Hino

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Cerca de meia hora se passou desde que o canhão rompeu, e nenhum sinal do Kyle. Tudo estava mais escuro, as sombras alongadas, o céu estava em tons escuros, e as nuvens quase negras dançavam pelo azul. Misty estava deitada no colo da Zoe, perguntando a si mesma o que seria dela se o Kyle tivesse morrido.

Minha barriga estava roncando, eu não comi nada desde que os jogos começaram, aposto que eles também não. Estiquei meu braço e puxei a mochila.

— Vocês estão com fome? — perguntei.

— Sim! — disse Kyle se aproximando — Morrendo de fome!

— Oh, Kyle! — Misty se levantou com um pulo e correu até ele.

Eles se abraçaram fortemente. O braço mecânico do Kyle envolvendo o corpo magro da Misty, enquanto o outro segurava as flechas. Eles se beijaram.

— Onde você se meteu? —perguntou Zoe.

Eles dois cessaram o abraço-beijo, mas continuaram em pé, com ambas as mãos envolvendo as cinturas um do outro.

— Eu procurei pelas flechas, mas elas não estavam lá. Digo, aquele lugar não estava lá. — ele nos fitou.

— Como assim? — perguntei.

— É como se o labirinto se movesse... — ele respondeu — Bem, eu voltei pelo caminho que viemos, passei pela fenda, mas as flechas não estavam lá, e o local não era mais o mesmo. Andei mais um pouco e vi o grupo de carreiristas vindo, eles pereciam estar fugindo de algo. Voltei correndo para a fenda e esperei eles passarem, nenhum sinal de bestante. Então resolvi sair, segui o caminho de onde os carreiristas tinham vindo. Andei mais um pouco até me deparar com uma cena horrível: um homem carregava alguém pendurado nas costas, mas esse homem não era um homem comum, ele era muito alto e corpulento, tinha um enorme arco no nariz e uma cabeça de touro onde deveria estar a sua. — todos se entreolharam — Ele não me viu, pois eu me escondi atrás da parede, ele carregava alguém, como eu disse, mas não sei se era um menino ou uma menina. Ele estava vindo em minha direção, mas ele não havia me percebido, — ele se sentou e botou as flechas no chão — então eu corri pra de onde eu tinha vindo, no fim do corredor eu vi os carreiristas vindo outra vez, — ele me olhou — a Circe não estava com eles. O homem-touro vinha de um lado, e o grupo de carreiristas, vinha do outro. Eu não sabia o que fazer comecei a subir a parede, mas eu não consegui. Daí eu comecei a correr e gritar, na direção dos Tributos, olhei para trás, o homem havia largado o corpo e estava vindo atrás de mim, acho que porque ele ouviu os meus gritos, continuei correndo até avistar os carreiristas que vinham em minha direção, entrei na fenda e deixei que o homem-touro os atacasse, continuei correndo pelo corredor da fenda, mas não avistei vocês, o labirinto havia mudado mais uma vez, continuei andando até avistar as flechas, apanhei todas, ouvi o som do canhão, tudo já estava escurecendo, continuei procurando por vocês e encontrei. Agora, cadê a comida?

Misty colocou as flechas na aljava junto das que ela pegou do escorpião e agradeceu ao Kyle.

— Você acha que esse homem-touro será um problema? — perguntei.

— Claro! — ele respondeu — Ele era horrível!

— E você, — ele perguntou — está se sentindo melhor?

— Ah, sim... Estou bem melhor, mas minha cabeça ainda dói.

— Você foi muito corajoso em ter pulado em cima do escorpião.

— Obrigado, mas foi você quem o matou.

— Mas se você não tivesse pulado em cima dele, eu não teria tido a chance de ter matado ele.

— Tá bom, — interrompeu Misty. — chega de papo, estou morrendo de fome!

Ela pegou a mochila, abriu o estojo térmico e dividiu as quatro barrinhas para todos. Elas caíram como uma luva em meu estômago, a sensação de buraco na barriga desapareceu, mas eu continuava com fome. Peguei uma maçã e dividi em quatro com a ajuda de uma faquinha.

— Vocês acham que devemos passar a noite aqui? — perguntei — Já está escuro e eu não acho que seja seguro andar por aí...

Distribuí as fatias de maça.

— Obrigado! — disse Zoe quando recebeu a fatia— Acho que devemos passar a noite aqui...

— Mas o plano não era irmos para a floresta? — Misty perguntou.

— Sim, mas nessas condições não vai dar, — respondeu Zoe dando uma mordida forte no pedaço de maçã e continuou com a boca cheia: — O Arion está machucado e já está escuro demais.

— Por mim, tudo bem! — eu disse.

Por mim, tudo bem! Todos repetiram.

Ficamos jogando conversa fora durante um bom tempo. Estava ficando frio. Estiquei a calça e me enfiei em um saco-de-dormir.

— Que frio do caralho! — eu disse baixinho, quase sussurrando. Pareceu que eles não escutaram, se tivessem escutado, ignoraram.

— Quem vai ficar de vigia durante a noite? — Kyle perguntou, esfregando as mãos e soprando os dedos. — Que frio da peste! — ele completou.

— Foi o que eu disse! — falei.

— Disse? — ele perguntou.

— Disse! — respondi.

— Eu posso passar o primeiro turno, depois revezo com algum de vocês. — respondeu Zoe — Não estou cansada, o Arion está mal e vocês precisam dormir. Podem deixar que eu fico.

Mais uma sequência de por mim, tudo bem!

Kyle e Misty se aninharam no outro saco-de-dormir. Zoe se sentou ao meu lado, entre meu saco-de-dormir e o do casal, e ficou olhando para o céu, contando as estrelas ela não estava, pois não havia uma no céu. E eu fechei os olhos, minha cabeça latejava, ao longe eu podia ouvir as paredes do labirinto de movendo. De vez em quando, um vento frio corria pelo corredor fazendo os pelos das minhas costas se arrepiarem. O que me fez lembrar as madrugadas frientas do Distrito 7. Puxei o saco mais para cima até cobrir os meus ombros.

Acordei com o Hino de Panem tocando no céu para mostrar os Tributos que morreram no primeiro dia de jogos. O primeiro holograma a aparecer no céu foi Nolan do Distrito 2, ele estava em uma pose de soberania, o amigo da Zoe. Ela abaixou a cabeça e fungou baixinho. Continuei olhando para cima, em seguida apareceram: Diderot, do Distrito 3; Trevor, do Distrito 6; Dafne, do Distrito 8; Michael e Juno, do Distrito 9; e, por último, Luke e Cila do Distrito 10.

Oito Tributos mortos hoje, ainda havia dezesseis Tributos espalhados pelo labirinto, prontos para matar e morrer.

Já era cerca de Meia-noite, meu corpo estava melhor, a tontura passara e a minha cabeça tinha parado de doer.

Percebi que a Zoe tinha ficado para baixo depois que o Nolan apareceu no céu, não queria obrigá-la a passar a noite acordada nessas condições.

— Sinto muito pelo Nolan, — eu disse saindo do quentinho saco-de-dormir— quer trocar de turno comigo?

— Obrigado. — ela respondeu com seus olhos mareados se deitando dentro do saco que eu acabara de sair.

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