Arena

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Sessenta segundos. Esse é o tempo que temos que permanecer em cima do tablado de metal até que o soar de um gongo nos liberasse. Caso contrário, diversas bombas estavam dispostas a nos explodir em vários pedacinhos, para a felicidade dos demais Tributos.

Quando meus olhos finalmente conseguem recuperar a visão eu vejo que eu estou rodeado de enormes e distantes blocos de pedra enfeitados com ramos de heras que se expandiam por todos os lugares. Eu não vejo nenhum sinal da cornucópia, eu só vejo paredes e mais paredes. Mais acima, no céu mesmo, eu vejo um enorme relógio digital contando o tempo em seus 58 segundos.

— Atenção, Tributos! — A voz do locutor rompe novamente — A Arena este ano, será um Labirinto, a Cornucópia está situada no centro do conjunto de paredes à sua frente — Ele cita tudo que há na cornucópia, as únicas coisas que eu consegui me concentrar foram no machado, cordas e arames e mochilas com suprimentos. Ele continua: — Como vocês já perceberam, todos os Tributos masculinos estão em um mesmo hemisfério e os femininos estão no outro, — Eu não havia percebido isso, olho para o meu lado direito e vejo o Tributo do Distrito 6, do seu lado eu vi o Kyle. Será que eu posso, realmente, confiar nele? Eu vou ver isso só quando descermos dos nossos tablados. Olho para o lado oposto e vejo que os Tributos carreiristas estão extremamente calmos, alongando os seus músculos enquanto sorriem — Atrás de vocês também têm diversos conjuntos de paredes, ao seu lado, também paredes. — olho em volta e vejo que as paredes se situavam em diversos tamanhos, algumas mais altas que as outras, algumas, mais largas, outras mais finas e pequenas. — Bem, é isso! — Ele se cala brevemente — Bons Jogos Vorazes! Que a sorte esteja sempre ao seu favor!

Quando o locutor termina de falar, o relógio ainda está contando 12 segundos. Meu coração acelera em um ritmo desordenado, as pernas tremem. Dez segundos. Dou mais uma olhada para os carreiristas e vejo que eles se mantêm firmes e com seus olhos focados nas entradas para o labirinto. Oito segundos. Corro meus olhos pelos outros Tributos, em busca de encontrar alguém que esteja sendo devorado pela ansiedade, assim como eu. Seis segundos. Kyle, quando eu o olho ele parece tão ansioso quanto eu, ele cutucava em algo no seu braço mecânico. Quatro segundos. Ele olha pra mim, sorri. Eu não consigo retribuir o sorriso, viro meu rosto e fico encarando o relógio. Dois segundos. Um. Zero.

A maioria dos Tributos começa a correr em direção ao labirinto à nossa frente, em busca da esperança contida na cornucópia. Eu permaneço imóvel no tablado, olhando para a entrada enorme do labirinto que sentia uma vontade tão cabal de me engolir e me ver correndo por suas entranhas emparedadas.

Até que eu sinto algo me acertar em cheio na cara e me derrubar na grama suja de terra do chão. Esse algo que me acertou em cheio se chamava Júpiter, o Tributo masculino do Distrito 8. Ele se sentou em cima de mim e continuou com os socos em minha cara, acertando, de vez em quando, o meu pescoço, isso mostrava a sua má prática com lutas corpóreas, eu tentei pará-lo segurando suas mãos, ele tinha cheiro de álcool e seus olhos me focavam com um vermelho intenso, ele gritava muito e respirava euforicamente, típico de alguém que não entrou sóbrio nos jogos. Ele cessou os socos e prendeu as suas mãos suadas em meu pescoço, ele apertava e apertava cada vez mais. O ar não se encontrava mais em meus pulmões, e conseguir trazê-lo de volta era algo impossível nessa ocasião.

Eu iria acabar morrendo se o Kyle não tivesse o acertado com um chute de peito-de-pé bem na cabeça, fazendo com que ele caísse ao meu lado cheio de sangue escuro escorrendo pelo nariz. Me levanto com a ajuda do braço mecânico do Kyle, que dá um leve estalo ao me puxar.

No LabirintoOnde histórias criam vida. Descubra agora