Capítulo Um

31.8K 1.7K 116
                                    

Com o tablet em mãos e uma expressão concentrada no rosto, Lana Evans caminhou pelo salão de festas, verificando os últimos detalhes para a cerimônia de casamento daquela noite. Duas mesas sem as placas de identificação, as flores meio murchas do arranjo na mesa do bufê, as luzinhas falhadas na pérgula. Com a eficiência de uma promotora de eventos que estava no ramo de casamentos há três anos, Lana deslizou pelo salão enquanto registrava os problemas e já tentava providenciar os ajustes necessários. Discou alguns números no celular, deu uma ordem por sobre o ombro.

Quinze minutos depois, as placas estavam em seu devido lugar, a florista providenciara um novo arranjo, mais fresco e mais belo, e as luzinhas foram substituídas por delicadas e elegantes lanternas de papel.

Tudo estava indo bem.

Ela deixou o salão, onde ocorreria a recepção após a cerimônia de casamento, e foi para o jardim. O simples altar de vidro e seda estava impecável, bem como as cadeiras tinham sido arrumadas com os delicados laços dourados, conforme a noiva desejava.

Satisfeita, Lana voltou para dentro e foi esperar pela hora do casamento.

O evento daquela noite era o maior casamento que organizara até agora. O casamento Martin-Nolan tinha levado cinco meses de preparação, intermináveis reuniões com a noiva, horas de insônia pensando em ideias e outros pequenos ajustes. A noiva era exigente, embora tivesse ouvido e aceitado as propostas e sugestões de Lana com mente aberta. O tempo tinha sido relativamente curto, mas Lana se sentia satisfeita com o que conseguira fazer.

Sabia que uma de suas chefes na Pretty in White, a agência de festas de casamento na qual Lana trabalhava há três anos, havia lhe entregue aquele evento com a secreta esperança de que ela fracassasse. Não sabia exatamente porque sua chefe nutria tanta antipatia por ela, mas o fato é que Vivian Hamilton a detestava desde a primeira vez que a vira. Mas, como Vivian tinha uma sócia — uma que não detestava Lana —, não era como se ela pudesse simplesmente demiti-la. Por isso, Lana se sentia satisfeita e triunfante. Era tão prazeroso fazer um trabalho bem feito quando alguém desejava que ela fracassasse. Se pudesse, entraria no escritório de Vivian e dançaria a macarena na frente da chefe, para esfregar na cara dela seu sucesso. Mas, como isso não seria possível, ficaria satisfeita em devolver o ar superior de Vivian quando a encontrasse na segunda-feira.

Lana avistou os primeiros convidados se aproximando pelo caminho de cascalhos. Deixando os pensamentos sobre a chefe de lado, foi para a entrada a fim de se certificar de que tudo corresse bem.

Com um sorriso simpático e contando com a ajuda de sua equipe, ela recebeu os convidados e conduziu-os até o local da cerimônia.

Quando a noiva chegou, cada convidado estava bem acomodado. De seu canto no fundo, Lana assistiu a troca de votos entre os noivos e, quando a cerimônia chegava ao fim, esgueirou-se para o salão. Dez minutos depois, quando os convidados seguiram para o salão, tudo correu bem, como o planejado.

Com exceção de um momento, quando Lana foi chamada na recepção para resolver um problema com o bufê. Ela logo resolveu a questão, conversando com o cheff responsável pela comida.

Foi enquanto cuidava desse problema que avistou um menininho de olhar perdido transitando pelo hall de entrada da casa de festas.

— Obrigada, Javier. — disse ela ao cheff, afastando-se dele e observou o menino olhar de um lado a outro no corredor. Javier se afastou e ela foi em direção ao menino, imitando-o e olhando ao redor para ver se havia algum adulto por perto. — Olá.

O menino se virou e a fitou com os olhos arregalados. Ele tinha olhos verdes, como a grama saudável da primavera, e, no momento, eles estavam assustados e brilhantes de lágrimas.

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora