Renascer

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RONY


Eu já não sabia mais qual era o limite entre sonho e realidade.

Quando abri os olhos e reconheci a cama de dossel da Sala Precisa, minha primeira conclusão foi pensar que ainda estava sonhando.

Por que a noite anterior havia sido tão irreal, tão fantástica... não podia ter realmente acontecido.

Mas quando desci o olhar e focalizei-o na figura enroscada em meus braços, a verdade desabou em mim, ao mesmo tempo sufocante e maravilhosa.

Havia sido real.

Fechei os olhos, rememorando aquela noite inesquecível. Um arrepio de embaraço e satisfação disparou por meu corpo quando me lembrei de cada momento.

Contra toda a sanidade e probabilidade possível, num momento ao mesmo tempo tão inadequado e tão razoável, aquela garota incrível havia confiado em mim o suficiente para me permitir mais aquela loucura.

A hesitação e o medo que haviam me corroído até antão se dissolveram completamente. Meu bom senso gritava que talvez não fosse certo. Estávamos tão vulneráveis, e tudo que acontecesse poderia ser apenas fruto de nosso desespero em expurgar os terrores que ainda se apoderavam de nós dois.

Mas, por mais que eu ainda pensasse naquilo como uma insanidade, eu podia sinceramente dizer que não estava arrependido.

O fato é que não foi uma opção. Fora uma necessidade... e, pelo visto, não apenas minha.

Desde que havíamos saído do Ministério, eu havia me enclausurado num estado de torpor, como se aquilo fosse apenas da minha imaginação, onde eu tentava esconder a verdadeira realidade. Esperava finalmente acordar e descobrir que não havíamos saído. Que Helen vencera... que Hermione estava morta.

Tudo contribuíra para que uma angústia crescente se apoderasse de mim. A presença de Hermione ao meu lado parecia tão fácil de escapar... tinha visto – embora negasse querer ver, com todas as minhas forças – o quanto a vida podia ser frágil.

E o único modo de exterminar aqueles fantasmas dentro de mim parecia me convencer de que Hermione estava viva. Sentir sua pele em mim, sua boca na minha, absorver o calor e a palpitação e sua vida em meus braços.

Havia, naturalmente, ficado apavorado. Não sabia se estava preparado para nada assim.

Mas, pela primeira vez, agradeci por meu corpo ter me dado as respostas.

E foi tão bom. Tão lindo. Nada parecido com os quadros dramáticos ou pervertidos que eu já ouvira sobre aquilo. Havíamos nos unido com uma harmonia quase solene, como se tivéssemos nascido para estar nos braços um do outro.

E pude ver Hermione como ela realmente era. Ali, não estava mais a sabe-tudo adoravelmente irritante. Tampouco a Wicca régia e profunda que me inspirava tanta admiração. Era ela mesma, uma garota que era tão corajosa e durona por fora como podia ser carinhosa e frágil por dentro.

Senti meus olhos arderem bobamente, pensando em como eu podia ter perdido aquilo... ter perdido nós... e tudo por causa de tantos erros que havia cometido.

Eu sabia que ali, colada ao meu corpo, estava a única razão para que eu desejasse viver. Ali estava minha vida.

E o que havia acontecido só me aumentava a certeza de que, sim, aquele era meu destino... estar ao lado dela.

Sorri, absorvendo a sensação de sua pele em contato com a minha.

Eu nunca havia percebido o como o corpo de Hermione parecia pequeno quando estava encolhido. A ideia me fez dar uma bufada de humor.

A Esfera da Herança (A Saga da Lontra) - Temporada IVOnde histórias criam vida. Descubra agora