Capítulo Quatorze

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Os dias passaram voando. Sete meses atrás, Lana costumava trabalhar no horário normal e voltar para casa à noite, com a única ocupação de jantar e ficar no sofá assistindo televisão. Agora, continuava trabalhando no horário normal, mas quase sempre levava trabalho para casa e passava uma hora ou duas enviando e-mails ou revendo o planejamento dos eventos que estavam sob sua responsabilidade. O maior deles era o casamento de Amanda e, por isso, demandava bastante de seu tempo.

Quando não estava trabalhando na PW ou em casa, Lana estava com Malcolm e Anthony. Eles continuavam jantando juntos na sexta-feira à noite, no que se tornara uma espécie de tradição - tanto que Malcolm e Lana tinham as agendas limpas para poderem jantar com Anthony nesse dia. Nada de levar trabalho para casa na sexta-feira à noite. Esse era o momento dos três realmente terem algum tempo juntos.

Durante o resto da semana, eles costumavam se ver durante o horário de almoço, mas não era a mesma coisa almoçar em restaurantes cheios de gente, barulho e a correria do dia-a-dia. É claro, pensava Lana, era muito melhor do que apenas conversar com Malcolm e Anthony pelo telefone. Não gostava de ficar longe deles por muito tempo.

Eles faziam parte da sua vida agora. Ela já sabia que amava Anthony - tinha se dado conta disso desde que o resgatara da maldita Sandy, mas sentia isso desde a primeira vez que vira o menino com os olhos marejados e o olhar perdido. Anthony a conquistara desde aquele primeiro momento.

E o mesmo podia ser dito do que sentia por Malcolm. Podia não ter percebido, na primeira vez que o vira, quando ele surgira impaciente, preocupado e sombrio atrás do filho que ela encontrara, mas ela tinha sentido aquela corrente, aquela conexão, que a empurrava e a ligava a Malcolm com a intensidade de mil correntes elétricas.

No instante em que conhecera Malcolm, tinha sentido o efeito que ele causava. Mas só agora admitia o que isso significava.

Estava apaixonada por Malcolm.

E não era simplesmente uma paixão movida por desejo, tesão ou algo do gênero. Eles tinham isso também, mas o que acontecia entre eles era mais profundo, mais intenso, do que apenas necessidade física.

Tanto quanto amava Anthony, Lana amava Malcolm. Cada vez que o via, que conversava com ele, que faziam amor, o sentimento tornava-se mais evidente, mais presente.

Era tão bom se sentir assim que isso a assustava. Como alguém habituada, desde muito jovem, a desconfiar quando algo de muito bom lhe acontecia, ela vivia constantemente com a sensação de que, a qualquer instante, alguém puxaria o tapete dessa sua onda de sorte e felicidade.

E não era apenas uma sensação, pensou Lana, lembrando-se das ligações anônimas, das fotografias e, também, dos telefonemas do pai.

Era daí que vinha todo o receio dela.

Ela ainda não sabia o que pensar dos avisos anônimos, muito menos conseguia pensar numa forma de abordar Malcolm sobre isso e a carta com as fotos. Sabia que devia falar com alguém sobre aquilo e, apesar de não compreender o motivo, sentia que a pessoa com quem devia falar era Malcolm.

Aquilo o envolvia, afinal de contas. Envolvia toda a família Sullivan.

Mas Lana relutava em abordar a questão. Estava com medo do que descobriria. Ficar calada era uma escolha covarde - isso sem contar perigosa -, mas ela se sentia tão feliz no momento, com Malcolm, Anthony e os Sullivan.

Por mais que as fotos e os telefonemas a perturbassem queria prolongar seu mergulho na ignorância. Seu coração não poderia ser afetado por algo que sua mente não sabia.

Não era correto, porém, ignorar aqueles avisos anônimos e, agora, aquelas fotos. Mas ela ainda não estava pronta para revelações.

Quanto a Rupert e aos telefonemas dele, cheios de entrelinhas sobre como ele sabia sobre o passado dela e como seria uma vergonha se isso viessa à tona agora, Lana sabia que ainda podia controlar o pai. Enquanto conseguisse enviar dinheiro a ele, Rupert apenas continuaria a ameaçando.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora