Capítulo Vinte e Oito

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Foram as trinta e seis horas mais longas da vida de Lana. Ela voltou para o lado de Malcolm, apenas para encontrá-lo no asfalto duro, inconsciente e muito, muito pálido. Ela não se lembrava de muita coisa do que acontecera ao seu redor. Só se lembrava do medo, um sentimento sufocante, que espreitava-a a todo instante.

Eles levaram Malcolm para um hospital. Phillip, o padrasto dele, cuidou do enteado e sobrinho, enquanto ela observou tudo com uma aflição e impotência torturantes.

Ela não sabia rezar direito, mas pediu, suplicou, mesmo assim, enquanto Malcolm estivera longe de seu alcance, numa mesa de cirurgia, lutando para manter-se ali, com ela, com Anthony. Com sua família.

Ele tinha piorado no trajeto até o hospital, perdendo muito sangue - tanto sangue, ela pensou - e também a consciência. Assim que chegaram, ele tinha sido encaminhado para o centro cirúrgico e passara horas intermináveis em uma cirurgia complicada.

Depois que acabou, veio mais espera. Uma espera terrível, sufocante.

Agora que essa espera tinha passado e que Malcolm havia respondido bem à cirurgia, Lana estava no quarto com ele. Ele dormia, a expressão suave, quase tranquila, enquanto ela esperava que o efeito da anestesia passasse.

Já haviam se passado trinta e seis horas.

Lana segurou a mão de Malcolm, acariciou-a suavemente. Sentia tanto medo e raiva pelo que acontecera.

Ele havia sido baleado pelo próprio pai. Ele havia sido baleado protegendo-a.

Entendia, agora, o que ele dissera quando ela tentara fazer o mesmo, na vez em que haviam sido perseguidos de carro. Era uma atitude tão estúpida. Mas era uma que Lana compreendia.

Se fosse ela, teria feito o mesmo por ele.

Era um impasse, percebeu Lana. Ela e Malcolm seriam capazes das mesmas coisas um pelo outro. Eles se amavam, afinal de contas.

Ela amava esse homem. Esse homem lindo, sério, carinhoso, atormentado e teimoso. Ela o amava. Completamente. E recusava-se a perdê-lo.

Lana apertou a mão dele, com cuidado.

- Por favor, Malcolm. Acorde.

- ~ -

Ele sentiu uma fisgada no ombro, tentou se mexer. Então tudo doeu. Todos os seus músculos, rígidos e doloridos, protestaram diante de um movimento que ele nem conseguiu completar. Ele tentou fazer uma careta de dor, mas nem o rosto parecia obedecer. Diante de seus olhos, via apenas escuridão.

Uma escuridão mesclada pela dor que se espalhava por seu corpo, como mil agulhas espetando-lhe os músculos, como brasa quente queimando sob sua pele.

Estava no inferno?

Em algum lugar da mente, em meio à névoa de dor e confusão, ele conseguiu pensar que a dor era um bom sinal.

Ele sentia dor. Estava vivo.

Aos poucos, o corpo foi relaxando, sua mente ganhando foco. Distante, muito distante, ele ouviu um som baixo, murmurado.

Era um som doce. Tão doce.

Não conseguia entender as palavras, mas o som o fazia esquecer da dor e concentrar-se em buscá-lo, encontrá-lo.

Ele tentou se mover, mas, novamente, o corpo não respondeu.

Então, concentrou-se mais uma vez no som.

Uma voz, conseguiu distinguir. Uma voz baixa, calma e confortadora. Junto com ela, sentiu um toque cálido em seu rosto.

O afago gentil espalhou-se por seu corpo, enviando calor e suavidade por seus músculos doloridos.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora