26

7K 824 77
                                    

A voz da mulher a sua frente, apontando uma flecha em sua direção, era completamente irreconhecível. Nunca escutara aquele tom, timbre, altura, nada. Parecia ser de outro mundo.

O corpo de Selene ficou imóvel, olhando para a mulher com os olhos igualmente arregalados, tentando processar o que ela havia dito. O que era Razvoyer?

Então a mulher soltou uma risada amarga e curta, os olhos prateados faiscando de deboche. Selene sentiu a mão cálida de Maze pressionar seu pulso com mais intensidade, como se estivesse lhe avisando de algo. Ela moveu os dedos da mão livre, disfarçadamente, levando-a para mais perto do próprio corpo na intenção de agarrar aquela flecha e quebra-la.

- Humanos - disse a mulher novamente. Agora, a voz parecia muito familiar a Selene; uma mistura clara rouca e sutil, quase sarcástica. - Aqui não é de muito costume comer a carne humana, mas talvez experimentar pela primeira vez não seja tão ruim. - ela sorriu, encostando a ponta da flecha no meio da testa de Selene. - Ah, e não tentem me atacar, principalmente você. - os olhos dirigiram-se para Maze. - Mexa um músculo que essa coisinha aqui irá atravessar o crânio dela.

Selene sentia a ponta quente da flecha na pele, os dedos do Exorcista pressionarem o pulso. Ela não fazia ideia de onde estavam, porém sabia que era diferente da clareira do Frick Park, diferente da Academia, diferente de tudo que já vira. Se sabia disto, não provocaria uma luta sem ter o conhecimento sobre seu inimigo.

- Quem é você? - perguntou Selene, a voz saindo confiante. Nunca mostraria que estava tensa diante de uma flecha e uma ameaça.

Quando o sorriso da mulher se alargou, ouviu-se gritos triunfantes ao redor, o som das asas de pássaros batendo, voando para longe. Selene estreitou o olhar, tentando saber o que se falava aos gritos. Ninguém gritava nada do que conhecia, nenhuma palavra.

Maze levantou tão rapidamente como o som, puxando Selene para trás, pondo-se à sua frente. A mulher percebeu o movimento, afastando-se deles, ainda apontado a flecha. Ela praticamente tinha a mesma altura alta do Exorcista, trajava uma saia de textura desconhecida um pouco abaixo dos joelhos e uma corda vermelha aparentava segurar esta, uma blusa curtíssima preta gasta cuja as alças enlaçavam a nuca, mostrando a barriga. Os seus cabelos eram escuros e amarrados ao alto do lado direito da cabeça. Selene viu um Caçador de Sonhos na orelha esquerda da mulher, cheio de penas longas brancas pendendo nas pontas. Os pés estavam descalços e havia joias douradas nos tornozelos. Contudo, o que impressionou Selene fora a pele morena marcada, repleta de cicatrizes. Engoliu em seco, imaginando o que a mulher passara. Cicatrizes feias de dores inimagináveis.

- Ah, você não vai querer tentar fazer isso. Estamos em território perigoso demais para começarmos uma luta. - disse a mulher com um suspiro, encarando Maze. Sua posição era selvagem, predatória, observando cada respiração que cada um dava. Selene sustentou o olhar, cerrando os punhos nas laterais do corpo. - Ainda mais vocês, humanos, que com certeza caíram aqui e nem sabem como.

Um urro aterrorizante irrompeu a clareira; Selene deu um passo para frente, procurando o causador. Seu olhar caiu através da mulher, logo atrás dela, acima de galhos verdes das árvores fascinantes. Uma espécie de alce encarava-os, os olhos em total escuridão, os chifres curvilíneos enormes flamejando com chamas negras, a boca com sangue pingando. Selene ficou chocada e maravilhada ao mesmo tempo, boquiaberta, o coração acelerando e a pele eriçando, esquecendo-se da dor dos cortes que pulsavam.

A mulher pareceu notar o olhar dela e virou-se, apontando a flecha para o alce e atirando. Atingiu-o com um estampido e ele urrou de dor.

- Vocês querem morrer? - perguntou a mulher com um salto de recuo. - Se sim, continuem neste lugar e sejam devorados por eles. Em caso a resposta seja não, me sigam correndo.

Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2Onde histórias criam vida. Descubra agora