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Uma risada cruel ecoou na mente de Selene, fazendo-a acordar.

Ainda estava na enfermaria, as luzes apagadas e a única claridade que dava iluminação ao lugar era do céu, entretanto, não de raios do sol. Os olhos de Selene fixaram-se nas janelas, observando a neve cair, lenta e serena. Olhou para Agatha que dormia calmamente, a cor já havia voltado ao seu rosto. Antes que olhasse para a cama onde se encontrava Ethan, Selene viu o pai dormindo em uma poltrona, assim como no dia que a senhora Judith – possuída por um demônio – quase a matou. Dormindo, o pai parecia uma criança.

Sorrindo e balançando a cabeça, Selene olhou para Ethan, que estava olhando para ela, os olhos verdes-esmeralda brilhando. Levou um susto grande, disfarçando com uma careta engraçada.

— Faz tempo que está acordado? – Perguntou ela.

— Não muito. Fiquei pensando como tudo acabou ontem. Como tudo parou de ser invocado de um jeito estranho. – Ethan sentou na cama e piscou os olhos, franzindo o cenho e estremecendo. – E caramba, você fez nevar. Está frio demais.

— Acho que eu não fiz nevar – Selene riu baixinho, virando de um modo que não fizesse barulho e que as agulhas não saíssem de sua pele. Manteve o cobertor quente em cima das pernas cruzadas. – E o modo que tudo acabou pareceu fácil e estranha, de verdade. Se conseguimos parar aquilo, não temos o que reclamar. Fomos heróis.

— Isso com certeza. Fazer o que fizemos foi muito maneiro. – ele riu, bagunçando o cabelo já emaranhado. – Tenho que agradecer a essa vida que tenho agora.

Selene jogou a cabeça para o lado. Ela não sabia muito de todos que fizera amizade ali, embora não fosse intrometida. Agatha havia dito algo semelhante, que preferia ter essa vida do que a antiga. Será que a vida de todos era parecida com a dela? Uma vida dolorosa?

— Eu tinha uma vida difícil em Los Angeles. – Começou Ethan, colocando o cobertor por cima dos ombros, fixando o chão. – Tudo bem que eu sempre fui rodeado de pessoas, mas vieram mais depois que eu virei o herdeiro da empresa do meu pai. Para mim, aquelas pessoas só estavam perto de mim porque minha família tinha dinheiro. Eu não queria pessoas assim ao meu redor. – sua voz soou amarga. Selene não entendeu muito bem o motivo por ele estar dizendo aquilo a ela, entretanto, manteve-se compreensiva.

— Eu fui forçado a estudar coisas que não queria. – Ethan continuou. – E mesmo que eu dissesse que não, meu pai era severo demais. O lado bom disso era que minha mãe sempre esteve ao meu lado e defendia meus desejos e minha oposições. E quando eu fui Marcado... – ele balançou a cabeça, abrindo um sorriso distante – Meu pai disse que não queria ter um herdeiro rebelde e que possuísse algo tão deplorável. Deplorável.

— Ethan... – Selene entristeceu o olhar. Deplorável, um dos antigos vizinhos dela a chamavam assim.

Então Ethan também teve uma vida dolorosa.

— Houve muita briga e quando um dos professores chegou para explicar tudo, eu decidi que viria para cá. Abandonaria aquela vida rodeada por hipocrisia e viveria onde teria a chance de ser eu mesmo. Onde ninguém ficaria perto de uma pessoa só pelo dinheiro que ela tem. – ele respirou fundo, olhando para Selene. – Por isso que eu prefiro estar aqui. Sair matando demônios é bem legal, além de controlar o fogo. Não é qualquer um que pode fazer isso, né?

O sorriso de Ethan parecia como de um garotinho, feliz por estar com outros garotos com quem pode conversar e ter uma verdadeira amizade. Embora soubesse que havia pessoas com vidas tristes pelo mundo afora, Ethan era uma das pessoas que agora conhecia e que havia tido uma vida assim, não igualmente à sua, mas dolorosa e onde sempre tinha alguém para te chamar de deplorável ou qualquer outra palavra.

Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2Onde histórias criam vida. Descubra agora