Vênus

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— Vocês, não vão me matar, não né? — Vênus parecia ainda assustada.

Eu olhei para os meus amigos e comecei a rir.

— Claro que não, nós não somos carreiristas...

Ela soltou o ar dos pulmões.

— Mas você pode, pelo menos, servir de comida! — disse Kyle analisando o corpo da garota.

— O quê? — ela perguntou assustada.

— Nada, sua fofa... — disse Misty interrompendo Kyle — Meu namorado só está brincando — Eu senti um tom de ciúme na voz dela, mas relevei, o Kyle não a trairia, nunca.

— Bem, — perguntei — você vai ficar conosco, ou quer ir embora?

Ela pensou bem durante um segundo.

— Por favor, me deixem ficar com vocês, eu perdi os meus amigos lá na floresta...

— O Rick? — perguntei.

— Sim, a Dhalia, também... Como você sabe?

— Uma longa história, depois eu falo. Pode continuar! — eu disse.

Ela respirou e continuou.

— Nós nos juntamos desde o primeiro dia dos jogos, então fomos procurar uma floresta para achar comida mais fácil, como amoras, framboesas...

— Nós pensamos em fazer o mesmo... — eu disse. Ela me olhou com certa raiva por tê-la interrompido, me senti constrangido — Ah, Okay... pode continuar!

— Como eu ia dizendo... — ela fez uma pausa — Quando chegamos na floresta ela estava linda, mas sem sinal de nenhum tipo de comida... eu resolvi ir procurar frutinhas, enquanto Rick e Dhalia ficavam no prévio acampamento que montamos, tentando fazer uma fogueira. Depois de uma hora procurando e coçando os braços, resolvi voltar, não sei como consegui encontrar o acampamento, mas quando eu estava chegando, eu escutei Rick e Dhalia discutindo muito, gritos e tudo mais. Até que eu vi ele empurrando ela em um arbusto que, do nada se transformou em um enorme enxame de vespas que tomaram conta do corpo da Dhalia, o que acabou matando ela. Então eu comecei a correr para o lado oposto, cheguei ao labirinto e achei esses ratos estranhos...

— Uau! — eu disse — Que triste!

— Vocês vão me deixar, mesmo, ficar com vocês? — ela perguntou.

Olhei para meus amigos, Zoe e Kyle assentiram com a cabeça, Misty revirou os olhos.

— Claro! — eu disse.

Ela soltou um sorriso que andou de orelha a orelha.

— Obrigado! — ela disse — Obrigado, mesmo! Ficar sozinha aqui é horrível!

Um ruído rompeu do outro lado da parede.

— É melhor sairmos daqui... esses ratos mortos podem acabar atraindo outros, assim como as abelhas fazem.

Depois de alguns minutos andando pelo labirinto, Vênus se mostrou mais extrovertida, falando sobre a sua vida no 3, e como lidou ao saber que iria participar dos jogos. Essa foi a minha deixa para conversar com Misty que ia um pouco mais atrás, cabisbaixa.

— Hey! — falei sussurrando.

— O que foi? — ela respondeu usando o mesmo tom de voz que eu usei.

O que foi, pergunto eu! Por que você está tão desanimada?

— Não foi nada, Arion!

— Você parece... hm.... Enciumada!

— Eu não estou enciumada, eu só acho que ter uma boca a mais para alimentar é o que é o problema.

— Não diga isso! Eu acho que ela pode ser útil para alguma coisa.

Ela ficou calada, me ignorando. Apertou o passo e se distanciou de mim.

Fiquei sozinho vendo ela indo. Corri um pouco até Vênus, Zoe e Kyle, e comecei a puxar assunto com eles, de vez em quando olhando para Misty, que estirava a língua para mim.

Quando finalmente já estava de noite, peguei o saco de cereais e distribuí para todos, ficando apenas a quantidade para amanhã de manhã. Vênus fechava os olhos a cada mordida em seu punhado de cereais. Eu acredito que ela não come desde o ocorrido. Decidi não distribuir a água, pois se não, ela acabaria bem rápido.

Continuamos jogando conversa fora até anoitecer. Misty arrastou os sacos de dormir dela e de Kyle para longe dos nossos, já que ela não queria intimidade com Vênus. Mas, essa noite, por sinal, era a de Kyle ficar de plantão, portanto ela teve que puxar os sacos de volta. E eu fiquei rindo da cara dela.

O vento, como sempre à noite, frio. Ele corria e dançava no labirinto. Seu chiado hoje estava mais forte, e relativamente, sua força, mas ele não estava mais que as outras noites. Não havia som de cigarras, nem de pássaros noturnos.

— O dia hoje foi perfeito! — eu disse esticando os braços atrás da cabeça — Talvez não para os idealizadores, não morreu nenhum Tributo.

Assim que eu terminei a frase, o Hino Nacional de Panem rompeu no céu, e como eu disse, nenhum Tributo à ser mostrado.

Eu não queria papo, queria somente dormir. Dormir como nunca mais eu havia dormido antes. Nós tínhamos quase sete horas até o amanhecer, nunca mais eu tinha dormido sete horas seguidas, eu não tinha nem chegado perto. Tudo que eu queria era completar essa maratona deitado. Então quando o Hino cessou, e nada apareceu, eu dei um Boa Noite! Me virei e dormi.

Eu ainda ouvia um burburinho, por de trás do sono, seriam eles conversando, talvez. Mesmo quase dormindo, eu sentia a onda de ciúmes que emanava do corpo de Misty, não me contive em esboçar um sorriso. Mesmo imóvel, mesmo estando com os olhos fechados, o ciúme dela era ridiculamente engraçado.

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