Malcolm recebeu o olhar perigoso de Carlo com um divertimento cínico. O outro estava tentando com afinco não parecer intimidado, mas Malcolm podia ver o modo como os olhos escuros e serpetinos vasculhavam a sala em busca de uma brecha, de uma saída de emergência. Quando não encontrou e deu-se conta do que a presença de Malcolm ali significava, Carlo contraiu o maxilar e o fitou com um misto de superioridade e medo.
- Você veio atrás da pessoa errada. - disse Carlo, a expressão arrogante. Sabia que, agora, sua camaradagem simulada não surtiria efeito no que dizia respeito a Malcolm.
- Eu acho que não. - replicou Malcolm, o tom tranquilo, quase entediado, e bebeu um gole de sua bebida. - Você e eu sabemos que começar pela pessoa errada pode ser um acerto. Porque, Carlo, eu tenho um pressentimento de que você vai me ajudar.
- Estou farto de ajudar você, Malcolm. Eu já lhe disse tudo o que sabia.
- Tudo o que sabia para me levar a uma pista falsa. - replicou Malcolm, calmamente. Os olhos, porém, tornavam-se escuros e perigosos a cada minuto. Ele odiava isso, mas, quando precisava ser um mafioso, fazia isso com todo o ódio e frieza que mantinha dentro de si. Para seus inimigos, dedicava tudo de ruim que pudesse haver dentro dele. - Eu tive uma conversa com o seu senhorio. - começou a explicar e ficou satisfeito ao ver o breve lampejo de surpresa nos olhos de Carlo. - Ele me foi bastante útil, sabe. Com algum incentivo, ele me forneceu várias informações interessantes.
- O que ele disse a você?
Malcolm esboçou um sorriso enviesado, mas, ao contrário dos que Lana considerava charmosos, esse era frio e ameaçador.
- Você sabe o que ele disse. - replicou e continuou: - Russo nunca esteve vivendo no seu edifício. Você pagou ao senhorio para confirmar isso, quando meu pessoal o procurasse. Para despistar, você me deu uma pista falsa.
Carlo manteve o queixo erguido, mas estava ciente da fúria que borbulhava por trás da expressão quase entediada de Malcolm. Sabia o que se escondia por trás daquela aparente tranquilidade fria e controlada. Já tinha visto o outro extravasá-la e, talvez algo tivesse mudado, mas tinha certeza de que as coisas não seriam boas para seu lado, caso permanecesse ali para permitir que Malcolm o subjugasse.
- Sabe, Malcolm. - disse Carlo. - Estou um pouco ocupado hoje. Tenho que resolver algumas pendências antes da festa de Amanda. O casamento dela é hoje, não é mesmo? Você devia estar se preparando também.
Malcolm moveu os ombros.
- Ainda há bastante tempo até o casamento. - replicou ele, colocando sua taça sobre a mesa sem fazer ruído. Tudo no lugar ao redor estava silencioso. - Temos muito tempo para conversar. Você vai me contar para quem está trabalhando, não vai, Carlo? - Ele cruzou os braços, o tom de conversa, e esticou as pernas. O gesto, amistoso; os olhos, ameaçadores.
Carlo arqueou uma sobrancelha e sorriu, tentando uma expressão desdenhosa.
- Quem disse que estou trabalhando para alguém?
- Eu estou dizendo. - replicou Malcolm, como se aquilo fosse óbvio. - Você não tem recursos, nome ou audácia para desafiar minha Família sozinho. Há alguém por trás disso, alguém para quem você trabalha, não alguém que esteja trabalhando para você.
- Você parece bastante confiante nas suas acusações.
- Sim. Isso porque você e Russo não são os únicos com delatores infiltrados na minha Família.
Pela primeira vez, Carlo reagiu abertamente, com surpresa estampada em seu rosto.
- Você colocou um delator aqui?
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Sombras no Sol
RomanceDuas realidades diferentes têm como pano de fundo o nascimento de um grande amor... Lana Evans tinha tudo para não acreditar naquele tal de felizes para sempre, dona de uma personalidade invejável, esconde um passado de rebeldia, devassidão e um se...