Ela me olhou, e eu percebi surpresa em seus olhos. Seus cabelos estavam emaranhados, mas as tranças ainda permaneciam penduradas ali. Ela apertou as mãos no machado com mais força. Arca, segurava uma espada longa em sua mão direita — a que não estava queimada.
Eles estavam bem próximos agora. Éramos nós quatro na arena. A chuva dançando ao nosso redor. Os trovões tamborilando acima de nossas cabeças. Era o fim.
— Pensei que você não fosse sobreviver nem ao primeiro dia de Arena... — Circe cortou o silêncio — mas veja só, você está aí! E com uma namorada!
Arca riu.
Circe olhou para Arca. O vento frio soprando as suas tranças.
— Agora! — ela gritou vindo em minha direção, seu machado erguido no ar, seus olhos me fitando.
Eu fiquei sem reação. Levantei minha machadinha. Mas ela acertou a minha mão com as costas do machado. A machadinha caiu longe, deslizando no chão. Ela girou o machado mais uma vez e acertou a minha têmpora esquerda com as costas do machado. Caí girando no chão. Estrelas acompanhavam o movimento. Tudo escurecia e voltava à tona em seguida.
Senti gosto de sangue na boca. Tudo girava em um carrossel de puro caos. Tentei me levantar mais uma força maior me puxou de volta para o chão. Olhei para a direita. Só vi heras e uma enorme parede que parecia prestes a cair. Ouvi um grito feminino. Olhei para a esquerda. Era a Zoe.
Ela estava em pé. A cara de pânico fitando o chão. Suas mãos seguravam algo em sua barriga. Ela deu alguns passos para trás. Seguiu uma reta no chão até me encontrar. Ela fitou profundamente. E formulou alguma coisa na boca sem emitir nenhum ruído. Levei um segundo para descobrir. Eu vou morrer, Arion! Era o que ela havia dito. Imediatamente percebi que a espada de Arca atravessava-lhe o corpo. Perfurando a sua barriga, saindo em suas costas. Ela se inclinou para trás. Seus olhos se revirando. Ela caiu no chão. Uma enorme poça se sangue cresceu ao seu redor. O canhão reverberou no céu.
— Não! — gritei — Tentei me levantar, mas eu estava muito tonto. Caí de volta no chão — Zoe!
Arca se aproximou de Zoe. Apoiou o pé em seu corpo e arrancou a espada. Ela reluzia vermelhamente à explosão dos raios no céu, o sangue de Zoe pingando em seu corpo morto.
Arca se virou para exibir o seu troféu para as câmeras, a espada sanguinolenta. Eu tentei me erguer, mas de novo caí no chão. Vomitei. Cuspi. Olhei para o semblante heroico de Arca em cima do corpo de Zoe. Então Circe surgiu em suas costas. Ela ergueu o machado e o cravou na jugular dele. A expressão dele mudou. Ele soltou a espada. Sua cabeça saiu voando até se chocar em uma das paredes do labirinto. O canhão ressoou. O corpo inerte do famoso Arca caiu no chão, se juntando ao de Zoe.
Circe me olhou, enquanto limpava o sangue do machado na calça. Ela passou por cima do corpo de Arca e veio em minha direção.
Tentei me levantar. Tentei fugir dela. Mas o máximo que eu conseguir foi me arrastar.
Eu me arrastava, passando por poças de água que se iluminavam à constante explosão de raios ao meu redor. Eu ouvi os seus paços bem próximos de mim.
— Aonde você pensa que vai?
Ela me chutou na barriga e eu me virei, me contorcendo. Senti vontade de vomitar. O seu chute acertou o meu estomago. Ela passou por cima de mim e me deu outro chute. Me virei para o outro lado, cuspindo sangue.
— Porquê você está fazendo isso? — pergunto. Um filete de sangue escorre da minha boca. Ela não responde.
Ela segura as costas do machado e o levanta.
—Por que é preciso! — ela desce o cabo do machado, acertando mais uma vez a minha têmpora. Tudo gira e bamboleia. O mundo escurece e volta a se acender com os flashes dos relâmpagos.
Abro os olhos mais uma vez. Ela está pairando em cima de mim. Cada uma das pernas em um lado do meu corpo. O machado posicionado em cima de sua cabeça. As mãos firmes no cabo.
— Eu te amo, irmão! — ela profere as palavras quase sussurrando, elas ficam viajando em minha mente. Então ela baixa o machado. A lâmina golpeia o meu braço machucado. Tudo gira. A dor se espalha. A voz ecoa: eu te amo, irmão! Focos de luz tremeluzem no céu. A chuva cai. Os trovões ribombam. Fecho os olhos. O som do meu canhão dispara na Arena. Tudo escurece.
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No Labirinto
FanfictionSinopse: Arion é um adolescente de dezesseis anos, que se safou muito bem de ser chamado nas últimas três edições dos jogos. Ele vive no Distrito 7 e sai todas as manhãs para sua jornada exaustiva de trabalho. Ele é o único dos irmãos que vai trabal...