Mergulho - Parte 2

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RONY


Quando já estava fora da vista espantada das náiades na água, comecei a retirar as pedras que recobriam o pequeno domo de rochas desmoronadas.

Finalmente, depois do que pareceram vários minutos, consegui adentrar na caverna de pedregulhos.

Assim que entrei, voltei a ficar parcialmente submerso no rio. O desabamento formara uma grande redoma, absolutamente coberta e sem nesgas de luz.

Apanhei a varinha que estava em meu bolso.

- Lumos.

Minha varinha iluminou o ambiente, ampliando-se ao redor de mim.

- Calíope?

Onde estaria a náiade líder? Eu não ouvia nada além de gotejamentos vindos das pedras e minhas pernas movimentando-se, submersas na água.

Finalmente, ouvi um sibilinho de dor vindo do fundo do canal de pedras.

Alguns galhos se destacavam em meio ás pedras, provavelmente arrancados e carregados pelo desmoronamento. Aquilo me deu uma ideia.

- Incendio!

Os galhos pegaram fogo, ampliando ainda mais minha visão.

O sibilo ecoou de novo, mais assustado do que feroz.

Finalmente, visualizei a silhueta caída e encolhida perto das rochas á beira do rio.

Quando me aproximei, mordi o lábio, arrepiado.

Um fragmento afiado de pedra se destacava para fora da perna da náiade, que estremecia de dor, parcialmente mergulhada na água. O sangue brotava do ferimento, tingindo a água de vermelho.

Eu sabia muito bem que aquela água não seria suficiente para mantê-la viva. Ela precisava voltar ao rio.

Cheguei mais perto, segurando a varinha.

VI os olhos de Calíope se fixarem em mim.

Podia ler a mistura de desespero e ódio em seu olhar.

"Vocês conseguiram... espero que estejam felizes."

Suspirei. Parecia que a ninfa ainda queria fazer picadinho de mim.

- Calma, Calíope.

VI-a se arrepiar, contraindo levemente o corpo – o que justificou a contração de dor em seu rosto, quando a perna traspassada se movimentou.

"Não diga meu nome!", ouvi a voz raivosa em minha cabeça.

Balancei a cabeça, finalmente chegando a menos de um metro dela.

- Pare com isso – revirei os olhos – eu só vim ajudar.

"Mentiroso!", ouvi-a gritar enquanto me encarava. Sua voz mesclava angústia e raiva quando continuou, virando o rosto para baixo. "Seja lá o que for fazer comigo, faça de uma vez. E me mate logo. Não quero ter que agüentar muito tempo."

- Céus, Calíope – ignorei quando ela fechou a cara para mim – você não ouviu? Eu só vou te ajudar. Por que acha que vou te fazer mal? Não vou matar você.

Seus olhos, brilhantes como esferas de ouro, voltaram a me olhar.

"Por que é isso que todos vocês fazem! Há séculos vocês fingem que vão ajudar meu povo, e tudo que fizeram foi se aproveitar de minhas irmãs e nos matar!"

A Esfera da Herança (A Saga da Lontra) - Temporada IVOnde histórias criam vida. Descubra agora