Um Mar de Dor

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HERMIONE


Naturalmente, eu não acreditei.

Nem quando fui ao Ministério ver meus pais, que estariam a partir de agora sob custódia do Ministério, morando com Harry e Andrômeda. Ouvir papai narrando sobre a explosão que acometeu nossa casa, mamãe afirmar com todas as forças que viu quando o incêndio começou... nada disso entrou em minha cabeça.

Nem quando Oliviene confirmou que, fosse quem tivesse atacado o imóvel, já havia desaparecido sem deixar pistas.

Tudo pareceu irreal e insano o suficiente para que eu, por dentro, ficasse o tempo todo só imaginando que aquilo era uma brincadeira, em que Becky aparataria do nada, como sempre fazia, e perguntaria de novo: "eu assustei você, menina Granger?"

O pesadelo finalmente virou realidade, quando cheguei à minha rua e vi os destroços do que um dia fora meu lar.

Uma magia ao redor do terreno parecia impedir que trouxas simplesmente percebessem nossa presença. Havia aurores do Ministério em cada canto, parecendo cuidar das memórias de prováveis testemunhas, extraindo-as e colocando outras em seu lugar.

Rony manteve-se ao meu lado o tempo todo, parecendo tão incrédulo quanto eu.

O auror que analisava a casa assentiu quando me viu, erguendo o braço para que o colega novato não me barrasse.

- É a Juíza. Stark a liberou para ver o terreno.

Entrei onde antes era a porta da frente, olhando perdidamente para o primeiro andar que simplesmente desabara no térreo.

Papai dissera que só tivera tempo de salvar nossas fotos, enchendo os braços de porta-retratos enquanto fugia correndo...

E ninguém vira o rosto ou o corpo do criminoso.

O piano jazia destroçado na sala de estar, ao lado da televisão que se despedaçara em vários cacos de vidro e fios elétricos.

Fora nele que eu aprendera a tocar meus primeiros sonetos, quando era menina... vê-lo destruído me fez finalmente arfar.

Meus livros e tudo que despencara do meu quarto estavam ali também, envolvidos por destroços de cimento e tijolos. Puxei minha coleção de contos dos Grimm, completamente chamuscada, de dentro de um buraco, tentando em vão tirar a fuligem de suas páginas.

A perda material só não fora maior por que grande parte das minhas coisas havia ficado sem segurança na Toca, incluindo minha aliança de noivado.

Porém, meu desenho do Jack Russel não tivera a mesma sorte.

Rony abaixou-se para pegar o papel rasgado, onde ainda se distinguia o focinho pontudo e os olhos exageradamente azuis do cachorrinho.

Ele me inclinou a folha, mas eu balancei a cabeça.

- Pode guardar.

Um dos aurores me chamou repentinamente, fazendo gesto para que eu me aproximasse.

- Fizemos uma redoma ali – ele indicou o quintal dos fundos – pode ir lá... vamos deixá-los á sós. Pedirei que não os incomodem.

- O que... – murmurei, confusa.

Rony apertou minha mão quando entendi.

- Não quero ir lá – guinchei, sentindo meus olhos arderem, enquanto Rony me puxava em direção á um domo negro que surgia em meio á grama.

A Esfera da Herança (A Saga da Lontra) - Temporada IVOnde histórias criam vida. Descubra agora