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- Fico feliz em vê-la, Pandora. - disse Amon atrás de Selene. - Embora não esteja em sua verdadeira forma. Não é você que despreza possessão de corpos?

- Este dia é importante, então precisava possuir algo tão valioso a alguém. - Cindy olhava para Selene com as órbitas oculares negras, um círculo brilhante azul indicando o que outrora fora uma íris. Selene estava sentindo a energia do corpo se esvair, desaparecer no ar gélido do inverno e nunca mais voltar. Ela não estava vendo aquilo. Não poderia ser Cindy.

- Cindy? Não pode ser você, não é? Cindy? - sua voz soou fraca, um meio sorriso vacilando no rosto, dando um passo adiante após o peso gravitacional se retirar dela. - Cindy está em casa e eu vou vê-la para comemorar meu aniversário, assim como todos os anteriores. Ela não pode estar aqui, não desse jeito...

- Ela realmente estava em casa, porém tive que fazer uma visita repentina. - O tom de voz que saia da boca da amiga parecia tão diferente, rouca e outro tipo de voz tentando tomar conta. - Encontrei um dos tesouros mais precisos de você, Selene, um tesouro que iria perde-lo mais cedo ou no mais tardar. Agora, não é Cindy que fala convosco e sim Pandora.

- Não pode ser Cindy! - berrou Selene, os olhos lacrimejando.

- Fora um tanto difícil possui-la, para falar a verdade. - Prosseguiu o que, naquele exato instante, era Pandora. - Pelas memórias dela, a vida lhe deu a força o suficiente para não ser manipulada nem por humanos e muito menos por demônios. Cindy é extremamente forte comparado a tudo o que já passou, claro, por sua causa.

As mãos de Selene tremularam ao redor do cabo da espada, cedendo aos poucos. Cindy usava um vestido azul-celeste rodado de festa, as pontas dos dedos sujas de sangue desconhecido. Aquele rosto não era o que ela conhecia, não agora. Não é ela, disse uma voz obscura dentro da mente de Selene, se fosse ela você teria corrido e a abraçado, relembrando cada momento em que passaram juntas como se acabassem de tornarem amigas. Melhores e únicas amigas.

- Eu não quero acreditar - disse Selene, a voz saindo mais trêmula que o próprio corpo - Seja lá quem você for, Pandora ou outro maldito demônio, por favor, deixe Cindy em paz. Ela não tem nada a ver com isso, não tem nenhuma relação com a ambição de vocês...

Pandora riu.

- Nenhum ser humano é capaz de viver em paz neste mundo, Selene. - disse - Nem após a morte, o que deveria ocorrer de fato. Cindy talvez poderá ficar em paz em caso me entregar a chave que possui.

Os olhos de Selene se arregalaram.

- Eu não tenho chave nenhuma! Todos vocês, demônios, vivem me pedindo, pedindo aos meus amigos por uma chave inexistente! Deixe Cindy, mas pare de pedir algo que não tenho!

- Há demônios que adoram brincar com humanos, porém eu não sou um deles, não me permito em rebaixar a tal nível. - Pandora olhou para as unhas de Cindy, analisando-as como se fosse uma simples garota. - Sei que está com a chave, então me entregue. Pouparei a vida de todos neste lugar se o fizer.

- A senhora Judith disse a mesma coisa, o demônio que a possuiu - Selene disse entredentes, a mistura de fúria e desespero enchendo o peito como uma onda. - Demônios não poupam vida de nada. Não me venha com esse argumento.

Por um instante, ela pensou ter visto uma expressão de surpresa passar pelo rosto de Cindy - Pandora -, logo em seguida o erguer do braço direito. Selene pôde ver o laço de seda azul no pulso dela.

- Não duvide de minha palavra. - disse Pandora. Ela indicava algo com o dedo, olhando para a mesma direção. Selene seguiu o mesmo caminho; apontava para Ethan e o ser sobrenatural que lutava contra ele.

Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2Onde histórias criam vida. Descubra agora