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Não era apenas uma brisa, era uma ventania que agredia o rosto de Selene, fazendo os cabelos longos e negros balançarem com violência. Seus olhos estavam fechados e pressionados, gritando e gritando, um sorriso largo esboçando a face, os braços erguidos e esticados. Podia ouvir o grito de pânico ansioso de outras pessoas, especialmente de Cindy. Abriu os olhos; logo à frente do primeiro banco do carrinho da montanha-russa viu os trilhos descerem numa onda, arrancando risadas de sua boca, a adrenalina fluindo em suas veias.

O carrinho estava prestes a mergulhar em um painel com formato de uma máscara assombrosa com a boca aberta para a passagem dos trilhos, esperando os jovens agitados e desesperados fossem "abocanhados". Selene gritou de alegria, a paisagem toda ao seu redor num borrão.

Ao mergulhar, um túnel de calor inundou seu peito, agora tudo pegando fogo. As chamas produziam um som crepitante, porém não queimavam sua pele. O desespero conhecido tomara conta do coração de Selene, os olhos azuis arregalados, observando as imagens que percorriam sua visão; a casa do avô em chamas, montanhas de pessoas mortas sendo incendiadas com lâminas cravadas nos corpos.

Naquele exato momento, Selene sentiu a dor aterrorizante dos cortes de ambos os braços, o grito sendo sufocado e preso na garganta. Grite, grite. Não os deixe ir embora.

Selene sentiu um impacto gigantesco percorrer o corpo inteiro, algo macio estava sob ela, no entanto. Seus olhos estavam fechados agora, o rosto contorcido pela dor tanto pelo impacto quanto pelos cortes. Soltou um grunhindo contido, apoiando o corpo nas mãos enquanto tentava se levantar.

Abriu os olhos, levando um susto imenso que fez seu corpo estremecer, o frio na barriga a esmurrar com brutalidade. Estava cara a cara com Maze, o rosto do Exorcista numa careta dolorosa. Deu-se em conta que estava em cima dele, praticamente cada parte do corpo junto a ele. Maze abriu os olhos e os arregalou, o dourado faiscando. Selene pôde sentir o hálito quente entrar em contato com seu rosto tão próximo ao dele, os narizes se tocando, ambos arquejando. O coração dela disparou de tal maneira que a fez engasgar, em seguida fez uma careta e colocou a mão esquerda em cima do rosto de Maze, colocando-o para o lado.

­- O que está fazendo? - perguntou ele, a voz grave e profunda atravessando seus ouvidos. A mão dele pegou o pulso de Selene, retirando-a do rosto.

Ela olhou rapidamente para o pulso, sentindo os dedos calejados a tocando com uma estranha cautela. A dor dos cortes não parou de pulsar. Algo no antebraço direito de Maze chamou sua atenção; Selene avistou uma espécie de marca desbotada na pele na qual nunca vira antes. Olhou para o Exorcista novamente, encarando-o de maneira questionadora. O que diabos era aquilo?

Maze soltou o pulso de Selene e pendeu a cabeça para trás. Parecia exausto. O peito descia e subia como se tivesse corrido uma maratona e... Até que Selene se lembrara.

Ela havia caído em um buraco.

E Maze fora junto.

Imediatamente olhou ao redor, notando a completa diferença entre a clareira do Frick Park com a que estavam naquele instante. O campo de visão absorveu lentamente a paisagem; árvores altas, uma floresta parcialmente clara, folhas douradas, violetas e rosadas. Em algumas árvores haviam frutas, porém, possuíam uma tonalidade diferente, brilhante, pendendo nos galhos verdes.

Selene ficou boquiaberta. Nunca vira aquilo antes ou inspirara aquele ar puro com aromas reconfortantes irreconhecíveis. Onde eles estavam?

Ainda permanecendo em cima de Maze, sentada, Selene virou o tronco do corpo levemente para trás e uma ponta brilhante parou o continuo de seu movimento. As pupilas se retraíram, seguindo o olhar para o que estava diante de si.

A ponta de uma flecha a mirava, laminosa e brilhante sob os tênues raios de luz que irrompia a copa das árvores. Selene engoliu em seco e sentiu a mão de Maze puxar seu braço para baixo. Seus olhos se ergueram para o que apontava a flecha; uma mulher foi a primeira impressão que Selene teve entre a dor, espanto e fascinação.

A mulher abriu a boca, os olhos prateados arregalando vagarosamente.

- Razvoyer?


Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2Onde histórias criam vida. Descubra agora