Touro

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Fiquei sentado onde a Zoe estava agora há pouco, a lua cheia que pairava no céu iluminava um pouco do longo corredor onde nos situávamos. O vento passava e balançava os ramos de heras que se estendiam pelos muros. Os cantos de alguns pássaros noturnos ecoavam pela escuridão da noite, e as nuvens negras rastejavam lentamente no céu negro. Eu escutava as distantes paredes se arrastando, se chocando umas com as outras, mudando de posição.

Meus olhos começaram a ficar pesado depois de duas horas sentado olhando para o nada, eu dava leves mergulhos no sono até ouvir o som de passos vindo do fim do corredor, mas não era o som de passos normais, era o som de cascos. Apertei meus olhos para ver o que vinha do fundo do corredor, mas sem sucesso, o som dos passos aumentavam. Então a luz da lua finalmente conseguiu iluminar a silhueta que se aproximava, era o corpo de um homem, mas com um enorme par de chifres na cabeça.

— O HOMEM-TOURO! — gritei.

Todos se levantaram de um pulo olhando para onde eu apontava, eles juntaram as coisas e começamos a correr em direção à fenda, o bestante não correu atrás de nós, ele mantinha seu passo lento. Chegamos ao final do corredor e nenhum sinal da fenda, tateamos toda a parede mas ela não estava mais lá.

— Droga! — xinguei— E agora?

— O jeito é termos que matá-lo! — disse Kyle. Ele sacou a espada da cintura, e a segurou bem firme com os dois braços.

Misty posicionou o arco com uma flecha, Zoe tirou seu chicote do bolso. Passei a mão pela cintura e senti que as três machadinhas estavam lá. Segurei duas com firmeza em minhas mãos.

— Arion, você está se sentindo melhor? — Kyle perguntou com um tom de preocupação.

— Sim! — respondi — Acho que dá para aguentar.

O homem-touro se aproximava, saindo das sombras escuras das paredes do corredor, e nos fitando com seus olhos vermelhos. Há uns quinze metros de distância.

O homem-touro de três metros mugiu e veio correndo em nossa direção, com a ponta metálica de seus chifres mirando bem em mim. Zoe desviou dele e ele continuou seu percurso vindo. Me abaixei em uma esquiva e ele passou direto. Ele parou bufando e se virou. Misty preparou uma flecha, mirou bem no seu peito e atirou. A flecha viajou no ar, cruzando os vinte metros que os distanciavam, em segundos. O touro humano viu a flecha se aproximando, a segurou com o braço direito e a quebrou no joelho.

Ele fitou Misty profundamente, o que fez ela ficar com medo, e correu até ela, rugindo alto. Ela soltou o arco e saiu correndo corredor a dentro, o touro a seguiu nos ignorando. Fomos atrás do touro, Kyle apanhou o arco e o pendurou, de alguma forma, no cinto.

Os passos do touro estrondavam no chão. Os rugidos desordenados do touro se misturavam com os gritos de pânico da Misty.

— Tive uma ideia! — gritou Zoe. — segurem os braços dele!

— Como? — perguntei — Olha o tamanho dele!

— Só façam o que eu estou dizendo!

Olhei para o Kyle e ele me olhou.

— Eu vou pela direita, e você vai pela esquerda!

— Okay! — respondi.

— Toma essa, vaquinha!

Kyle pulou no braço esquerdo dele e cravou a espada, o que fez com que o bestante parasse de correr e focasse o olhar nele. Ele jogou Kyle no chão e arrancou a espada do braço, jogando-a longe. O sangue escorria do braço dele, mas ele não parecia se importar, andou marchando até o Kyle. Eu corri e cravei, ao mesmo tempo, as duas machadinhas nas suas costas, ele grunhiu e se virou para mim, ainda com as machadinhas fincadas nas costas. Ele me pegou pelo pescoço, e me ergueu, eu me debatia, mas não podia fazer nada, estava ficando sufocado, ele apertava meu pescoço com força, eu achei que meus olhos fossem voar das órbitas.

Zoe esticou seu chicote e chicoteou a mão direita do bestante, o que fez sangue se espalhar em gotículas pelo ar e ele me soltar de uma vez só no chão, eu caí tentando puxar o ar de volta para meus pulmões. Ele passou uma mão por cima da mão machucada, e olhou para o corte que Zoe acabara de fazer. Ele bufou e partiu para cima de Zoe, que não correu. Ela se posicionou e o chicoteou bem no olho esquerdo, o que fez com que ele desse dois passos para trás grunhindo mais ainda com as mãos na cara.

— E aí, monstrão! — gritou Zoe — Vai fugir, agora?

Ele correu em direção à Zoe, mas passou direto, a ignorando. Ela lançou o chicote nas suas pernas fazendo ele cair de cara no chão. Ela subiu nas costas dele, arrancou as machadinhas e jogou elas na minha direção. Ele se levantou, derrubando Zoe, que rapidamente ficou de pé com o chicote firme em mãos. Ele olhou para trás, bem fundo nos olhos dela e saiu correndo.

— Você não vai fugir! — ela disse lançando o chicote mais uma vez em suas pernas, o derrubando.

Ele grunhiu de raiva e a puxou pelo chicote, ela saiu voando e caiu no chão, a poeira levantou. Ele se levantou, tirou o chicote da perna como alguém que tira um laço do dedo e ficou olhando para baixo, seus olhos de touro seguindo uma reta até o corpo da zoe jogado no chão. Ele se aproximou dela. Seus chifres reluzindo à luz da lua, seu bafo de touro fumaçando na noite fria, era possível ouvir seus ossos quando ele se movimentava. Ele levantou a perna repleta de pelos bem à cima da cabeça da Zoe, afim de esmagá-la. Seus pelos sacudiam no vento frio que insistia em nos fuzilar bem nesse momento. Ele continuou com a perna levantada, olhando fixamente para Zoe, que agora também o olhava, mas não com ódio e sim com medo.

Ele berrou alto. Fechei meus olhos com força, pois não queria ver a cena. Esperei pelo som do crânio sendo partido, e do sangue sujando o chão. Mas eu não ouvi nada. Abri os olhos. O homem-touro estava agora com a cara de surpreso, olhando para a flecha cravada em seu peito. Misty! Pensei. Foi aí que uma voz atrás de mim gritou:

— Morra! — era a voz Misty atrás de mim, com seu arco empunhado na mão e mais uma flecha pronta para sair em disparada até o bestante.

Ela acertou outra flecha, dessa vez no braço. O homem-touro ficou confuso, arrancou as flechas e as jogou para trás de si. Mais outra flecha o acertou, levando embora parte de sua orelha. O sangue dele escorria, se misturando com o suor que brilhava naquela noite de lua cheia.

— Eu disse, — Misty preparou mais uma flecha, — morra! — mirou e a flecha saiu zunindo no ar, até encontrar a testa peluda do bestante, que se ajoelhou, se contorceu e caiu, formando uma grande poça de sangue no chão.

Misty correu até mim.

— Você está bem?

— Um pouco tonto, somente... — respondi me levantando com a ajuda dela.

Kyle ajudou Zoe a se levantar, ela estava com o nariz sangrando bastante, deve ter quebrado com a queda. Zoe se apoiou nos ombros de Kyle e os dois vieram mancando até mim e Misty.

— Tudo bem com o seu nariz? — perguntei.

— Acho que quebrei, mas, se bem que nem está doendo de verdade... — ela respondeu segurando o nariz para tentar estancar o sangue.

Misty sacou algumas ataduras da maleta de primeiros socorros, passou um líquido e limpou o rosto de Zoe, com um certo cuidado. Puxou mais algumas ataduras e entregou elas para Zoe que pressionou contra o nariz, fazendo algumas caretas.

— Tá doendo? — Misty perguntou.

— Sim, — Zoe respondeu com um tom de agonia na voz — e muito!

— Vai passar, não se preocupe!

— Tudo bem!

Todos ficaram calados vendo Misty limpar o rosto de Zoe, o queixo, o pescoço.

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