Capítulo Vinte e Nove

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Era véspera de natal. Lá fora, uma manhã gloriosa e gelada estendia-se, preguiçosamente, encontrando-se com a neve branca que cobria o chão, os galhos das árvores nuas e o telhado da mansão. Não estava nevando naquele instante, mas todas as previsões indicavam que isso aconteceria mais tarde.

Lana esperava sinceramente que a meteorologia estivesse certa. Se bem que apenas a neve no chão já lhe bastava. Ela amava o inverno: o frio, a neve, o sol fraquinho e as bebidas quentes. Apesar das árvores nuas e do completo branco em tudo, sempre adorara o modo como a estação modificava a paisagem. Havia uma beleza elegante e discreta no inverno, uma sensação de vastidão e paz, que sempre atraíra Lana.

Não era à toa que tinha escolhido aquela estação para se casar. Em algum canto da mente, sempre soubera que se casaria no inverno. E, apesar de que nunca tivesse acreditado muito, estava prestes a se casar com um homem que ela amava completamente - e um que a amava completamente.

Ela tinha tudo com Malcolm. Amor, paixão, amizade. Nunca procurara por esse amor - nem sequer imaginara que ele existia.

Mas aqui estava ela. Pronta para caminhar em direção ao homem de sua vida e viver seu próprio felizes para sempre.

A porta do quarto foi aberta e por ela entrou uma Ellen de expressão suave e sorriso meigo no rosto. Ela fechou a porta atrás de si e aproximou-se de onde Lana estava, encontrando os olhos da jovem através do espelho.

- Você está linda.

Lana sorriu, os lábios trêmulos, os olhos ameaçando ficar marejados. Sentiu uma pontada de tristeza ao pensar que não tinha sua mãe ali para lhe dizer aquilo. Ela sentia tanta falta da mãe. Era um vazio que jamais voltaria a ser preenchido. Entretanto, sentia-se feliz por ter uma figura materna como Ellen por perto. Uma figura que, pensou Lana, se importava verdadeiramente com ela.

Ela se virou para fitar Ellen.

- Estou nervosa.

- Deve estar mesmo. - Ellen piscou, o olhar cúmplice, e estendeu uma mão para afagar o rosto de Lana. - O que nos faz feliz nos deixa nervosas. Estou feliz por meu filho, Lana. Malcolm é um homem de sorte por tê-la encontrado. E você é uma mulher incrível por não ter desistido dele.

- Eu o amo. - disse Lana. - Jamais desistiria.

Ellen sorriu.

- E ele ama você. Estou feliz por vocês dois. E me sinto grata a você. Por isso, estou aqui. - Ela ergueu uma caixinha de veludo negro, que Lana só percebera agora que ela estava carregando, e fez Lana franzir o cenho. Diante da expressão intrigada, Ellen explicou: - É uma tradição em nossa família presentear as noivas, no dia de seu casamento, com uma joia.

- Eu já recebi a minha. - Lana ergueu a mão, exibindo seu anel de noivado. - Malcolm disse que era seu e você o cedeu. Obrigada. Eu adoro tradições. - Elas siginificam família, pensou Lana.

Ellen esboçou um sorriso sereno, que se transformou em um curvar de lábios misterioso.

- Além do anel, as noivas ganham outra joia. - replicou a matriarca dos Sullivan. Entendia, agora, o que o filho quisera dizer quando mencionara que Lana era difícil de dobrar. - Estou aqui para lhe dar a sua. - anunciou ela, os olhos verdes brilhando, animados e divertidos, como os do neto, quando Anthony estava prestes a aprontar uma travessura. Ela estendeu a caixinha de veludo na direção de Lana. - Espero que você goste. E lembre-se: é uma tradição.

Lana não entendeu porque Ellen frisara aquela última parte. Um pouco intrigada, ela aceitou o presente e, desfazendo-se do laço que envolvia a caixinha de veludo, abriu-a e prendeu a respiração quando avistou o conteúdo.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora