de gelo, transformou em pequenos flocos macios e brancos.

         Se ela fez com que o inverno viesse em tempo adiantado, até se sentiria honrada. Afinal, estavam em novembro.

         — Todo mundo está bem? Alguém... – ela interrompeu a si mesma, lembrando-se de Agatha, na qual a energia fora drenada e que a deixou tão fraca, quase impossível de lutar. – Alguém morreu?

         — Entre nós, ninguém está morto. Em relação ao resto da Academia, eu não faço ideia. Não se preocupe com isso. – Disse Maze sem olhar para ela, a mandíbula rígida. - Não faça esforço para perguntar alguma coisa. Vai acabar com você.

         Selene não se sentiu aliviada, no entanto. Precisava ver com os próprios olhos se todos estavam bem. Mesmo com a ideia de pensar em alguma coisa, sua cabeça se contraía e doía ainda mais.

          A contragosto, ela obedeceu ao Exorcista. Se encolheu ainda mais, enterrando o rosto no peito dele, recebendo seu calor estranhamente confortável. Fechou os olhos, sentindo os braços de Maze a apertarem.

         Selene abriu os olhos novamente quando começou a escutar murmúrios que se transformaram em uma onda repleta de pessoas falando alto demais. Ainda estava nos braços de Maze, mas quando ergueu os olhos, não enxergou o céu, mas o teto alto da enfermaria. Fez uma careta quando recebeu a iluminação branca e quando seu corpo começou a se afastar do calor que a aqueceu, logo em seguida sentindo algo macio abaixo. Maze a colocou cautelosamente em cima de uma das camas da enfermaria e outro par de braços a envolveu em um abraço forte e familiar.

         — Selene – a voz do pai ecoou em seus ouvidos como um sussurro urgente – Você está viva. Você se sente bem? – Jack recuou para visualizar Selene, a expressão completamente exausta carregada de preocupação. – Seu rosto...

Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2Onde histórias criam vida. Descubra agora