Sobreviver

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Acordei em um quarto azul. O sol entra por enormes janelas que mostravam um lindo jardim do lado de fora. O vento soprava as cortinas. Dentro do quarto havia um enorme guarda-roupas amarelo. Uma mesinha. A cama no qual eu estava deitado. Um pequeno sofá e uma televisão. E duas portas.

Joguei os pés para fora da cama. Eu usava uma roupa completamente branca. Ao lado da cama repousavam um par de sapatos pretos. Os calcei. Arrastei os pés até o sofá e me sentei. Procurei o controle da televisão e a liguei.

O programa tinha acabado de voltar dos comerciais. Um locutor narrou: Estamos de volta com: A Turnê da Vitória. Circe Axeman. Distrito 7. Deixei o controle cair. A minha irmã estava no palanque do prédio da justiça do Distrito 7. Ao seu lado. Argos, minha mãe e meu pai.

Fiquei surpreso. Ele não morreu! Ele deve ter ido ao hospital e se recuperado. Meu pai está vivo! Tudo que eu mais queria era gritar para Panem inteira: Meu pai está vivo!

Puxei o ar para os meus pulmões. Estendi os braços. Meu pai está vivo! Pensei.

Um guincho agudo tomou conta do quarto. Era a minha voz. Tentei tossir. Corri as mãos até a minha garganta. O mesmo guincho agudo saia da minha garganta a cada vez que eu tentava tossir. Era como um vazio. A minha voz não existia. Enfiei a minha mão dentro da boca. Não encontrei nada lá dentro. Minha língua fora arrancada. Tentei gritar, mas o grunhido se pôs no lugar da minha voz outra vez.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Tentei chamar alguém para perguntar o que estava acontecendo. Mas isso era inútil.

A porta do quarto se abriu em um solavanco. Uma senhora de cabelo laranja e maquiagem verde entrou. Eu me virei para ela.

— Que bom que você acordou! — ela se aproximou de mim. Retirou um lenço do bolso da camisa e começou a enxugar as minhas lágrimas — O Presidente Snow quer que você vá deixar o seu café da manhã no quarto. — ela me olhou — Pronto! Lágrimas secas. Você tem um rosto lindo! Não te conheço de nenhum lugar? — tentei responder, mas era inútil — Cariolanus Snow sabe muito bem como escolher os seus criados! — ela andou até a porta — Siga-me!

Tentei enxugar as lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto, enquanto desvendávamos o amplo corredor repleto de móveis rústicos. Ela abriu uma porta dupla. Entramos.

— Esta é a cozinha! — ela abriu os braços dentro do salão, alguns cozinheiros me olharam entrar, outros continuaram com seus afazeres. — Bem, o café do Snow já está pronto, mas como ele pediu que você fosse deixa-lo em seu quarto... — ela apanhou uma bandeja de ouro com alguns pães, frutas e leite. E me entregou. —Aqui está! — ela andou até a porta de saída da cozinha. — Por aqui.... Siga-me!

Segui a senhora. Passamos por amplos salões. Corredores coloridos. Foi então que eu me dei conta de que estávamos na mansão do Presidente. Ela me disse o que eu tinha de fazer. Chegamos até um par de portas com maçanetas de ouro. Ela abriu a porta. Entramos.

Snow estava deitado em sua cama. Olhando para a televisão. Quando me viu esboçou um enorme sorriso. Ele se levantou e veio em minha direção com a sua pose de soberania.

— Vejamos quem está trazendo o meu café da manhã... — ele fez um sinal para que a senhora saísse do quarto. Ela se curvou um pouco, se virou e saiu. — Arion Axeman! O Tributo do Distrito 7! — fiquei tentado em chorar. Em socar a cara dele. Em sair correndo dali. Em me matar. Mas respirei fundo.

Ele pegou a minha bandeja e colocou em cima da cama. Seu rosto exibia um semblante de prazer e felicidade. Ele se voltou para mim, seu hálito de sangue se espalhando pelo quarto.

— Eu não podia deixar você sair por aí como vitorioso. — ele se aproximou de mim — Também não podia deixar que um rapaz tão belo fosse executado. — ele pegou uma mecha do meu cabelo e a colocou atrás da minha orelha. Contornando a minha cabeça com a mão até chegar na minha nuca. Me mantive firme. Olhando em seus olhos de cobra. — Agora você é o meu Avox pessoal!

Meus olhos se encheram de lágrimas. Tentei controlar a respiração. Mas quanto mais eu parecia assustado. Mais ele se divertia com isso.

Ele aproximou o seu rosto meu. Nossas bochechas se encostaram. Sua mão esquerda ainda em minha nuca. Seu hálito quente na minha orelha. Ele estava pronto para dar o bote.

— Eu não disse que você iria sobreviver?

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2015 ⏰

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