Quando voltamos ao Centro de Treinamento, nós somos tomados pela equipe de preparação que tenta controlar as folhas que dão voltas em nossos corpos. Olho para a Circe, toda aquela maquiagem, aquele vestido e todo esse glamour a deixou tão velha ao ponto de me fazer sentir medo, digo, de me fazer sentir mais medo ainda. Descemos da biga e olho em volta, assim percebo que não eram apenas os Tributos do Distrito 1 que nos olhavam de cara feia, alguns outros Tributos também estavam nos olhando assim, roubamos o brilho dos outros Distritos. Enfim as folhas foram retiradas e já podemos sair desse clima tenso imposto pelos outros Tributos.
Subimos o elevador da Torre de Tributos do Centro de Treinamento em pura euforia, pelo menos pela parte da equipe de produção, a Circe brincava com o "tecido engraçado" de seu vestido e eu passei o tempo conversando mentalmente sobre o desfile com Bill. Eu já tinha andado de elevador algumas vezes; no prédio de justiça tem um elevador para os cadeirantes não morrerem subindo as escadas e um no fim do corredor principal para ir de um andar para outro, geralmente eu uso para ir buscar o salário do meu pai, ou para declarar o lote de extração, o quanto nós retiramos de madeira por semana. Chegamos ao sétimo andar e as portas se abrem com um ar de exaustão.
Todos saem do elevador e se dirigem aos seus quartos, eu precisei da ajuda do Sean para encontrar o meu, o Bill entra comigo. Nossa, o quarto era enorme, maior que minha casa, com certeza, uma cama enorme e uma vista maior ainda para a capital me deixaram impressionado, corro até a janela e me apoio no vidro, de repente a janela dá um zoom onde eu estava apoiado, me afasto assustado, fico olhando.
— Vai lá, eu sei o que você está pensando, toque novamente. — Disse a voz de Bill em minha cabeça, por um momento achei que fosse eu mesmo pensando.
Me aproximo novamente da janela, e dou um toque sutil e zás no canto da tela aparece uma lista de dados sobre o local, como, a maneira mais rápida de chagar até lá, que tipo de coletivo pegar, etc. Olho para o Bill, surpreso.
— Tenta falar algum lugar que você queira estar, quem sabe ele localiza.
Fico olhando para imagem na tela, pessoas saindo do desfile, indo para suas casas e mais à frente, a casa do presidente.
— Quero ir para o Distrito 7, floresta de carvalhos.
No começo a tela não fez nada, mas depois ela deu um estalo e a imagem deu um pulo para uma vista de satélite, em seguida apareceu na tela: LOCALIZANDO: FLORESTA DE CARVALHOS, DISTRITO 7. O símbolo do Distrito apareceu na tela, e logo depois, uma vasta floresta repleta de enormes árvores, era como se eu estivesse em minha casa, vendo a mesma floresta pela mesma janela. Me sento na cama e fico observando.
— Hãmmm... Som ambiente! — Digo, esperando que meu pedido se realize. Em seguida eu podia escutar o som dos grilos e das corujas ao longe. Suspiro.
● ● ●
Corro a mão pela válvula que liga o chuveiro e sinto a água quente escorrer pelo meu corpo. Lavo meu rosto e a maquiagem verde desce pelo ralo, pego um shampoo e pingo algumas gotas em minhas mãos, as esfrego e passo pelo meu cabelo, imediatamente os diversos tons de marrom se misturam com os de verde no ralo, trazendo de volta o preto natural dos meus cabelos. Saio do banheiro me enxugando e encontro em cima da minha cama um daqueles bilhetes da Celly dizendo que me esperava para um jantar com toda equipe de produção.
De alguma forma, todos sabem meu tamanho e o quanto eu calço, pois, todas as roupas do closet cabem perfeitamente em mim. Visto uma camisa preta e uma calça de pijama azul, calço umas sandálias e saio com o Bill para o corredor principal, lá eu encontro a Circe, mas ela me ignora quando eu tento falar com ela, até que é bom, pelo menos eu evito o contato com alguém que vai me matar na arena.
Quando já estou na mesa, uma daquelas mulheres mudas, do qual não me lembro do nome, — Avox, lembrei! — aparece e me oferece vinho em um gesto que quase passa à despercebida, eu nunca fui de tomar vinho, mas a ocasião pedia que eu o fizesse, então eu pedi para que ela enchesse a taça. Já é a segunda vez em que eu bebo vinho em um único dia, vou acabar embriagado. Ela repousa a garrafa na taça e despeja a bebida arroxeada em leves gargalos.
