Capítulo Vinte e Um

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Em um silêncio denso, enervante e perigoso, Lana e Malcolm voltaram para a mansão dele com Cyrus ao volante. Apesar da vontade secreta de Carlo de presenciar a conversa deles, nenhum dos dois tinha uma personalidade indiscreta. Lana e Malcolm podiam estar ambos furiosos e irritados, um com o outro, e também com a situação em que se encontravam, mas eles nunca seriam protagonistas de uma cena em público. Isso ficava para pessoas estúpidas e celebridades sedentas de chamar atenção. Quanto a eles, manteriam sua discussão entre quatro paredes.

Por isso, ao chegarem à mansão, num acordo tácito, seguiram para o escritório de Malcolm.

Com a porta fechada, ocuparam lados opostos da sala. Era irônico que, não muito tempo atrás, tivessem compartilhado um momento tão arrebatador, tão íntimo, naquela mesma sala. Agora, porém, não havia espaço para nenhuma intensidade. Embora o que Malcolm e Lana sentissem fosse tão intenso quanto a paixão compartilhada dois dias atrás, o sentimento não era extasiante. Naquele momento, entre eles, havia espaço apenas para tensão, mágoa e incerteza, sentimentos que pairavam no ar como o aroma das camélias lá fora, mas que não era nem de longe tão prazeroso quanto o perfume das flores.

Lana foi a primeira a falar. Enquanto o esperava naquele lugar obscuro, tinha pensado muito em como começaria aquela conversa com Malcolm. Satisfeita com o que decidira, virou-se para fitá-lo e começou:

- Você me ouviu, sem julgar, quando eu precisei revelar meu passado. - disse Lana, lutando para que seu tom de voz refletisse a mesma imparcialidade de suas palavras. - Por isso,
vou conceder o mesmo benefício a você.

Os olhos de Malcolm endureceram, orgulho escurecendo-os.

- Eu não fiz aquilo esperando algo em troca. - Ele nunca tivera essa intenção, nem quando esperara que ela se abrisse. Nunca pensara em ser compreensivo pensando no momento em que teriam aquela conversa sobre seus negócios, sua vida clandestina. - Não quero que você se sinta obrigada a não me julgar apenas porque eu fiz isso.

- Não me sinto obrigada a nada, Malcolm. Eu quero conceder essa chance a você. Estou fazendo uma escolha, não retribuindo um favor. - Ela o fitou, o olhar determinado. - Quero ouvir o que você tem para dizer. Mas, por favor, seja completamente honesto. Não vou ser racional e compreensiva novamente. Minha tolerância para segredos termina aqui.

Malcolm considerou as palavras dela. Por um instante, no caminho de volta, imaginara que já havia perdido Lana. Embora, naquele momento, ela estivesse mais distante que a lua, ao menos ela estava disposta a ouvi-lo. Ele não podia estragar as coisas agora. Tinha uma última chance.

Por isso, faria seu melhor.

- Está certo. - Ele assentiu, respirou fundo, preparando-se. - Mas acho que a melhor forma de fazermos isso, a melhor forma de você garantir que saiba tudo, é você fazer as perguntas que deseja. Eu não vou mentir. Você pode me perguntar o que quiser e eu serei completamente honesto.

Lana o observou, pensando na proposta. Por mais furiosa que estivesse com ele, sabia que, senão no resto, ao menos podia confiar na palavra de Malcolm naquele momento. Ele não mentiria e, se fizessem aquilo seguindo sua sugestão, ele não seria capaz de selecionar os assuntos.

- Muito bem. - disse Lana, concordando com um assentimento de cabeça. Cruzando os braços diante do corpo, ela começou: - Que lugar era aquele em que estávamos?

- É um lugar onde faço parte dos meus negócios.

- A parte ilegal?

- Sim. - respondeu Malcolm, rigidamente, descobrindo-se incapaz de ler o tom ou a expressão dela. Estava habituado a lidar com impassibilidade. Sabia transpô-la quando necessário - a maioria das pessoas apenas aparentava ser difíceis de ler. Mas não conseguia saber a reação de Lana naquele momento.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora