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O que diabos é ele? Perguntou Selene mentalmente, a voz ecoando tão distante. Embora o homem que surgira do centro do círculo estivesse a alguns metros longe dela, Selene conseguia enxerga-lo com nitidez profunda e assustadora. A criatura era uma mistura estranha de humano com animal; corpo musculoso e extremamente alto, patas em tom avermelhado ao invés de pés, pele acinzentada fosca, cabelos grisalhos, rosto pontudo e marcado pela sua incerta idade, mãos que acabavam em garras ornamentadas e sangrentas, trajando um sobretudo negro amarrotado no qual setas saiam destes, movimentando-se como tivessem vida, chamas tremulantes nas pontas.

E Selene não saberia para onde o homem estava olhando. As órbitas oculares eram completamente brancas, sem algum vestígio de íris ou pupila.

- Não deveria me questionar das razões para que os demônios surgem neste lugar medíocre. - falou o homem, a voz saindo como tivesse duas em suas cordas vocais. O corpo de Selene se estremeceu ao ouvi-lo, a Marca pulsando descontroladamente em sua pele. - Porém, isto é tão óbvio quanto o meu propósito aqui, tanto quanto o propósito de todos os seres viventes deste Mundo. - ele virou-se para o grupo imóvel. - Oh, Selecionados e Exorcistas. Quatro de vocês deveriam sentir-se honrados pela minha majestosa presença.

Os olhos de Selene percorreram o mesmo caminho que os olhos cegos do homem. Se ela fosse sugerir algo, diria que ele olhara para Aly, Asher e Will. O último olhar repousou sobre ela e um choque percorreu na espinha. Ele sorriu, revelando dentes aguçados.

- Ora, não é que são vocês mesmo, as crianças dos quais o filho dele tanto fala? - disse - As crianças que tanto quer para ele. O filho dele tem razão. Aparentam mesmo serem muito valiosos.

Selene gesticulou para desembainhar a espada, logo em seguida o restante do grupo. O homem levantou as garras com os movimentos.

- Vamos manter o controle, está bem? - disse ele - Quero ter a oportunidade de me apresentar à vocês. Sou Behemoth, um dos Lordes do Mundo Infernal e...

Behemoth fora interrompido por uma flecha, segurando-a rapidamente antes de atingi-lo, como se estivesse pegando em um brinquedo que uma criança atacara. Selene olhou imediatamente para Liz; a pequena garota estava com o arco e flecha posicionados, mirando-os no homem.

- Flechas são ferozes, não? - Behemoth olhava para a flecha de Liz com desdém, o tom de voz de quem lamenta por algo. Com apenas a mão que a segurava, o homem destruiu a flecha com um único movimento, despedaçando-a enquanto caía no chão em farelos. - Duas delas atacaram duas crianças que possuem a chave.

As duas flechas prateadas que quase atingiram Aly e Will surgiram nas mãos de Behemoth, uma ainda com a proteção que Alexander fizera. Exceto por Sebastian, Maze e Amani, o grupo emitiu um ruído de espanto horrorizado.

­- Como você... - disse Alexander, o tom de voz falhando enquanto observava o homem com as flechas. Selene notou de relance os dedos trêmulos sobre o gatilho do Crossbow em que ele segurava.

- Aquele garoto não aprende mesmo. - disse Behemoth, a expressão solene. - Nunca se sabe o que se passa naquela cabeça; sempre comete erros incorrigíveis. Imagine só as crianças que possuem as chaves serem mortas por setas estelares? Aquele garoto mal sabe o que são de verdade além de escolhidos pelos malditos Anjos.

Behemoth apertou as flechas prateadas contra os dedos, ambas sucumbindo às cinzas. Ao fazê-lo, o grupo empunhou as armas, posicionando-se para lutar, avançando contra o homem. Ele gargalhou e demônios surgiram diante deles, números gravados na testa de cada um. As criaturas corram até eles; Maze e Amani bradando os Colt, Sebastian desviando de ambos com um salto, investindo força contra Behemoth. Cada um dos círculos nas pontas do cruzamento entre a Shady e Phillips Avenue foram até o grupo; bruxa, lobisomem, Leviatã, Wendigo e metamorfo.

Selene viu um borrão branco surgir diante de si e logo reconheceu quem era. A mulher mascarada da última Caçada gesticulava lentamente sua katana para corta-la, o movimento tão vagaroso que Selene sentiu-se atordoada. Ela bloqueou o ataque da mulher com a lâmina de sua espada, uma tinindo contra a outra. Pôde ouvir o urrar de demônios e do próprio grupo enquanto lutavam. E tudo acontecendo tão perto de Cindy.

A batalha fora temporariamente interrompida pelo estremecer do chão. Selene cogitou que fosse o círculo formado pelos Exorcistas assassinados, porém, uma cortina de fogo espalhou-se pelo menos na metade dos demônios invocados. Então Selene viu de relance; Jason havia chegado, apenas ele, levantando-se após outrora estar ajoelhado, chamas flamejantes até a altura dos cotovelos.

E, repentinamente, ela sentiu algo frio e afiado cortar sua pele. A mulher mascarada aparentemente não se importou com a olhadela rápida de Selene, aproveitando da guarda baixa que lhe propôs. Enfurecida, Selene encarou a mulher, trincando os dentes, rodopiando a espada graciosamente no ar. Recuou o corpo por instante e avançou na mulher, as lâminas retinindo. Estranhava a maneira que ela não dizia nada enquanto lutava, muito menos sorria como na última vez. O pensamento dirigiu-se para os Exorcistas assassinados, da maneira em que a mulher estava perto deles como... Como se fosse a causadora das mortes.

- Você matou os Exorcistas. - a voz de Selene saiu em um sussurro firme, fitando a mulher com os olhos cintilando de fúria. - Você os matou.

A mulher mascarada sorriu sombriamente para Selene e sem resistir a vontade de matá-la, ela não mediu esforços quando deu um soco com o cabo da espada. Por um instante, Selene até pensou em retirar aquela máscara do rosto da mulher, porém, o desejo de vê-la parar de sorrir era maior. A mulher pagaria por ter assassinado os Exorcistas.

Quando a mulher mascarada investiu força maior contra Selene, o chão estremeceu violentamente sob seus pés, fazendo-a cair. O impacto fora forte demais para poder se mover e continuar lutando, no entanto, Selene olhou em volta. Todos haviam caído, a visão trêmula, ouvindo algo distante atingir o chão como uma explosão, como algo desmoronando. Automaticamente dirigiu o olhar para cima; as nuvens densas e cinzentas escureceram os céus, um buraco formando a partir destas, linhas carmesins atravessando-o, cada um irrompendo dos círculos. Um símbolo enorme desconhecido surgiu no céu, direcionado para o círculo central do cruzamento.

Os cortes de Selene arderam como fogo.

A Marca pulsou tão intensamente que o corpo amoleceu.

A risada familiar, cruel e gélida ecoou pela cidade.



Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2Onde histórias criam vida. Descubra agora