O Sean aparece quando o jantar já está sendo servido, ele senta ao meu lado e me pergunta o que eu achei do desfile, eu falo o quanto foi lindo, mas ainda me sinto tenso para a arena. Nós jantamos e conversamos bastante.
Quando o jantar acabou nós fomos para um tipo de sala de estar, com uma televisão enorme brandindo o símbolo da capital na tela, para assistir à reprise do desfile. Sentamos e assistimos ao desfile, começando com a carruagem do Distrito 1 com seus cavalos brancos e acessórios dourados, os Tributos da segunda carruagem parecem muito nervosos só seguravam na biga e olhavam para a frente o tempo inteiro, o Distrito 3 foi esplendoroso, seguindo do Distrito 4 que usava redes de pesca como roupa, o quinto Distrito soltava faíscas elétricas durante o desfile, os Tributos do Distrito 6 usavam trilhos por todo o corpo e um pequeno trem ficava dando voltas em torno deles, até que apareceu meu Distrito com sua roupa simples, aquele sobretudo marrom soltou um ar de pena vindo da plateia, que nos ignorou. De repente um bando de pássaros sobrevoou as outras bigas e ficou perto da nossa, foi nesse momento em que olhei para trás e quase enlouqueci a Glace.
— O quê?! Você olhou para trás! — Grita Glace — O que te falei, Arion?
— Calma Glace... — Interrompeu Sean — ele só estava olhando para os pássaros... Agora se senta que eles estão chegando ao sétimo par de tochas.
Glace se senta resmungando.
Nesse meio tempo nós já estávamos sem os sobretudo e a plateia tinha voltado sua atenção para a gente, até diversas folhas surgiram do nada, fazendo o bando de pássaros recuarem, e ficaram dando intensas voltas ao redor dos nossos corpos e nós levantamos nossos braços. Isso fez com que um "Uau!" fosse retirado até mesmo da boca da nossa equipe de produção que se levantaram e começaram a aplaudir, ignorando as outras bigas.
— Que fofos! — cita Celly — Eles levantaram as mãos, mostrando assim a união da família mesmo estando em jogos mortíferos. — Ela olha para mim.
Eu sorrio e faço um sinal de positivo com a mão. Vamos deixar ela pensar que foi realmente isso. Olho para a Circe e ela está recebendo elogios da equipe.
Depois da frenética Noite de Comemorações, eu entro em meu quarto com o Bill e um copo de água, caso eu acorde com sede, e peço para a janela me mostrar a floresta. Ligo o som ambiente e já me sinto em casa, repouso o copo na larga cabeceira da cama, levanto os lençóis e arrumo um lugar em uma almofada para o Bill se agasalhar, tiro os sapatos e me deito.
— Apagar as luzes! — Digo e imediatamente as luzes se apagam. Os dispositivos daqui reconhecem até a minha voz.
Fico deitado pensando no que te faz um Avox, A Celly me disse que é quando você faz algum tipo de ato rebelde. Arrumo a almofada e consigo dormir.
Acordo com uma chuva mansa batendo na janela, e percebo que a chuva não é na floresta do Distrito 7, mas sim nas ruas coloridas da Capital. O sol ainda estava se levantando o que me faz continuar na cama, os treinamentos só serão bem mais tarde, me viro e percebo que o Bill não se encontra no quarto. Sei que não vou conseguir dormir novamente, então jogo os pés da cama e bebo um pouco da água que estava na cabeceira.
Procuro algo para fazer enquanto o treinamento não começa. Procuro jogos, passatempos, papel e caneta... o máximo que eu consigo encontrar em uma das gavetas do criado-mudo é um livro de bolso escrito por um escritor cegamente famoso — Eu digo cegamente, pois ele furou os próprios olhos em busca de um dom maior —. O livro fala como se portar em eventos da capital e afins. Jogo o livro de volta na gaveta e me deito na cama. Fico olhando o teto.
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No Labirinto
FanfictionSinopse: Arion é um adolescente de dezesseis anos, que se safou muito bem de ser chamado nas últimas três edições dos jogos. Ele vive no Distrito 7 e sai todas as manhãs para sua jornada exaustiva de trabalho. Ele é o único dos irmãos que vai trabal...