Queda

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Me mantive tão mudo quanto um Avox, ignorei todos e pedi para me deixarem ficar só. Até chegar ao meu quarto, onde me joguei na cama e desmoronei. Eu não pude conter as lágrimas, era muita pressão sobre mim, a apresentação de hoje foi um fiasco, amanhã pela manhã começa a arena, o único momento em que eu pude jurar que minha irmã gostava de mim, não passou de um bolo de mentiras com cobertura de falsidade.

Me sentei na cama e fiquei olhando pela janela a vasta metrópole pulsante que estava ao meu redor, todos eufóricos pelo derramamento de sangue de amanhã, e eu aqui em prantos, eu não posso fazer nada para mudar o fato de que em menos de 24 horas eu estarei morto, provavelmente pela minha irmã. Me levanto da cama e sigo até o banheiro, me jogo em baixo do chuveiro e deixo a água corrente levar o meu estresse, — e a maquiagem, claro — ralo-a-baixo, quando termino, eu visto um roupão cinza com o enorme número do meu Distrito nas costas, me deito na cama e fecho os olhos.

— Se eu soubesse que o duto de ventilação era algo tão sujo, eu preferia ficar te esperando na porta! — Disse a voz do Bill em um ponto distante da minha mente, eu me viro rapidamente e tento procurá-lo em algum lugar do quarto — Querido, eu estou aqui no duto de ar, quando quiser me tirar daqui eu agradeço... — corro até o duto e abro a grade, de repente uma forma azul e empoeirada cai no chão.

— Oh, Bill, o que você está fazendo aqui? Eu pedi para que ninguém entrasse no meu quarto...

Eu o apanho e o levo até o banheiro para tentar tirar a poeira.

— Mas, Arion, eu não poderia deixar você aqui sozinho... — ele pula da minha mão e pousa na pia, ele gesticula para que eu abra a torneira, eu a abro e ele se enfia em baixo dela, sacudindo as asas — Eu fiquei preocupado, sem falar que amanhã é o dia da arena e você precisa de companhia...

— Ah, Bill, não precisava! — sorrio.

— Precisava, sim! Quem iria te acordar amanhã bem cedo, já que você não deixa ninguém entrar?

Rimos.

— Bem, agora eu tenho que dormir, Bill! Tenho menos de seis horas de sono antes de começar a me preparar para a arena...

— Entendo... mas você vai me deixar ficar aqui mesmo, né?

— Claro, Quem iria me acordar amanhã bem cedo, já que eu não deixo ninguém entrar?

Ele riu, e, depois de pular até a borda da pia, ele sacudiu suas asas azuis, molhando tudo em sua volta.

Eu peguei ele com a mão direita e o levei até o criado-mudo.

— Fica aí até eu terminar de arrumar a cama!

Ele disse um "Okay" singelo e continuou tentando secar as penas.

Levanto o edredom espesso e me jogo debaixo dele, o Bill levanta voo e se empoleira na almofada ao meu lado.

— Pode apagar a luz, Bill! — digo.

— o quê? — ele se vira pra mim — Quem têm mãos aqui é você!

— Ah, — tiro as mãos debaixo do cobertor e dou dois leves tapas na mão esquerda — Às vezes eu me esqueço que você é um pássaro!

— Sei, você tá é de zoação comigo!

Rio.

— Otário! — digo por fim.

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