Na manhã seguinte eu já não precisava mais de fios estabilizando a minha saúde. Mas eu continuava escondido no quarto. O Presidente viria hoje.
A porta se abriu em um solavanco.
— Eu trouxe o seu café da manhã! — disse a moça que agora a reconheço por Rebeca.
— Obrigado! — me sentei na cama. Ela colocou a bandeja próximo dos meus joelhos. Peguei um pão, molhei no café e enfiei na boca.
— Você está ansioso? — ela pergunta.
— Sim, eu nunca pensei que isso tudo fosse acontecer... — molhei outro pedaço do pão — estou muito ansioso!
Olhei pela janela que dava para o corredor. Um burburinho de pessoas se formava lá.
— Essas pessoas na janela... — tentei perguntar.
— São enfermeiras do hospital... Estão aqui para ver o presidente. — ela me interrompeu.
Olhei de novo e vi as pessoas com rostos tristes de dispersando de volta às suas funções. O homem alvo passou pelo corredor reclamando com algumas delas. A porta se abriu e ele entrou no quarto. Ele estava usando um terno muito bonito. Talvez fosse o seu melhor.
— Bom dia! — ele exclamou. Andou até o balcão e deixou lá as pastas que segurava. Abriu uma garrafa e pegou um copo plástico. Derramou café dentro do copo e bebeu — O Presidente está vindo!
Rebeca se levantou e ficou fitando a janela. Olhei para o homem alvo, ele expressava ansiedade. Levei meus olhos para a janela. O Presidente estava vindo pelo corredor, se apoiando em uma bengala preta com uma cobra esculpida. Ele estava usando um terno preto, uma rosa branca em sua lapela. Do seu lado, um segurança.
A porta se abriu. O Presidente entrou no quarto olhando fixamente para mim.
— Bom dia! — ele disse. Se virou e pediu para que o segurança o aguardasse do lado de fora. Ele ficou olhando para Rebeca. Ela entendeu o sinal, pegou a bandeja e saiu da sala. Observei ela passando pela janela. E sumindo no corredor.
— Há quanto tempo ele está sendo mantido aqui no hospital, Herbert? — o Presidente perguntou para o homem alvo.
— Desde que os jogos acabaram, Presidente...
— Não precisa me chamar de Presidente, Herbert... — ele olhou para mim, como se a sentença também me coubesse — Você pode apenas me chamar de Snow.
Ele manteve o olhar em mim.
— Pode se retirar, Herbert... Eu gostaria de ficar à sós com ele.
O homem alvo, ou Herbert, apanhou as pastas de volta do balcão, e saiu do quarto. Seus passos ecoando no corredor. Ficamos só eu e o Presidente no quarto.
Ele encostou a bengala no lado da cama, se sentou ao meu lado. Seus olhos assumindo um tom de ameaça.
— Arion, — ele disse meu nome com a sua voz grossa, os pelos dos meus braços se eriçaram — Você acredita que o meu sistema tenha falhas?
A pergunta ficou pairando no ar, até eu perceber que eu tinha de responde-la.
— Não... não! Claro que não! — tossi — Eu acredito que ele seja bem... hm... complexo!
Ele mantinha seu olhar fixado em mim. Ele coçou a barba branca.
— Eu estive pensando, Arion... — ele botou a mão em minha coxa — O meu sistema tem falhas, sim! Você é uma delas! — o seu tom de voz foi se elevando, me fazendo ficar arrepiado — E como você quer que eu lide com uma falha assim, como você? Eu não posso deixar você sair por aí como se estivesse tudo bem... se alguém souber que um tributo sobreviveu... — ele próprio se interrompeu, como se perdesse a linha de pensamento — espero que o que você fez não tenha sido uma tentativa de rebeldia.... Você sabe muito bem o que eu vim fazer aqui, não sabe?
Abri a boca para responder.
Ele soltou o ar dos pulmões, relaxando.
— Não precisa responder... — ele falou com um tom de voz mais calmo — Você não vai ser executado! — ele aproximou o seu rosto do meu, sua boca quase encostando em meu ouvido. Sua mão esquerda segurou a minha nuca — Você é muito bonito para ser executado. — ele sussurrou em meu ouvido, seu hálito quente me fez arrepiar. Senti cheiro de sangue exalando de sua boca. Ele se afastou em seguida. Sua mão que estava repousando em minha nuca escorregou até a maçã do meu rosto. Seu polegar acariciou a minha bochecha. — Você vai sobreviver, Arion! Você vai sobreviver!
Ele se afastou de mim, pegou a sua bengala e saiu da sala.
Fiquei lá. Solitário. Os pensamentos me consumindo. Isso não ia ficar a assim. Ele estava tramando alguma coisa. Eu senti.
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No Labirinto
FanfictionSinopse: Arion é um adolescente de dezesseis anos, que se safou muito bem de ser chamado nas últimas três edições dos jogos. Ele vive no Distrito 7 e sai todas as manhãs para sua jornada exaustiva de trabalho. Ele é o único dos irmãos que vai trabal...