Leito

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Um beep distante ecoava na minha mente. Tentei falar algo, mas um gemido rouco se colocou no lugar da minha voz. Me calei. Abri os olhos vagarosamente. Uma forte luz pairava acima de mim. Tudo era branco. Será que eu estava no céu? Tentei me sentar. Fiquei um pouco tonto então repousei de volta. Olhei ao redor. Ao meu lado direito haviam duas macas vazias, uma parede com uma janela de vidro que mostrava um corredor com tons de azul, algumas pessoas caminhavam para cá e para lá. Olhei para a direita, havia uma máquina que emitia beeps de acordo com os meus batimentos cardíacos, mais uma maca vazia e uma parede branca. Eu estava em um hospital.

Tentei me levantar mais uma vez, dessa vez com mais força. Me inclinei para a frente e metade dos fios que estavam pendurados em meu corpo se soltaram, emitindo um apito forte e ritmado. A porta se abriu. Uma mulher loura usando uma máscara de tecido no rosto veio correndo até mim.

— Calma Senhor Axeman, — ela inclinou meu corpo de volta para a maca — você precisa repousar mais um pouco!

Me deitei na maca, a moça pendurava os fios de volta em mim. Olhei para o lado. Um homem alto com os cabelos alvos, segurando algumas pastas nos braços, entrou na sala.

— Está tudo bem? — ele perguntou.

— Sim, sim. — ela direcionou o olhar para o homem e abaixou a máscara do rosto — Ele enfim acordou... — ela me olhou — Ah! Veja isso! — ela puxou o meu braço esquerdo e o mostrou para o homem — O ferimento cicatrizou por completo...

— Que bom! — ele pareceu não dar a mínima — Mas o que vocês farão agora? Manter ele escondido aqui no hospital não vai mais adiantar e ninguém lá fora pode saber que um tributo sobreviveu depois dos jogos.

A moça o olhou para o chão e em seguida olhou para mim.

— Myles já resolveu tudo... — ela voltou a olhar para o chão — O Presidente Snow virá aqui e decidirá o que vai acontecer com ele... Espero que acabe tudo bem. Eu não mantive ele aqui por quase dois meses para ele acabar sendo executado...

O quê? Eu tentei dizer, mas o som não passou de um ruído seco.

Minha vida está nas mãos do homem mais cruel de Panem. Estou morto.

— Então tudo bem... — o homem se direcionou à porta — quando Snow virá aqui? Quero aproveitar para conversar com ele em particular. O hospital precisa de verba.

— Já que ele acordou... creio que hoje mesmo o Presidente será notificado e amanhã eu acho que ele aparecerá por aqui.

— Bom saber... — o homem falou com uma expressão um tanto misteriosa — vestirei o meu melhor terno.

O homem passou pela porta, deixando apenas eu e bela moça na sala.

Ela olhou para mim e percebeu a minha expressão de espanto.

— Você deve estar se perguntando por que eu deixei que você ouvisse a conversa... — ela andou até um balcão, calçou um par de luvas, preparou uma seringa e voltou para a maca — Eu queria que você estivesse preparado para o que está por vir. — ela retirou um fio, de um objeto azul fixado no meu braço e aplicou a seringa no lugar dele, um liquido frio percorreu o meu corpo — Eu assisti os jogos e, sinceramente, eu torcia por você, mas a cena da sua irmã o matando foi tão real, que eu cheguei a acreditar que você tinha morrido... — ela voltou até o balcão, jogou a seringa e as luvas no lixo e sacudiu o cabelo. Ela voltou até a maca e se sentou perto dos meus pés — mas outro dia eu estava dando plantão aqui, quando um rapaz do setor do necrotério me chamou, ele disse que um dos tributos estava vivo, respirando e tudo o mais. O rapaz disse que não sabia o que fazer, pois isso nuca havia acontecido antes... Então eu pedi para que ele trouxesse o corpo. Quando eu vi que era você, eu não hesitei em salvá-lo. Eu trouxe você para essa sala, que é a última do corredor. — ela olhou para mim — Se o rapaz não tivesse me comunicado à tempo... você poderia ter morrido, por perda de sangue, infecção etc.

Fiquei chocado com a quantidade de informações para serem processadas.

1. Minha irmã não me matou para poder me salvar.

2. Ela forjou muito bem.

3. Fui levado para um necrotério estando à beira da morte.

4. Fui retirado do necrotério.

5. Passei quase dois meses em coma.

6. Fui realmente salvo.

7. Snow virá aqui para falar o veredicto.

— Se depois de tudo, você for executado... — ela hesitou — eu prometo que saio deste hospital!

Tossi.

— Promessa é divida! — minha voz saio rouca como uma mesa sendo arrastado no chão, mas pelo menos saiu.

— Não é que você, fala! — ela exclamou sorrindo — O remédio já está surtindo efeito... — ela andou até um telefone pendurado na parede e o retirou do gancho — vou pedir o seu almoço.

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