A Porta

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— É melhor sairmos daqui... — eu apanhei a mochila e fiquei olhando Vênus olhando assustada para mim — Vai ficar tudo bem, Venny! — eu disse, para acalmá-la.

Voltamos a andar, por quase três horas sem abrir a boca um minuto.

Já era quase meio dia, o sol castigava muito. O chiado estridente das cigarras estavam quase me enlouquecendo.

As paredes do labirinto estavam começando a mudar de pedras desgastadas pelo tempo, para um metal preto, sem heras. Ao passar dos corredores de metal, no qual andávamos, era possível ver alguns símbolos cravados nelas, em uma língua que eu nunca tinha lido.

Vênus ia na frente, sacudindo o seu cantil que mais parecia uma galinha, e cantarolando alguma música. Eu e Zoe íamos mais atrás de Vênus, conversando. Misty e Kyle iam lá atrás, bem distantes, calados feito pedras.

O vento, enfim, estava calmo, frio. Sacudia nossos cabelos, mas refrescava-nos. Mas o sol ainda era quente.

O som do canhão não foi ouvido mais nenhuma vez, desde a última, em mais ou menos, três horas.

Vênus tinha o passo rápido, ela estava bem distante de nós, eu até pedi para ela andar mais devagar, mas ela não me ouviu. A pequena garotinha estava prestes a dobrar um corredor, quando de repente ela deu um gritinho, deixando cair o cantil. Ela se ajoelhou, e caiu de cara no chão, na sua cabeça havia uma flecha cravada. O sangue se espalhando pela areia. Eu gritei, mas o estrondo do canhão abafou o meu grito.

Eu tentei correr até ela, mas Zoe me segurou.

— Calma! — ela disse baixinho, sua voz se misturando aos passos distantes de algum grupo que se aproximava — São os carreiristas! Vamos dar o fara daqui! — Ele me puxou e fez um sinal para que Kyle e Misty a seguissem, eu corria tropeçando, sendo arrastado por zoe. Vendo o corpo magro de Vênus se distanciando, o som dos gritos de glória dos carreiristas à distância. Um dos carreiristas, acho que o Arca, chegou até o corpo inerte de Vênus e o chutou, ele virou o rosto e nos viu correndo.

— Ali! — ele gritou, apontando para a gente — Eles estão ali! — Então ele começou a correr em nossa direção.

Soltei-me do braço de Zoe, e comecei a correr.

— Eles estão vindo! — eu gritei.

Zoe olhou para trás.

— Corram! — ela gritou.

Dobramos um corredor. Passamos por um longo conjunto de paredes.

Então de repente, as paredes começaram a se mover. Algumas giravam, outras simplesmente se colocavam na nossa frente. Algumas vezes eu podia ver o grupo de carreiristas correndo atrás de nós, Circe entre eles.

As paredes deslizavam, moldando um caminho para seguirmos.

O som ruidoso das paredes se movendo era alto demais para os meus ouvidos, isso me fez correr as mãos até eles, para tampá-los. Eu só via poeira caindo de cima das paredes.

Uma das garotas do grupo preparou uma flecha, que saiu zunindo no ar. Nos errando por muito. Agradeço a má pontaria dela.

Uma parede caiu bem atrás de mim, o impacto me fez voar junto com toneladas de poeira, nos separando dos carreiristas. As paredes pararam de girar e de se mover. Do outro lado da parede era possível ouvir os outros reclamando.

— Estão todos aqui? — perguntei tossindo, minha garganta estava seca. Eu achava que estava só, uma enorme cortina de poeira não me deixava ver um palmo à minha frente.

— Eu estou! — disse Kyle — Misty está comigo.

O Som da tosse de Misty declarou que era verdade.

— Zoe? — perguntei.

— Estou aqui, bem do seu lado! — ela disse.

Dei um pulo. Ela segurou a minha mão.

— Okay — disse — estamos todos aqui!

Nem todos estamos aqui. Pensei. A Vênus ficou lá fora. Morta.

Esperamos a poeira baixar até termos certeza de que estávamos seguros.

Quando a poeira baixou totalmente, eu pude ver onde estávamos. Nós estávamos em um amplo corredor de paredes metálicas. As paredes ainda tinham aquelas inscrições estranhas nelas, que nos guiavam até uma enorme porta de ferro com um símbolo cravado nela. Devido à distância em que estávamos da porta, não deu para ver o que era o símbolo.

Não havia vento. Nem sol. Nem muito menos o céu.

Havia um teto de metal acima de nós, com uma enorme seta luminosa que apontava para a porta. Essa era única fonte de luz dentro daquele corredor.

Olhei para Zoe, ela entendeu o que eu estava querendo dizer. Então ela disse.

— Vocês acham que devemos entrar por aquela porta? — ela perguntou se direcionando ao casal.

— É a única opção que temos? — perguntou Misty.

— Sim! — Zoe respondeu.

Começamos a andar em direção à porta de ferro, duas piras de fogo ficavam à cada lado da porta. Ao começar a se aproximar dela, eu podia ver o símbolo que estava cravado. Era um enorme círculo com uma onda tingida preguiçosamente de azul dentro. Em baixo do símbolo haviam algumas inscrições como as das paredes.

Ficamos parados olhando para a porta. Eu estava com medo, minha barriga formigava. Eu não queria, e, ao mesmo tempo, eu queria saber o que tinha atrás da porta.

Um forte, e frio, vento — vindo de sei lá onde — entrou no corredor e apagou as duas piras que escoltavam a porta. Tudo escureceu. Imediatamente, a porta abriu. Revelando uma sala escura, mais escura ainda que o corredor que estávamos.

Um outro vento, dessa vez quente, balançou as piras, e elas se acenderam novamente. Algumas luzes dentro da sala também se acenderam.

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