Capítulo Vinte e Três

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Eles permaneceram na sala de música, mas de pé, pois nenhum dos dois conseguiria sentar. Como Lana dissera, aquela era uma conversa definitiva. O resultado mudaria suas vidas, completamente. Se para melhor ou pior, eles estavam prestes a descobrir.

Por isso, era melhor ficar de pé.

Lana uniu as mãos diante do corpo.

- Antes de qualquer coisa, eu gostaria que você me esclarecesse uma última coisa, Malcolm. Quero que você me fale sobre sua relação com o seu pai.

Isso o pegou de surpresa.

- Minha relação com meu pai? - Ele repetiu o pedido, tentando entender o que a motivava.

Diante da surpresa e curiosidade dele, Lana resolveu ser mais clara.

- Durante essas duas semanas, eu pensei muito. Ao fazer isso, não pude deixar de perceber um padrão quando a questão envolve os seus dilemas. De uma forma ou de outra, tem sempre o fantasma do seu pai presente. Eu imaginava que houvesse uma história difícil aí, quando conheci você e presenciei sua dificuldade de lidar com Anthony. Pensei que você tinha um pai rígido e descuidado, como o meu. Acredito que estava certa. Mas acho que ele afetou você muito mais do que eu imaginei. Então, me conte sobre sua relação com o seu pai.

Malcolm considerou o pedido, assentiu. Então, organizou os próprios pensamentos e começou:

- Nós nunca nos demos bem, meu pai e eu. Nossa relação foi ruim desde que consigo me lembrar. Quando eu era criança, tudo o que eu queria era a atenção dele. Queria compartilhar aquela cumplicidade entre pai e filho que toda relação dessa natureza devia ter. Mas o meu pai não estava interessado. Ele queria um sucessor, e foi assim que me tratou desde que nasci.

"Na minha juventude, eu tentei ser o sucessor que ele queria. Para agradá-lo, imagino, e tentar mais uma vez consertar as coisas entre nós. Mas isso não adiantou, especialmente porque eu não concordava com o lado obscuro da minha família. O lado que meu pai mais prezava. Por isso, tentei deixar essa vida de lado e me rebelei contra meu pai. Foi nessa época que abri a Eclipse. - explicou ele e continuou: - Mas, como tudo relacionado a meu pai e ao mundo a que a família Sullivan pertence, você não pode simplesmente decidir cair fora. Meu pai me cercou, como pôde, para me fazer ser o que ele queria. Eu resisti, mas, então, decidi iniciar meu próprio jogo e fingir que era o que ele queria. Fingi que faria o que ele queria, mas, na verdade, eu planejava acabar com nossos negócios ilegais. Deu certo, até... - Ele fez uma pausa, lembrado-se. Os olhos tornaram-se escuros, sombrios e atormentados. Quando ele a fitou, Lana viu tristeza por trás do perigo e da frieza na expressão dele.

Inconscientemente, ela deu um passo à frente, na direção dele.

- O que aconteceu? - perguntou Lana, a voz não mais que um sussurro.

- Cheguei um dia em casa - Malcolm começou a responder, o olhar distante. - e encontrei meus pais discutindo no escritório. As vozes dos dois estavam alteradas. Foi isso, na verdade, que me fez chegar perto do escritório. Eu nunca tinha ouvido minha mãe alterar a voz, por mais furiosa que ela estivesse. Mas, naquele dia, ela estava gritando. Acho que ela havia chegado ao próprio limite com o meu pai. O casamento deles não era feliz. - explicou.

Lana já sabia disso. Lembrava-se de obter a informação em uma conversa que tivera com Serena, na casa de Ellen e Phillip, durante o brunch na mansão.

Ela cruzou os braços.

- O que aconteceu?

- Ouvi a discussão entre os meus pais. Meu pai estava furioso, pois havia descoberto sobre o caso que minha mãe estava tendo com Phillip. É claro, ele se sentia traído e a culpava totalmente. Eu o ouvi xingá-la, mas o pior de tudo foi quando ele disse que devia tê-la punido mais vezes.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora