Capítulo Dez

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O salão do Hotel Hilton brilhava com o glamour do leilão beneficente. O evento de gala acontecia todo ano, na primavera e, além de existir por uma causa nobre, era também uma das festas mais esperadas da temporada. Os convidados, além de se vangloriarem por comparecer a um evento tão importante, aproveitavam para socializar, estabelecer novas parcerias comerciais, reencontrar sócios e, mais importante, espalhar ou ficar sabendo das últimas fofocas da temporada.

Em geral, Malcolm não comparecia a esse tipo de festa. O leilão era sempre uma exceção, pois sabia que era um evento importante tanto para a mãe quanto para o padrasto. Quando Ellen não estava cuidando da família, ela dedicava todo o tempo livre e esforço para obras de caridade.

Malcolm admirava esse lado da mãe e sabia que ela nem sempre contara com o apoio da família. O pai de Malcolm jamais aprovara o lado caridoso de Ellen, porque considerava obras de caridade uma bobagem. Perda de tempo, Malcolm lembrou-se de que ele dizia.

Felizmente, pensou, agora a mãe contava com o apoio de Phillip — que era, ele mesmo, um grande filantropo.

Na verdade, Ellen e Phillip haviam se aproximado por causa das tantas obras de caridade que tinham em comum.

Malcolm jamais se ressentira quando, aos quinze anos, descobriu que a mãe e o tio tinham um romance. Não conseguira culpar Ellen, como alguns filhos faziam, porque sabia o quanto ela era infeliz com seu pai. Nem mesmo se ressentira com o tio. Mesmo jovem, Malcolm sabia que Phillip era um homem infinitamente melhor que seu pai. É claro, a mãe e o tio tinham tido um caso e, aos olhos das convenções, isso era errado.

Mas, Malcolm ficava imaginando, o que seria mais errado: trair outra pessoa ou a si mesmo? Talvez o grande erro de Ellen tivesse sido não assumir o que sentia por Phillip e insistir em sua vida com o marido. Mas Malcolm sabia que ela tinha feito isso por ele e por Amanda. E porque tinha medo do que o marido poderia fazer com Phillip.

O pai de Malcolm era, afinal, um homem tão perigoso quanto ele era agora.

Malcolm caminhou pelo salão, vasculhando o lugar à procura de Lana. Encontrou-a na mesa dos Sullivan, conversando com Amanda.

Ela estava maravilhosa. O vestido longo, azul escuro, tornava a pele clara ainda mais delicada, deixando os ombros nus, fazendo os dedos dele formigarem, ansiosos por afastar os cabelos castanhos e sentir a pele macia e quente ali. Mais tarde, queria poder livrá-la daquele vestido e perder-se nas curvas delicadas e nos contornos esguios que a peça de roupa revelava.

Malcolm fechou as mãos em punhos, tentando conter a própria imaginação. Estava ficando difícil resistir.

Ele caminhou até a mesa de sua família e, quando encontrou o olhar de Lana, o sorriso descontraído que ela esboçava transformou-se em um curvar de lábios tão obscuro quanto o brilho nos olhos dele.

Minha nossa, pensou Lana, o olhar preso ao de Malcolm. O modo como ele a fitava seria capaz de colocar o hotel inteiro em chamas. Ela se sentiu ofegante, mesmo quando estava parada, e levou uma mão à barriga para conter a agitação que se instalara ali.

A agitação era uma companheira constante, desde que vira Malcolm pela primeira vez. Mas tinha que admitir que observá-lo trajando um smoking negro como a meia noite, aqueles ombros largos e braços fortes metidos na roupa formal, aquelas pernas caminhando num andar decidido, os cabelos desajeitados que — céus! — ela mesma queria desajeitar ainda mais, dobrava o rebuliço em sua barriga, causando um frenesi em sua pulsação.

Isso tinha que acabar, disse Lana si mesma. Não seria capaz de refletir se não tirasse um pouco daquele desejo de seu sistema. Seu corpo se aquietaria, não aquietaria, se ela cedesse e se permitisse envolver com Malcolm?

Sombras no SolOnde histórias criam vida. Descubra agora