Escuro

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Os olhos de Kyle estavam nublados. Ele olhava para baixo, onde, há pouco estava com Misty. Dentro da piscina que fugimos, o corpo de Misty boiava. Sem expressão. Seus olhos focando os de Kyle. A parede de vidro que os separava, agora parecia um abismo, ele sabia que nunca mais a teria de volta.

Estava escuro onde estávamos, mas não totalmente. A luz que emanava da sala inundada iluminava os nossos rostos tristes. Kyle estava sentado, com a mãe no rosto, as lágrimas escorriam entre os dedos. Ele desceu a mão pelo pescoço, tateando-se aos poucos, enfim ele chegou ao vazio onde estava o seu antigo braço mecânico. Ele me olhou. Eu podia ver o medo, a tristeza se estampando.

— Ela se foi... — ele disse, a voz entupida em soluços, seus olhos derramando lágrimas — A culpa é sua. A ideia foi sua. — ela se levantou, muito desequilibrado, com a ajuda do seu único braço.

Ele andou a até mim, seus olhos vermelhos me focando na escuridão. Ele levantou o braço, ameaçando me socar. Eu me arrastava pelo chão, tentando fugir dele, de costas, olhando para ele, até que cheguei em uma parede fria, esse era o limite. Fechei os meus olhos esperando o soco.

— Kyle! — Zoe gritou — Não faça isso!

Kyle estava bem à minha frente, eu estava com os olhos fechados, mas podia sentir sua respiração quente.

— Desculpa. — ele disse — Me desculpa, mesmo! — E voltou a chorar.

O envolvi em meus braços, ele arrodeou o seu em mim. Eu sentia os feches de lágrimas escorrendo pelo meu pescoço. Meus olhos ardiam. Meu nariz coçava. Comecei a chorar.

— Desculpa, Kyle! — falei entre soluços — A culpa é toda minha, a culpa por tudo. Por tudo!

Eu não aguentava mais isso. Meu pai estava morto, eu não sabia qual era a situação da minha mãe no 7. Eu não aguentava mais isso. Os jogos. Eu estava cansado. Meu corpo doía. Chorei.

Senti mais um par de braços nos arrodeando. Zoe.

Ficamos ali. Parados, como um único ser. Respirando juntos. Chorando juntos. Até que as luzes da sala de água se apagaram. Fazendo a escuridão se juntar a este abraço.

Um solavanco no chão nos fez despertar. O chão estava se erguendo, nos empurrando para algum lugar para cima na escuridão.

O som do concreto se arrastando pelas paredes era ensurdecedor.

— O que está acontecendo? — Perguntei.

Ninguém respondeu. Talvez não me ouviram. Talvez estavam com muito medo, ao ponto de não responder.

Uma luz brotou logo à cima de nossas cabeças. O chão parou de subir. Estávamos no começo de um corredor enorme feito de pedras. Alguns retângulos brancos que pairavam do teto iluminavam o corredor com enormes feixes de poeira. Em todo o piso do corredor era possível ver um símbolo parecido com o da porta da sala anterior, só que ao invés de uma onda, era possível distinguir rochas em uma avalanche.

Entendi. São provas para nos matar.

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