A pele de Selene eriçou com o som que vinha ao longe.
- Ah, o barulho infernal da onda. - disse Alya, tranquilamente. Selene voltou a atenção para ela, levantando uma das sobrancelhas. - Todo ano isso acontece; quanto mais perto a onda chega, mais barulho ela produz. É um tipo de prévia do dia de Khurbnium.
- E por que estamos colhendo essas plantas? - perguntou Selene, segurando o cesto novamente. Deixou o assunto "vinculo amoroso com Maze" de lado temporariamente. - Não seria bom se todos permanecem dentro das casas?
- Se fizéssemos isso, com certeza estaríamos chamando a onda para nos aniquilar de vez - a mulher enlaçou o dedo indicador na folhagem de uma das cenouras e puxou para cima, colhendo-a, mostrando um brilho pulsante - A Colheita é uma forma de mostrar que há vida nesta terra e que não pode ser abalada. Com ela podemos comemorar a véspera do dia de Khurbnium, acendendo uma fogueira, reunindo todos e cantando. A onda traz consigo a morte, sendo capaz de secar algumas plantações por causa da energia mortal.
- E já que estamos colhendo... - Selene olhou ao redor, analisando todos que ajudavam na colheita, conversando, rindo, sem demonstrar o medo por algo tão perigoso se aproximando. Quase abriu um sorriso de admiração. - O dia da véspera será hoje, não é?
- Exatamente - Alya deu uma piscadela, mordiscando a cenoura que havia colhido - A véspera é nomeada como Fintsternish iz kumendik yeung totya, ou, no idioma dos humanos, "As Trevas estão vindo para todos nós. " Iremos nos reunir daqui a alguns minutos, enquanto amanhã será ao anoitecer.
As Trevas estão vindo para todos nós, pensou Selene. A nomeação daquele tipo de véspera parecia contradizer tudo o que os Exilados iriam fazer; cantar enquanto o perigo mortal se aproximava. As Trevas... Então o dia de Khurbnium seria, na verdade, o dia de Trevas? O que levou o dia ter esse tipo de nome?
- Estamos quase lá, Selene - disse Alya, erguendo o cesto e colocando-o sobre a cabeça. - Agora só falta arrumar tudo o que colhemos em volta da fogueira que ainda será armada.
Selene assentiu, apoiando o cesto no quadril. Antes de seguir a mulher para qualquer lugar que fosse, deu uma última olhadela para trás, podendo escutar sussurros além dos horizontes que rodeavam aquela terra.
Selene observava as cenouras brilhantes com as pontas cravadas no chão, todas formando um círculo logo atrás de várias espadas na mesma formação. No centro havia madeiras escuras amontadas para atear o fogo e, embora tivesse outras plantas no mesmo posicionamento que as cenouras, ela ainda se perguntava o motivo daquilo. Seria para assar a colheita e depois devora-la? E por que havia espadas ali? Não perguntara nada a Alya; a mulher estava mergulhada em carregar troncos gigantescos para que os Exilados pudessem sentar ao redor da fogueira e cantar.
O céu começara a tingir-se de laranja suave, as nuvens como um borrão macio pairando na Terra dos Exilados. A canção dos pássaros era tranquila em meio ao som do correr dos finos rios. A brisa era fria, soprando o cabelo de Selene enquanto ela percorria os dedos nos cabos das espadas. Lembrara de sua espada na Academia, como era tão insatisfeita em usa-la apesar de ter derrotado demônios em pouco tempo. Quando enterrou a lâmina no peito de Pandora no dia de seu aniversário. A raiva embrulhou o estomago, fazendo Selene engolir em seco, respirar fundo e desfazer a posição que estava para olhar a formação de tudo. Queria poder encontrar aquela mulher e matá-la verdadeiramente, poder puni-la por ter matado Cindy. E se ela não havia desaparecido... O que estaria fazendo agora com ela e Maze tão distantes da Academia? Tão distante de todos?
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Elementais das Trevas - Os Cavaleiros do Inferno #2
FantasyOs enigmas que perseguem Selene são mortais. Após sua vida ter mudado completamente - assim como sonhava - Selene se vê em uma situação complicada na qual não imaginava como de costume. A batalha contra os Nove Portais Demoníacos cessou, assim como...