Seringa

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Passei o dia preocupado com o que aconteceria a mim. Eu ficaria escondido no hospital até morrer? Eu iria voltar para o meu Distrito e fingir que nada aconteceu? Eu seria levado para algum outro distrito e recomeçar uma nova vida?

A porta de abriu de soslaio, revelando Rebeca que trazia o meu almoço.

— E aí, como foi? — ela perguntou — Se você ainda está aqui, então quer dizer que você não foi executado...

— Foi horrível, Rebeca — eu hesitei — eu não sei o que vai acontecer à mim... ele só disse que eu iria sobreviver... só isso!

Ela apoiou a bandeja na minha cama.

— Isso é bom, Arion! — ela sorriu — isso quer dizer que você vai ficar vivo... acho que depois ele decide se você vai voltar para casa... não sei, o Presidente é muito imprevisível. Mas, pelo menos, você vai ficar vivo!

— Eu não vou ficar vivo, Rebeca. Eu vou sobreviver!

— E qual é a diferença? — ela perguntou.

Não parecia haver diferença entre as duas palavras, mas eu sentia que havia algo escondido no sobreviver.

Almocei. Tomei banho. Voltei para a minha cama. Se não fosse pelas refeições eu não saberia que horário era do dia. Eu não tinha nenhum tipo de contato com o mundo exterior. Eu não sabia nada do que acontecia lá fora. Circe ganhou os jogos. Ela deve estar na turnê da vitória, andando de Distrito em Distrito para mostrar que foi a campeã. Quando ela voltar para o Distrito 7, ela vai levar toda a minha família para morar na Vila dos Vitoriosos do meu Distrito. Meu irmão. Minha mãe. Meu pai.

Meu pai. Ele era o símbolo de que o governo de Snow era cruel. Me peguei chorando.

A porta abriu. Era Rebeca trazendo o meu jantar. Enxuguei as lágrimas e olhei para ela.

— Nenhuma notícia até agora. — ela disse repousando a bandeja na minha maca.

— Tudo bem... — eu disse. Já não me importava mais. Não me importava se eu seria mandado para o meu Distrito. Ou para outro Distrito. Se eu ficaria aqui no hospital. Eu estava me sentindo deprimido. Meu pai. Meus amigos. Todos estão mortos.

Rebeca ficou no meu quarto conversando comigo até quase meia noite. Ela me perguntava como era a vida no 7. Como foi participar dos jogos. Se as mortes dos meus amigos foram dolorosas para mim. Essas coisas.

Ela me deu um beijo na bochecha e andou até a porta.

— Boa noite! — ela disse.

— Boa noite! — respondi arrumando os lençóis em meu corpo.

— Apago a luz? — ela perguntou.

— Aham! — me cobri por completo — Até amanhã!

As luzes se apagaram e a porta foi fechada. Fiquei no quarto. Eu ouvia os passos dela ecoando no corredor. Se distanciando cada vez mais. Caí no sono.

Acordei com milhares de mãos empurrando minha paca pelo corredor. Abri os olhos. Lâmpadas de teto cruzavam a minha visão. Tentei me levantar, mas meus braços e minhas pernas estavam amarrados na maca. Olhei para o lado. Uma mulher de jaleco segurava uma bolsa de soro com o braço levantado, enquanto a maca corria pelo corredor.

— O que está acontecendo? — gritei.

Um homem negro segurou o meu braço.

— Vai ficar tudo bem, Arion! — ele sacou uma seringa com um liquido azul dentro — Você vai dormir agora, quando você acordar... — ele olhou para a mulher — Você vai se dar conta de que vai sobreviver!

Ele injetou a seringa no meu braço. Tudo girou. Olhei para o lado. Tudo escureceu.

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