Capítulo Vinte e Seis

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Em termos de execução, o casamento Sullivan-Martin estava sendo perfeito. A troca de votos havia acontecido ao pôr do sol, como a noiva desejara, naquele momento do verão quando o céu fundia-se numa profusão de cores quentes. Apesar de estarem em julho, as sombras do fim de tarde proporcionaram um clima ameno, sem o calor sufocante dessa época do ano para atrapalhar o momento mágico.

Depois que Amanda e Justin prometeram amor e respeito eterno, foi a vez da festa. O encanto da decoração abrangia todo o espaço externo, de modo que a festa, assim como a cerimônia havia sido, era um passeio por um jardim encantado, cheio de mágica nos itens decorativos, as luzinhas e flores espalhadas pelas mesas e pérgulas, assim como pela comida e o belo bolo e os doces maravilhosos que Emily criara para aquela ocasião.

Com olhos de águia e uma preocupação quase maternal, Lana, "livre" após a cerimônia, transitava por todos os lados do jardim. Por um instante, ela considerou trocar o vestido de festa e usar seu terninho de trabalho. Mas desistiu da ideia quando percebeu que, apesar das roupas de convidada que usava, ela já tinha reputação suficiente para ser reconhecida como a responsável por aquele evento. Ela era abordada a todo instante para receber cumprimentos por seu trabalho e, porque não era modesta nem hipócrita, permitia-se sentir orgulho de si mesma a cada elogio que recebia. Uma pessoa podia trabalhar por prazer, porque gostava do que fazia, como ela trabalhava, mas isso não mudava o fato de que elogios eram bem-vindos e apreciados.

Mas, como nem tudo eram flores, além de transitar pela festa colecionando elogios, ela também tinha que lidar com inúmeros imprevistos ou problemas que surgiam ao longo do caminho. Até o momento, ela já tivera que lidar com um convidado alegre demais que quase botara fogo numa das pérgulas. O imbecil resolvera acender um cigarro perto demais da estrutura de madeira e quase fora queimado no processo. Mas, felizmente para o imbecil e para ela, as coisas haviam sido resolvidas sem a necessidade de acionarem os bombeiros.

Outro imprevisto ocorreu na entrada. Os seguranças haviam-na chamado para tratar de um casal que tentava entrar na festa usando um convite falso. Além de outros pequenos incidentes, como toalhas ou vestidos molhados, taças quebradas e uma convidada bêbada e desolada que chorara em seu ombro sobre o rompimento do noivado.

Mais que acostumada a esse tipo de acontecimento, Lana lidou com eles com a eficiência e profissionalismo que havia aprendido com Tereza, e que também vinha aprendendo na prática, ao longo dos eventos em que trabalhava.

O resultado ela podia ver nas pessoas se divertindo tranquilamente e na expressão feliz e satisfeita dos noivos.

Em algum momento durante a festa, Lana teve algum tempo para passar na mesa dos Sullivan e juntar-se a eles por alguns instantes. Como organizadora, ela sempre fazia isso mesmo. Gostava de se certificar de que seus clientes estivessem satisfeitos. Geralmente, nesses momentos, ela conversava com os pais da noiva ou do noivo, ou alguém da família que tivesse participando dos preparativos da festa. O fato de que os pais daquela noiva em especial eram também os pais do seu namorado era uma feliz coincidência. E uma que ela não ignoraria, nem amenizaria. Às vezes, bastava simplesmente aceitar a boa sorte.

De pé mesmo, com uma mão apoiada no encosto da cadeira de Anthony, ela conversava com Ellen sobre a festa e como estava indo tudo até o momento. Ao seu lado, com uma mão no bolso e a outra segurando uma taça de vinho, Malcolm alternava entre enlouquecê-la silenciosamente com meios sorrisos sedutores e conversar com Phillip. Serena e Daniel, assim como Ruth, estavam sentados à mesa, conversando entre si. Amanda a Justin dançavam na pista pelo que parecia a milésima vez.

Anthony apenas ouvia as conversas dos adultos, em silêncio, pois estava concentrado demais no prato de doces que tinha recebido permissão para comer. Naquela noite, ele havia decidido que adorava casamentos. Todo mundo estava tão feliz, tão distraído, que ninguém o recriminava por comer tantos doces. Embora o pai já tivesse lhe dito, mais de uma vez, que ele devia ir devagar senão ficaria com dor de barriga, Anthony sabia que o tom não fora de reprimenda. Era só um daqueles avisos que as crianças podiam ignorar. E ignoravam.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora